As Crónicas de Opinião assumem desde 2012, uma posição de grande destaque no Portal 100% DJ, graças aos rostos convidados com presença não só na nightlife como também na música eletrónica. 
 
Não querendo fugir ao compromisso de oferecer qualidade ímpar aos nossos leitores, este ano a aposta foi ainda mais robusta e exigente no que diz respeito ao novo painel mensal de cronistas que prontamente aceitaram o nosso convite - motivo de grande orgulho e satisfação para nós.
 
A grelha de 2015 irá contar com o regresso das assinaturas de Ricardo Silva, responsável pela D-World Management, da DJ e comunicadora nata Mariana Couto e da Brand Manager da Agência WDB, Sónia Silvestre - que no seu último artigo (dezembro) abordou o sucesso holandês, que já não passa despercebido a qualquer um.
 
Uma das novidades para este ano nas lides da escrita de opinião é a estreia de Nelson Cunha, Diretor de Programação da Mega Hits, rádio que nos últimos anos tem vindo a vincular a sua forte aposta na música eletrónica em várias vertentes. Hugo Rizzo, DJ e produtor, que no ano passado colaborava com artigos de diferentes temáticas, terá agora o seu espaço de opinião também neste painel.
 
Carlos Manaça, um dos mais reconhecidos DJs a nível nacional, é outra das novas caras que aceitou este desafio e irá presentear os seus seguidores e os leitores do Portal 100% DJ com as suas palavras.
 
Em baixo poderás conferir todas as crónicas escritas o ano passado por Rita Mendes, Massivedrum, Eddie Ferrer, Ricardo Silva, Mariana Couto, Sónia Silvestre e DJ Rusty.
 
 
Publicado em 100% DJ
sexta, 09 fevereiro 2018 21:24

Recap da música electrónica

Um novo ano começou e aceitei, mais uma vez, o convite da 100% DJ para deixar alguns artigos de opinião para os leitores/utilizadores deste portal que tem prestado um serviço de informação isento e de qualidade sobre a indústria da música electrónica em Portugal. 

Não tenho a presunção de achar que sou um conhecedor profundo ou um "visionário" do que se irá passar no futuro mas lanço o desafio a quem não leu artigos de opinião anteriores e publicados neste portal para que percebam um pouco que há sinais que surgem e que quem trabalha neste meio consegue sentir e prever mudanças e que na altura foram alvo de imensas críticas. 

Tive o privilégio de assistir ao início do aparecimento da música electrónica em Portugal e aos primeiros DJs que ousaram agarrar nos "martelinhos" e fazer uma carreira. Sinto a tristeza inerente de ter visto muitos deles desaparecer devido ao aparecimento das novas tecnologias, ao "facilitismo" da produção musical onde tudo passou a ser "informatizado" e as "máquinas" foram metidas para um canto e onde um PC, um teclado e uns programas informáticos bastam para que saia uma obra musical. 

Na ultima década assistimos a uma autêntica "epidemia" de novos DJs e produtores musicais que julgaram que tinham encontrado o "El Dorado" na música electrónica. 

Deixo uma pergunta: 
- Onde estão 80% desses DJs que apareceram do nada e desapareceram mais rápido do que surgiram?

Poucos, muito poucos, são os DJs que surgiram nos últimos cinco anos e que continuam no mercado. Apenas permaneceram aqueles que souberam adaptar-se às mudanças (leiam os artigos anteriores que mencionei) e outros que souberam profissionalizar-se. Continuamos a ter os "velhinhos" e aqueles que fizeram uma carreira (mais de 10 anos no mercado) como referência e a manterem a indústria em movimento por um único motivo... quiseram uma carreira e deram atenção ao mais importante - A Música. 

A música electrónica (seja qual for o estilo) não é diferente de outro tipo de música qualquer. Tivemos o "boom" da Kizomba e assistimos à sua queda. Temos agora o Hip Hop em alta  e que está a cometer o mesmo erro que a Kizomba. Tenho a certeza que daqui a uns anos vamos todos olhar para trás e só conseguimos lembrar-nos de meia dúzia de nomes que marcaram estes estilos e que vão continuar no mercado no futuro. Façam esse exercício para a Kizomba e vejam se conseguem dizer 10 nomes de artistas portugueses ou que estivessem no mercado português, quando foram mais de uma centena que percorreram palcos e clubes deste país. 

