quarta, 15 julho 2020 21:35

Bares e Discotecas: Os Esquecidos

Festas ilegais em vivendas.
Festas ilegais na via pública.
Festas ilegais em bombas de gasolina.
Festas ilegais em todo o lado e os legais fechados e sem hipótese de trabalhar.

Que sentido faz hoje dia 15 de Julho, ainda não haver legislação para os Bares e Discotecas poderem trabalhar?
Que sentido faz querer turistas quando depois quando chegarem aqui a animação é idêntica a um cemitério?
Que destinos turísticos vivem ou sobrevivem sem animação?
Que sentido faz incentivar aglomerados de gente sem regras, sem cuidados sanitários, sem controlo?
Que sentido faz estar a incentivar a proliferação da pandemia em vez de evita-la?
Que sentido faz condenar milhares de empresas à falência?
E centenas de milhares de pessoas ao desemprego e à miséria?
Que tipo de sociedade estamos a criar?

Não reconhecer o direito das pessoas para se divertirem e obriga-las à clandestinidade, não é digno de um estado democrático.
Eu sei que conseguem fazer melhor.
Nós sabemos que até sabem.
Basta quererem.

Devolvam a vida a quem faz viver.
Não há dia, sem a noite.
 
Eliseu Correia
Empresário
Publicado em Eliseu Correia
sábado, 09 junho 2018 23:20

A democratização da noite

Após várias tentativas infrutíferas por parte de um amigo para escrever no Portal 100% DEEJAY, pois sou avesso às críticas e dissertações sobre um produto completamente desvirtuado ao longo dos anos por inúmeras razões, algumas das quais vou comentar, lá acedi dar a minha opinião sobre o estado da noite atual.

Seguindo a linha de uma pessoa com tempo e conhecimentos do que era e é a noite (Zé Gouveia), venho abordar dois pontos que para mim desvirtuaram os espaços tão bem conseguidos nos anos 80 e 90.

Os promotores e a gula dos proprietários, muitos sem noção e outros vocacionados para o produto de desgaste rápido.

A vertente dos promotores, que a mim me faz confusão, é o exemplo da descaracterização de qualquer espaço, pois eu sou do tempo em que os relações públicas trabalhavam para uma casa a tempo inteiro, permitindo conhecer, gerir, elaborar conteúdos, target e serviço do determinado espaço, coisa que hoje é impensável e a gestão é feita através dos diversos meios de comunicação virtual, sem conhecimento nenhum de com quem comunicamos, perdendo-se assim a especificidade do target pretendido para a casa.

Isto, aliado ao facto de os próprios espaços se terem democratizado (pagas 10 euros entras), retirou-lhes o cunho uma vez que os próprios proprietários não quererem construir conceitos mas sim casas de eventos, onde tudo entra, desde que fature já!

Além de tudo isto, a realidade atual em termos estéticos é muito mais abrangente. 

Hoje em dia nós despimo-nos para sair, antes vestiamo-nos para sair.

É verdade que existem menos espaços noturnos em Lisboa, mas tem a ver com inúmeros fatores que, desde a descentralização da cidade (abertura de casas em zonas limítrofes), há tolerância zero relativamente ao álcool (que eu acho muito bem) e o nível de vida da população em geral.

Mas esta é a minha opinião, quiçá saudosista e démodé à espera do tal espaço elitista e intemporal de outros tempos.
 
Speedy
Contrariamente à imagem criada, a minha área foca-se na restauração e não na noite, apesar da imagem como gerente do BBC ter sido fortíssima atendendo à casa em questão. Projetos como o COP 3, Senhora Mãe, Spiky e Via Pública foram restaurantes dos quais intervi diretamente na execução implementação de conceito e gestão operacional.
Publicado em Speedy
quarta, 03 junho 2020 23:04

(Des)governados

Atravessamos momentos únicos da nossa vida e ninguém consegue fazer futurologia. Estamos completamente desgovernados por tudo, por todos e também por nossa culpa por não sabermos antecipar problemas.

Apesar de tudo, há algo que sempre iremos conseguir fazer - adaptação aos novos desafios. 

Existem DJs desde o tempo em que a tecnologia permitiu que uma única pessoa conseguisse "tocar musica gravada" (excluindo o aparecimento das grafonolas) e sempre houve adaptações e mudanças.

Provavelmente, nunca terá havido tantos recursos tecnológicos que permitissem adaptações como existem nos dias de hoje e cabe a cada um de nós pensar e implementar essas adaptações.
 