A música electrónica sofreu (está a sofrer) o mesmo "problema". Está a haver a triagem natural do mercado. Quer pela qualidade, quer pela "oferta vs procura". 

Olhem para esta indústria como um negócio, para vocês como um produto e para música como arte. Só assim poderão ter sucesso. Querer vender arte (leia-se múisica) sem a divulgar, dificilmente haverá quem a queira comprar. Tenham um produto (leia-se DJ + Música) que seja apetecível ser adquirido e para isso é preciso olhar para a indústria como um negócio. 
Se não pensares desta forma ou quiseres apenas ser "um artista", lembra-te que os maiores artistas só tiveram reconhecimento depois de falecerem... 
A escolha é tua...
 

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
domingo, 05 novembro 2017 21:31

A noite de novo em prime time

Mas qual Urban Beach? O problema não é de hoje nem de ontem. Foi, é e será sempre, apenas e só o "K"!
 
Começo por esclarecer, que discordo totalmente e considero inadmissíveis alguns dos actos que vi por parte de alguma da segurança da casa mas, também estou longe de conhecer toda a verdade pois, garantidamente que tudo isto aconteceu fruto de muita coisa.
 
Infelizmente, a noite não é segura e não o é por uma razão simples. À volta de quem sai tranquilamente para se divertir, existe quem saia apenas e só para arranjar problemas, quem saia para roubar, quem saia para alimentar grupos de conflito e tudo, sem a polícia se encontrar nas redondezas; é mais fácil e menos complicado estar em operações Stop na caça à multa! Mas, manda quem pode, obedece quem é esperto e também os polícias acabam embrulhados num problema que não é deles.
 
Ao longo de duas vidas, provavelmente somados, pelo menos sessenta anos bem intensos, apenas registei um problema com a segurança e esse, foi prontamente resolvido pela dita segurança no local e no mesmo dia. Para ser respeitado, é preciso respeitar e essa, é a regra de ouro que cada vez alimenta menos gente que por aí anda.
 
Há bons e maus profissionais, sejam eles seguranças, empresários, barmans, djs ou outros, tal como, existem bons e maus clientes e até, clientes que servem para um mas, não servem para outro espaço. Não raras vezes, tudo isto, é bizarramente conotado com racismo ou sectarismo mas, meus caros, no Palácio de Belém apenas dorme o Presidente e quem ele bem entende e para usufruir da Assembleia da República, é preciso fazer parte da corja reinante ou então, só passando pela revista e de Cartão de Cidadão na mão. Não somos todos portugueses? Não deveríamos todos poder ir à cantina da AR?
 
O "K" por desde sempre ter definido padrões, regras, ideias e formas, por nunca se ter escondido de assumir pretender ser, ter e fazer o melhor, sempre seleccionou e isso, naturalmente que foi provocando e continua a provocar uma profunda dor de corno a quem não está dentro dos padrões por eles definidos. É traumático, imagino que seja mas, é a tal democracia a funcionar. Ou não? Serei eu obrigado a abrir o meu investimento a quem não quero? Não me parece!
 

Ao contrário do que a maioria pensa, a segurança não é gratuita, custa muito dinheiro a uma casa (...)

 
Nos últimos anos, não raras vezes vi situações em que, sem um segurança é impossível uma rapariga chegar ao seu carro sem ser importunada e como polícia não há, lá vão sendo enviados os seguranças da casa. Estaladões no meio da rua a miúdos já vi muitos e sempre, por grupos de animais, que por um telemóvel é capaz de tudo.
 
Ao contrário do que a maioria pensa, a segurança não é gratuita, custa muito dinheiro a uma casa, é mais uma área delicada a controlar... tem que se lhe diga! Porém, sem ela, garantidamente que cada discoteca seria uma selva, onde imperaria a lei das matilhas mais fortes e nada mais.
 