É certo que todos estamos desgovernados e até desesperados porque a principal fonte de rendimentos de um DJ é por norma as suas actuações e não havendo eventos ou espaços físicos com público para o fazer, as alternativas são escassas. O streaming é a opção lógica mas jamais poderá trazer a rentabilidade, o sentimento, a "magia" das actuações em "contacto" com o público, no entanto não nos podemos esquecer que num passado recente, muitos DJs usavam a rádio para ganhar a notoriedade que têm nos dias de hoje e as diferenças para um streaming são apenas em termos de imagem e suporte em que são transmitidas. 
 

Não tenho a pretensão de imaginar ou prever o futuro deste sector mas tenho a certeza que servirá como triagem para muitos amadores e profissionais ficarem pelo caminho (…)


Não tenho a pretensão de imaginar ou prever o futuro deste sector mas tenho a certeza que servirá como triagem para muitos amadores e profissionais ficarem pelo caminho, deixando a quem tenha perseverança um caminho aberto para o futuro quando esse mesmo futuro voltar a permitir o regresso dos DJs ao seu habitat natural. 

Sim, estamos desgovernados (todo o sector e não apenas os DJs) mas não existem soluções no imediato. 

Nada será como foi e com maior ou menos adaptação, maiores ou menores mudanças, o DJ pode estar "infetado" mas não irá "morrer".
 
Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
segunda, 07 novembro 2016 21:56

Espírito corporativo, existe?

 
O lançamento da APORFEST - Associação Portuguesa Festivais de Música (em setembro de 2015), veio no seguimento do Talkfest - International Music Festivals Forum (com uma primeira edição em 2012), um evento que ao longo de 2-3 dias por ano serve para aglutinar a indústria, torná-la frente-a-frente, fora dos escritórios ou dos nichos e assim torná-la mais humana e corporativa e assim seguidora de todas as outras áreas - marketing, direito, gestão de recursos humanos, psicologia. Daí até à organização de uma associação que representasse todos os setores (e.g. promotores, artistas, investigadores, media, prestadores de serviços, alunos) foi um passo porque ao longo do restante ano eram-nos colocadas dúvidas relacionadas com informação, legislação, fiscalidade, regulamentação ou financiamento entre tantas outras, o que nos obrigou a estar 365 disponíveis.
 
Os fundadores de ambas debateram-se ainda enquanto externos a esta indústria, porque não existe nesta área, a dos festivais de música a nível nacional (que todos falam, todos acham trendy, todos querem testar e dar-se a conhecer, mas que tem um défice de corporativismo) um seguimento normal de qualquer outra área - a partilha, o networking, o debate e o real interesse na evolução, que se consegue muito mais fácil de modo coletivo que individual ou em pequenos grupos (que não são mais que um disfarce)?
 
Orgulha-nos ter sido desbloqueadores deste ponto e colocar as entidades a falar de uma forma mais aberta, mesmo que concorrentes entre si, orgulha-nos ter dado a conhecer talento jovem em redes de contacto que são por si só pequenas e fechadas, assim como tantos outros fatores. Ao contrário de outros países e culturas, estamos a anos luz deste corporativismo sincero (sem invejas e beneficie com a concorrência e não com a falta dela) e que funcione em ligações privadas e públicas numa potenciação da internacionalização por exemplo, bastando ver o que outro evento organizado por nós, os Iberian Festival Awards, que apesar de estar na rede europeia dos Festival Awards, demonstra mais dificuldade em cativar e fomentar a cooperação ibérica entre portas que fora delas. Vemos com positivismo a chegada de novas associações que vão conseguir defender interesses e chegar mais rápido a objetivos que estivessem fora da associação de forma ad-hoc e espartilhada.
 

Existe ainda uma clara vontade de alguns players em quererem deter tudo no seu controlo e a não querer beneficiar daquilo que não comandam (...)

 
Da mesma forma, esta evolução tem sido alavancada por novos, pequenos e médios promotores, continuando a ser ainda difícil por todos num "mesmo barco" em que todos são iguais e todos valem o mesmo. Preocupa-nos o facto de não se ter apoiado eventos como os Portugal Festival Awards, organizado por uma dupla de jovens (que não a nossa que muitos confundiram), a querer premiar e valorizar uma área, sem conseguir rentabilizar a sua ideia, enquanto do outro lado se discutia a seriedade, a isenção dos mesmos, quando estes prémios são depois utilizados (e ainda bem) como forma de comunicação e credibilização de municípios e festivais. Enquanto lá fora, premiar uma área é apenas um "serviço mínimo" que deve existir em qualquer área.
 