No dia em que nos deparamos com esta triste história à porta do tal "Urban Beach", em Coimbra, dois selvagens em pleno dia desfazem um bom samaritano de forma bastante mais barbara em plena rua. Fecharam os MacDonalds do país? Abriram Telejornais com eles, foram para o Facebook vociferar? Algum Ministro veio teorizar? Claro que não, a história é o Urban, a azia é o "K" e foi por isso, que tudo o que é paineleiro tudo fez para se meter no assunto. O Urban tem 38 queixas? E quantas tem o Metropolitano? É só tentar perceber a proporcionalidade, não esquecendo, que nos Urban's bebe-se álcool e é por norma, onde o João se atira à Clara que é namorada do Manuel... e repito, não há polícia!
 
Com e sem geringonças, todos meteram a foice em seara alheia mas, alguém se preocupou com a verdade, com as razões, com o que se passa noite a noite país fora! Todos falam do que não sabem e isso, é triste e caricato.
 
O Urban é mau? Come criancinhas? É provável que sim mas, é a casa que os mais novos preferem na cidade de Lisboa. Será, que é por ali chegarem e serem muito mal tratadas? Será esta, uma geração masoquista? Duvido!
 
Este é um problema de polícia, quem abusou, certamente será julgado e condenado dentro das razões que existirem para isso já que isto não é um caso de lesados do BES. Os ditos seguranças estão devidamente detidos, os dois "doutores" de Coimbra, à solta! Dois pesos e duas medidas.
 
Para ser franco, a quase totalidade dos comentários metem-me nojo, sinto neles de imediato repulsa, por neles rever traumas privados de muita gente que, em bicos de pés, aproveita para ladrar em regime de vingança pacóvia. É o que temos! 
 

Depois dos resultados da irresponsabilidade do Estado nos incêndios deste ano, a irresponsabilidade da falta de polícias à porta dos espaços nocturnos mantém-se vinte anos depois.

 
Lentamente, da melhor noite da Europa em 1994 para a catástrofe que se vê hoje passaram apenas vinte e tal anos e houve, quem previsse este desfecho, ele aí está.
 
Quanto à famosa PSG, terá certamente bons e maus profissionais, terá mais ou menos culpas no cartório e penso, pelas medidas agora tomadas no Urban Beach que metade dos bares do Bairro Alto irá também fechar ou talvez não, pois por aí, continua tudo a levar bom tratamento, não têm K!
 
Depois dos resultados da irresponsabilidade do Estado nos incêndios deste ano, a irresponsabilidade da falta de polícias à porta dos espaços nocturnos mantém-se vinte anos depois. Será assim tão difícil perceber, que hoje, sair de uma discoteca sem um segurança às 5 da manhã é um risco de alto calibre por culpa dos políticos que temos que apenas souberam legislar para o pagamento de direitos, direitos conexos e sei lá que mais direitos!
 
Mais uma vez, o "K" está na dança e pelo que vejo, não faltam idiotas a opinar e certamente que a grande maioria movida por outros interesses ou traumas.
 
Este, para mim, é apenas e só mais um caso de polícia. Tudo o resto que tenho lido, é apenas e só de lamentar.
 
Miguel Barreto
Publicado em Nightlife
domingo, 17 fevereiro 2019 23:28

Os ciclos

O que podemos esperar de 2019? 
Um novo ano entrou e a apreensão que sentimos no seio da indústria da musica electrónica em Portugal é evidente. 
Em 2017, num dos artigos de opinião que escrevi para a 100% DJ, fui criticado quando afirmei que estávamos "a chegar ao fim do EDM". Hoje, é claro para todos que o EDM (electro, progressive, big room) está em queda e a adaptar-se a um novo ciclo.
Poderia fazer um exercício com cada um de vós para encontrar motivos e justificações, mas não existem. 
Tudo tem um ciclo, "sai de moda" e tem uma ascensão, pico e declínio. 
É certo que os estilos a que chamamos EDM (erradamente, porque EDM é uma sigla que abrange toda a música electrónica) não irão desaparecer, simplesmente deixarão de ser a principal referência para os amantes da Dance Music, e produtores e DJs terão de adaptar-se, reinventar as suas produções e actuações ou optar por manter o seu registo e identidade, tendo a noção que irão trabalhar para "um nicho de mercado", tal como outras sonoridades mais "clubbing" tiveram de fazer e "aguardar". 
 