Existe ainda uma clara vontade de alguns players em quererem deter tudo no seu controlo e a não querer beneficiar daquilo que não comandam, não se querendo imiscuir com os outros. Há muito caminho a percorrer, venham novas associações (de classes profissionais, de estilos musicais...), venham projetos como o WhyPortugal, venham debates, venha uma regulação e apoio claro a esta área. Mas venha de uma forma justa e realmente isenta como aquela que até aqui temos tentado fazer, sem se fazer contas a quem beneficia e aos lobbies que se quer deter ou não!
 
Ricardo Bramão
Presidente e Fundador APORFEST, Associação Portuguesa de Festivais de Música.
Publicado em Ricardo Bramão
 
Não me identifico com a grande maioria da música produzida por David Guetta, sobretudo porque desprezo o caráter industrial que as suas produções assumiram. São músicas produzidas em série, num estúdio que mais parece uma fábrica "fordista", que visam apenas conservar, a todo o custo, a sua notoriedade, numa indústria cada vez mais efémera e em que a música assume um relevo cada vez menor, sendo apenas uma das muitas variáveis em jogo. Há muitos anos que a música vazia de David Guetta, pura e simplesmente, não me toca.
 
Dito isto, e pondo os gostos de parte, fico sempre incrédulo quando vejo os inúmeros boatos que sobre ele circulam na Internet. O último li-o no Wunderground, um portal irlandês dedicado à arte e música underground, carregado de mexericos e artigos falsos que apenas servem para ridicularizar alguns artistas e capitalizar leitores rancorosos - para os mais incautos, foi deste mesmo portal que saiu a notícia, também falsa, de que Axwell se iria retirar da indústria musical.
 
Estes artigos teriam piada se os leitores percebessem claramente de que se trata de escrita humorística - como acontece, por exemplo, com o Inimigo Público. O problema é que, ao incluir a informação verdadeira e falsa no mesmo saco, o Wunderground gera a confusão e induz os leitores em erro. Para além de o artigo ser uma sátira evidente, repleto de episódios inverosímeis e caricaturais, faz uma alusão a um post no Twitter de Guetta que nunca existiu.
 
Mas o que mais me espantou nesta história, e que acabou por ser a principal razão por que se multiplicaram os sites que mencionaram o assunto, foi o facto de Frankie Knuckles e David Morales, pioneiros do House e referências incontornáveis dos primeiros produtores de música eletrónica portuguesa - entre os quais eu me incluo -, terem contribuído para amplificar o equívoco, ao comentarem, no site da rádio online americana Coco.fm, um artigo falso como se fosse verdadeiro. Aquilo que não passava de um artigo satírico passou a ser visto como notícia.
 
Conclusão: passadas algumas horas, dezenas de sites referiam a polémica e milhares de pessoas em todo o mundo prontificavam-se a crucificar Guetta, com comentários que exalavam ódio e ressentimento. Porquê? Sobretudo, porque, influenciados por uma campanha na Web que visa ridicularizá-lo, não gostam da música que ele passa e produz. Não querendo fazer de advogado do diabo, posso dizer que já o vi a pôr música antes de ele ter atingido o estatuto que hoje tem e, apesar de não ser a minha praia musical, até o achei eficaz e competente. Alguns colegas meus dizem o mesmo. Para mim, a qualidade de um DJ não é medida pelo estilo de música que ele toca.
 

Às vezes, sinto-me numa cena em que estamos todos à espera da machadada final, uma espécie de "Dance Music Sucks" (...)

Não gostar de David Guetta, é uma coisa; enxovalhá-lo e linchá-lo publicamente, utilizando o boato como modus operandi, é outra muito diferente. Os fins não justificam os meios. No final do dia, é toda a música de dança que perde, que fica cada vez mais dividida e, por isso mesmo, enfraquecida. Às vezes, sinto-me numa cena em que estamos todos à espera da machadada final, uma espécie de "Dance Music Sucks", num remake do conhecido episódio protagonizado por Steve Dahl que simbolizou o fim da era Disco.
 
Para além de ter tornado patente a crispação e a divisão que hoje existem entre duas diferentes correntes de música de dança, uma mais underground e outra mais mainstream, este episódio serve para nos relembrar de que é necessário sermos especialmente prudentes quando lemos online. Se nem tudo o que aparece em revistas e jornais é verdadeiro, imagine-se na Internet, que não passa pelo crivo jornalístico ou de gente preparada para rever o material publicado.
 
"Como disse o antigo primeiro-ministro britânico James Callaghan, 'uma mentira pode dar a volta ao mundo antes de a verdade conseguir calçar as botas'. Nunca tal foi tão verdade quanto com a acelerada, destravada e desgarrada cultura da blogosfera da atualidade"1.
 