Talvez esteja errado mas não consigo imaginar o aparecimento de nada de novo na música electrónica. Poderá aparecer algo "criativo" com alguma fusão de estilos, mas coloco muitas dúvidas que apareça um "Dubstep, D&B, Hard Style ou uma variação da House Music" que consiga afirmar-se como "novo ou inovador". Estou convicto que os ciclos serão cada vez mais rápidos e passageiros, tendo as diferentes sonoridades um nicho muito próprio de seguidores. 
 
Então e em Portugal? 
Portugal não é diferente e assistimos neste último ano ao desaparecimento de dezenas (para não dizer centenas) de DJs e produtores, sendo cada vez mais difícil a afirmação de novos talentos sem terem um elevado investimento financeiro que lhes permita ter uma equipa, meios de comunicação e marketing e uma rede de contactos que os acompanhe e catapulte para o mercado. 
Em termos de sonoridades também não somos diferentes do resto do mundo. 
Há um claro regresso das vertentes mais "House", o Techno está em novo crescimento e as sonoridades com vocais (letras completas) ocuparam o espaço do que antigamente chamava-mos de "comercial". 
O mercado (leia-se pessoas/consumidores) é e sempre será quem tem a última palavra e tudo o que julgamos prever ou ter certezas, não passa de uma leitura dos sinais que o mercado vai dando. 
 
Termino este primeiro artigo de opinião de 2019 com uma palavra para a 100% DJ, a quem parabenizo por mais um ano e agradeço o convite para continuar esta longa parceria/participação. 
Publicado em Ricardo Silva
quarta, 25 novembro 2020 09:06

Uma (CO)vida difícil de compreender...

É realmente muito complicado compreender e aceitar o momento pelo qual estamos a passar. Nove meses de indefinição em relação a tudo o que tenha a ver com as nossas vidas, pessoais e profissionais, nove meses subjugados a uma indiferença quase criminosa da parte de quem nos governa e um desprezo absolutamente insultuoso, no mínimo, por um sector que tanto deu ao nosso País. Como eu próprio, vejo colegas em grandes dificuldades, estabelecimentos a fechar, empresários desesperados por soluções que não chegam, a noite a ser cada vez mais uma lembrança que se desvanece num mar de memórias que parecem cada vez mais nubladas. É triste tomares consciência que após anos a tentar dar o melhor de ti ao teu País, incondicionalmente, quando pela primeira vez realmente precisas dele te apercebes que apenas serves para dar, mais nada. Quando num universo de 100%, tens conhecimento que apenas 2% das infeções deste maldito Vírus são em contexto nocturno, e mês após mês apenas vais tendo conhecimento que as medidas mais apertadas são continuamente para a Restauração, começas realmente a pensar que algo se move contra tudo aquilo pelo qual acreditaste e deste a tua vida durante anos a fio, suportando as cargas fiscais absurdas, condições de emprego absolutamente deploráveis, noites mal dormidas, viagens incontáveis, vida pessoal inexistente, enfim, tudo aquilo que fez com que Portugal seja cotado como um dos melhores destinos turísticos do mundo. DJs, músicos, bartenders, chefs de cozinha, actores, artistas dos mais variadas artes e muitos mais, todos nós sempre levámos o nosso País no coração para todo o lado, quer fosse para o bar do amigo ou para o melhor festival do Mundo. Somos pequeninos mas somos muito lutadores, um país de guerreiros, infelizmente comandados por um bando de cobardes.
 

Será que tinha custado muito pelo menos ter dado uma palavra de conforto, no meio destes nove meses que se passaram, a profissionais que tanto se sacrificaram por esta pandemia e que de quinze em quinze dias ficavam a olhar para a televisão apenas para ver se as palavras "bar" ou "discoteca" saíam da boca de um Primeiro-Ministro arrogante que se recusava quase sadicamente a mencionar estas duas palavras, de um momento para o outro tão mal vistas no nosso país?


Não percebo o sentido de ter a noite fechada antes mesmo de começar, não percebo o sentido de decretar um fim-de-semana de confinamento geral mas só após as 13h, não percebo o porquê de não nos deixarem trabalhar quando somos o sector que mais cuidados tem com a desinfecção de espaços, apenas provavelmente ultrapassados pelos Hospitais. Será que tinha custado muito pelo menos ter dado uma palavra de conforto, no meio destes nove meses que se passaram, a profissionais que tanto se sacrificaram por esta pandemia e que de quinze em quinze dias ficavam a olhar para a televisão apenas para ver se as palavras "bar" ou "discoteca" saíam da boca de um Primeiro-Ministro arrogante que se recusava quase sadicamente a mencionar estas duas palavras, de um momento para o outro tão mal vistas no nosso país? E como ficaram as milhares de pessoas que, de um momento para o outro, viram um País virar-lhes as costas como se fosse deles a culpa de uma situação da qual muito provavelmente são os menos culpados? Será bastante pertinente relembrar a quem tem a memória curta que o sector nocturno foi o primeiro a fechar no início desta Pandemia, e por iniciativa própria, convém não esquecer. Corta-me o coração que sejamos tratados como criminosos apenas porque queremos trabalhar mais uns minutos, apenas porque quem teve o poder de determinar como nos é permitido levar as nossas vidas acha que de um minuto para o outro, as coisas podem correr mal. A grande diferença é que para nós, um minuto a mais é mais uma possibilidade de conseguirmos sobreviver, sim, porque é a isso que se resume tudo isto, sobrevivência. 

Que culpa temos nós que a esta Pandemia se junte uma guerra económica, social e absolutamente monopolizadora daquilo que são os nossos direitos fundamentais, que nos foram tirados sem qualquer tipo de explicação lógica? Que fique claro que eu, como todos os meus colegas, temos consciência que esta é uma guerra, é realmente perigosa e que tem que ser ganha por todos, mas terão que ser sempre os mesmos a serem lançados para a linha da frente? Que culpa temos nós que não haja controle nos transportes públicos ou que os lares tenham uma incidência de infecção assustadora? Que culpa temos dos ajuntamentos ilegais que tantas manchetes fizeram neste Verão? Que culpa temos nós da falta de pulso e coragem para evitar situações como festivais ou comícios políticos absurdos numa altura destas, comemorações religiosas, avistamentos de ondas, ou corridas de carros apenas porque não é conveniente politicamente? E como ficamos agora, já que não têm a quem culpar pelo aumento dos números, será que haverá uma ínfima possibilidade de tudo isto ter sido mal gerido e que a culpa possa ser também vossa, vocês que nunca se enganam? É que no meio de tudo isto que se passou neste últimos nove meses continuamos nós, seres humanos que apenas querem trabalhar, seja em que circunstâncias forem, para que possamos ter condições para viver, podermos alimentar as nossas famílias, os nossos filhos, termos uma vida minimamente digna.
 

Fiscalizem, sejam duros, confinem, façam o que for preciso para travar este vírus, mas façam-no de igual modo para todos, desde o cidadão que vai passear o periquito como desculpa para sair à rua, ao político que pensa que está acima da lei e organiza comícios ridículos e sem sentido apenas porque lhe é permitido.


Fiscalizem, sejam duros, confinem, façam o que for preciso para travar este vírus, mas façam-no de igual modo para todos, desde o cidadão que vai passear o periquito como desculpa para sair à rua, ao político que pensa que está acima da lei e organiza comícios ridículos e sem sentido apenas porque lhe é permitido. Não estejam sempre a castigar aquele que já está no chão, pisado e quase sem capacidade para respirar. Não deixa de ser irónico, um sector que vivia de proporcionar diversão a todos, seja o que menos vontade tem de sorrir actualmente, mas a vida é feita de injustiças, a isso estamos habituados. Ao que não estamos habituados é a sermos ostracizados e discriminados de uma maneira inaceitável e inexplicável. Pensava que já tínhamos passado essa fase há uns bons anos atrás. Só queremos trabalhar, dentro dos moldes que forem seguros para nós e para os nossos clientes, estamos dispostos a tudo, como aliás temos feito no pouco tempo que nos é permitido fazê-lo. Digam-nos, por favor, um sector que tenha investido tanto na segurança, que seja tão profissional na abordagem à pandemia e a todos os cuidados que se devem ter com o seu controle. Preocuparem-se com os cafés, pastelarias e outros é obviamente de louvar, manter-nos fechados e fazerem-nos passar pela humilhação de apenas podermos trabalhar se alterarmos um CAE soa a escárnio. Somos profissionais qualificados, dos melhores do mundo, ganhamos prémios internacionais, e até disfarçados temos que estar para podermos trabalhar? Assim já não faz mal?

Que País é este que despreza o que de tão bom tem apenas porque não tem a quem culpar relativamente a uma situação da qual ninguém tem culpa? Estamos aqui, queremos trabalhar, a horas decentes para o nosso sector, estamos dispostos a tudo, olhem para nós e digam-nos como querem que o façamos mas não deixem a Indústria Nocturna morrer, porque se continuar assim é o que vai acontecer. 

À hora que escrevo esta crónica preparo-me para viajar mais de 200 quilómetros, não para trabalhar, como tantas vezes fiz, mas para me ir juntar aos meus colegas para juntos lutarmos pelos nossos direitos, algo que pensava que nunca mais iríamos ter que fazer após o 25 Abril. Apesar de tudo irei com todo o gosto e mais forte que nunca, porque apesar de tudo, tal como esses mesmos colegas, sou Português, daqueles a sério, que lutam, trabalham e olham uns pelos outros porque isso nunca ninguém nos vai tirar, até porque enquanto não nos derem ouvidos, estaremos aqui para vos dar luta.
 
Carlos Vargas
Publicado em Carlos Vargas
terça, 15 junho 2021 22:56

"Tudo Parece Perfeito"

Confesso que me foi extremamente difícil escrever esta crónica. O meu primeiro impulso foi escrever sobre a situação actual dos vários sectores ligados à música, aos eventos, às actuações ao vivo, mas tudo isso já foi comentado (e bem) pelos meus colegas cronistas.

O tema da minha crónica é outro. É sobre uma história de superação e motivação de um colega DJ que muito me (nos) tem ajudado a superar esta nova realidade que estamos a viver desde Março de 2020.

Desde que soube do estado de saúde do Magazino (para mim Costinha, a quem conheço há muitos anos) que temos estado mais em contacto do que aquilo que a nossa rotina anterior, com "gigs", permitia. 
E a verdade é que ele, apesar de todos os problemas de saúde que está a ter, é uma contínua motivação para mim e para muitos outros.

Mesmo passando por tudo aquilo que está a passar, ainda tem força para nos enviar mensagens de motivação no grupo de WhatsApp criado por ele para nos animar, para que nós, DJ’s e músicos que estamos sem trabalhar há 15 meses (!) não baixemos os braços, para que tenhamos paciência. Coisa que muitas vezes é difícil tal a incompetência e incoerência de quem nos governa...

Sua foi também a ideia de fazer o documentário "Tudo Parece Perfeito", com vários DJ’s e produtores Portugueses, de várias gerações, sobre aquelas histórias caricatas, dos bastidores, que aconteceram (e ainda acontecem) na nossa carreira, realizado e produzido pelo realizador Gonçalo Almeida.

No "teaser" que gravámos ouvi muitas histórias que prometem um grande documentário, com muitos episódios curiosos que vão mostrar que, no dia-a-dia de um DJ, muitas vezes o que parece uma vida de sonho, na realidade tem um outro lado que não é tão glamoroso e que é muito exigente.

Certamente que o Magazino tal como DJ Vibe, Rui Vargas, Moullinex, Gusta-vo, Yen SungDiana Oliveira e Violet têm imensas histórias para contar. São muitos anos de carreira, muitas horas de música, muitos "gigs", que certamente originaram muitas histórias que merecem ser conhecidas. Histórias essas que vão mostrar esse outro lado da nossa profissão e de certeza fazer-nos rir.

Eu já comecei a escrever e a compilar alguns dos meus episódios mais caricatos para a gravação final e posso garantir que tenho muitas histórias para contar, desde o início da minha carreira profissional, em 1986. Nestes 35 anos houve muitos e bons episódios que nunca vieram a público e que vou partilhar convosco neste documentário.

Para todas as informações sobre a evolução da produção de "Tudo Parece Perfeito" podes visitar esta página: https://www.indiegogo.com/projects/tudo-parece-perfeito-everything-seems-perfect.

Da minha parte resta-me agradecer ao Costinha a.k.a. Magazino, por toda a força que me (nos) tem transmitido com os seus "posts" nas redes sociais e com as suas mensagens pessoais de incentivo.
Muito obrigado!

É uma força da natureza e eu tenho a certeza que vai ultrapassar todas as batalhas que ainda tem pela frente, como tem ultrapassado as muitas que já teve até agora.

Ele é o verdadeiro campeão.
 
Carlos Manaça
DJ e Produtor
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
sexta, 09 outubro 2020 22:01

Está quase tudo diferente

Muitos de vocês não me conhecem. Faço produção de eventos e é no backstage e longe das câmaras que me sinto bem.

Fiz parte da criação de alguns projetos e conceitos inovadores e do relançamento de muitos outros - (Flash, Bloop, Ribatexas, I Love Baile Funk, Revende of the 90’s, para vos dar alguns exemplos). Neste momento abraço o projeto H Collective, empresa detentora de alguns destes conceitos e entrei recentemente num novo desafio chamado "Lorosae", um Restaurante/Bar de praia na Costa da Caparica.

Nesta altura do ano normalmente estaria envolvido em duas ou três rentrées de espaços noturnos em Lisboa, só que não. Deveria estar a preparar o lançamento da nova Tour Revenge of the 90's, só que não. Estou com tempo para escrever este artigo de opinião durante o mês de Setembro.

Estamos cansados de não poder trabalhar, a tentar reinventar negócios e formas de estar. Estamos com saudades. Passaram 6 meses desde que o nosso mercado parou e dançar juntos de copo na mão já parece uma coisa do passado.

No início parou mesmo, mas em meados de Julho quando alguns espaços, depois de algumas readaptações, começaram a conseguir fazer algum tipo de eventos com lugares sentados e o devido distanciamento, apareceu uma luz de esperança e o pensamento imediato foi: "isto a pouco e pouco vai arrancar". 

Alguns arregaçaram as mangas e conseguiram dar a volta para abrir, outros não tinham nos seus espaços forma de contornar as coisas para estarem legais nas novas regras. Em tempos tão difíceis foi engraçado ver as pessoas a adaptarem-se a estar depois de um copo ou dois sentadas no mesmo sitio a dançar, à frente da cadeira, a irem ao bar e prolongar a conversa com o barman para poderem estar de pé mais um bocadinho a abanar o corpo em modo dança reprimida.

Durante esta fase assisti com tristeza a pessoas exteriores aos negócios, e até mesmo concorrentes, com empenho em fazer denúncias e prejudicar de forma dramática a possível e lenta retoma.

O mercado da noite e eventos está difícil, praticamente parado, e é tempo de dar os braços, estar unidos e arregaçar as mangas. A concorrência é muita, e mais agora que as pessoas que saem de casa para eventos são ainda menos, mas quanto mais unido estiver o mercado maior a força junto das entidades competentes para um aceleramento da retoma. 

Os eventos e a noite como nós os conhecíamos vão voltar. Até lá muita força para todos porque quando voltarmos não vamos ter mãos a medir.
 
Miguel Cruz
Empresário/Produtor de Eventos
Publicado em Miguel Cruz
domingo, 10 março 2019 19:50

O Mercado DJ em Portugal

Ao contrário do que muitos defendem, acredito que o mercado nacional de música ainda tem muito a ganhar com artistas DJ nacionais. Que Portugal é um País com bastante talento musical já todos sabemos, nomeadamente na música eletrónica. 

O que é que está a mudar? Noto que grande parte dos artistas DJ já faz uma coisa que era impensável pela maioria no passado: Adaptam o estilo de música ao espaço/publico onde irão atuar. Há uns anos era quase um "crime" dizer a um DJ para tocar os géneros X ou Y, porque o "artista" tinha um estilo musical próprio e não se iria adaptar e "trair" o seu género musical ou "estragar" a sua imagem, ao adaptar-se musicalmente. 

Felizmente o tempo veio mudar algumas mentes mais teimosas e fê-los perceber: O que um evento quer é manter o máximo de tempo possível os clientes a divertir-se e satisfeitos. A maioria dos DJs tem de entender: Há eventos específicos onde o seu género musical é "rei" e aí não faz nenhum sentido adaptar ou fugir à essência que o define como artista. O problema é que estes eventos não são, para já, a maioria, e os eventos de massas têm pessoas que gostam de géneros díspares, desde Funk ao Rock...

O que é que esta mudança está a causar? Já podemos ver muitos eventos "Festas Anuais da Região X" a contratar artistas DJ em detrimento das típicas bandas ou artistas de música popular. Reparem, o que os eventos querem é diminuir ao máximo os seus custos, aumentando a satisfação dos participantes. Um DJ cobra 25% do que qualquer banda/artista de música popular, e não tem uma comitiva composta por meia dúzia de pessoas, ou mais. Há 5 anos era quase impensável que as comissões de festas, compostas geralmente por várias pessoas com mais de 40 anos, procurassem contratar DJs e estar a par desse segmento de mercado. Hoje em dia a mentalidade mudou.

Na DO HITS Agency, felizmente, conseguimos antecipar esta tendência. Nos últimos anos criámos conceitos, projetos e aconselhámos artistas parceiros a seguir o caminho que achávamos mais correto. Temos neste momento vários projectos DJ, não só ideais para eventos com um público-alvo específico, mas também variado (Feiras, Festas Regionais, etc.). No final ganha o evento, ganham os artistas DJ e criam-se mais oportunidades para ainda mais artistas DJ singrarem no mercado nacional. 

E por favor não cometam um erro habitual: Não se preocupem com a opinião dos outros "colegas DJ" por adaptarem musicalmente e tocarem géneros trending. Interessa sim o feedback do público e de quem contrata. Lembrem-se, se ninguém vos ouvir, é impossível criarem seguidores ou uma marca. Um DJ pode, ou não, ter uma vertente de produção musical, mas é impossível ser considerado DJ se não atuar ao vivo. 

PS: Gostei muito de assistir a Karetus a passar a música do Toy, ainda no início do verão. Quando há qualidade, até musicas "da moda" se sabe utilizar e adaptar ao seu público-alvo.
 
João Casaleiro
CEO Agência DO HITS
Publicado em João Casaleiro
sábado, 09 junho 2018 23:20

A democratização da noite

Após várias tentativas infrutíferas por parte de um amigo para escrever no Portal 100% DEEJAY, pois sou avesso às críticas e dissertações sobre um produto completamente desvirtuado ao longo dos anos por inúmeras razões, algumas das quais vou comentar, lá acedi dar a minha opinião sobre o estado da noite atual.

Seguindo a linha de uma pessoa com tempo e conhecimentos do que era e é a noite (Zé Gouveia), venho abordar dois pontos que para mim desvirtuaram os espaços tão bem conseguidos nos anos 80 e 90.

Os promotores e a gula dos proprietários, muitos sem noção e outros vocacionados para o produto de desgaste rápido.

A vertente dos promotores, que a mim me faz confusão, é o exemplo da descaracterização de qualquer espaço, pois eu sou do tempo em que os relações públicas trabalhavam para uma casa a tempo inteiro, permitindo conhecer, gerir, elaborar conteúdos, target e serviço do determinado espaço, coisa que hoje é impensável e a gestão é feita através dos diversos meios de comunicação virtual, sem conhecimento nenhum de com quem comunicamos, perdendo-se assim a especificidade do target pretendido para a casa.

Isto, aliado ao facto de os próprios espaços se terem democratizado (pagas 10 euros entras), retirou-lhes o cunho uma vez que os próprios proprietários não quererem construir conceitos mas sim casas de eventos, onde tudo entra, desde que fature já!

Além de tudo isto, a realidade atual em termos estéticos é muito mais abrangente. 

Hoje em dia nós despimo-nos para sair, antes vestiamo-nos para sair.

É verdade que existem menos espaços noturnos em Lisboa, mas tem a ver com inúmeros fatores que, desde a descentralização da cidade (abertura de casas em zonas limítrofes), há tolerância zero relativamente ao álcool (que eu acho muito bem) e o nível de vida da população em geral.

Mas esta é a minha opinião, quiçá saudosista e démodé à espera do tal espaço elitista e intemporal de outros tempos.
 
Speedy
Contrariamente à imagem criada, a minha área foca-se na restauração e não na noite, apesar da imagem como gerente do BBC ter sido fortíssima atendendo à casa em questão. Projetos como o COP 3, Senhora Mãe, Spiky e Via Pública foram restaurantes dos quais intervi diretamente na execução implementação de conceito e gestão operacional.
Publicado em Speedy
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