1Andrew Keen, O Culto do Amadorismo
 
Alex Santos
Publicado em Alex Santos
domingo, 02 dezembro 2012 21:59

Back in the club, the story

Este mês resolvi dar a conhecer todo o processo que atravessei para criar, desenvolver e acabar o nosso novo tema "Back In The Club". A faixa foi apresentada pela primeira vez, ao vivo, na 'MEGA HITS Kings Fest' no Campo Pequeno em Lisboa, a 27 de Outubro. A ideia de fazer um tema com o Dani (Daniel Fontoura) começou após o ter visto a cantar num karaoke, no Cruzeiro MEGA HITS que participámos em maio de 2011 - fiquei impressionado com a voz dele e gostei muito de o ouvir cantar. Nesse momento, o meu primeiro pensamento foi: "Vou ter que fazer uma música com ele". Começámos a conversar sobre essa possibilidade e de como poderíamos avançar para a música e mal cheguei ao estúdio, a primeira coisa que fiz foi selecionar todos os esboços que tinha guardados no disco do meu iMac, até que cheguei àquele que usei para o "Back In The Club".
 
Lembro-me que esse tema começou pelo verso, uma melodia simples e ao mesmo tempo alegre, que estivesse de alguma forma relacionada com o nosso estado de espírito, com aquilo que os FY2 – The Party Rockers apresentam no seu estilo de set, mas acima de tudo, algo que nos divertisse e que nos desse prazer construir. Desenvolvi um pouco a ideia, sequenciei a música de forma a ser algo "apresentável" para o Dani poder opinar e ter uma base sólida para começar a construir a melodia vocal e a letra. Claro que ao longo de todo o processo criativo, várias mudanças foram acontecendo: desde mudar toda a estrutura rítmica (pelo menos duas vezes), trocar vários elementos, acrescentar e retirar beats - mas tudo isto faz parte do processo criativo e da busca pela "batida perfeita".
A meio do tema, percebi que a ajuda de um compositor seria bem-vinda e que iria tornar a faixa mais interessante melodicamente. Foi aí que conheci o Miguel Amorim. Um jovem músico, compositor e produtor que me fez ver certas coisas de forma diferente e com quem, para além da relação de amizade, mantive uma relação de trabalho constante em diferentes áreas dentro da música! O Miguel veio desempatar algumas coisas e resolver certas "equações" musicais que serviram como a "cereja no topo do bolo" - e verdade seja dita, a união faz a força e quantas mais boas pessoas tivermos ao nosso lado para nos ajudar, apoiar e aconselhar, melhor!
 

(...) Mas o que interessa é que façam algo e que trabalhem, não deixem as ideias de músicas gravadas no telemóvel ou mesmo na cabeça - exteriorizem e materializem!

 
Depois do Dani concluir a letra e a melodia vocal, gravámos alguns takes "experimentais" daquilo que poderia ser a voz no tema e fomos reconstruindo a música de forma a se adequar que nem uma luva à voz. Uma vez o instrumental finalizado, fomos para estúdio gravar a voz. Depois, basicamente, foi substituir os takes gravados no meu "home studio" pelos novos que gravámos e a música estava pronta para enviar para o Engenheiro de Som que iria misturar e masterizar o tema.
 
Por intermédio do Miguel Amorim, conheci o José Diogo Neves, um músico, produtor e Engenheiro de Som fantástico, com uma capacidade de aprendizagem fora de série (e uma paciência de aço para ouvir todos os meus devaneios) e que acabou por misturar e "masterizar" o tema – e que, a par com o Miguel, se tornou meu amigo e hoje em dia, basicamente, fazemos os três parte de uma equipa e temos a nossa "cena" juntos onde estamos em constante ligação e a trabalhar em conjunto! Após alguns ajustes e experimentações ao vivo, chegámos ao resultado final - que podem ouvir em algumas das principais rádios nacionais!
 
Eu sei que toda a gente tem a sua forma de criar e começar uma música - seja pela linha de baixo, pela parte rítmica ou pelo refrão - whatever - mas o que interessa é que façam algo e que trabalhem, não deixem as ideias de músicas gravadas no telemóvel ou mesmo na cabeça - exteriorizem e materializem! E acima de tudo, nunca desistam dos vossos sonhos!
 
 
Daniel Poças
FY2 - The Party Rockers
Publicado em Daniel Poças
Numa Indústria cada vez mais articulada e direccionada para um serviço facilitista e de personalização praticamente nula, o trabalho e preponderância do DJ acaba por ser cada vez mais refém da necessidade dos clubes ou discotecas, que devido ao facto de terem que apresentar lucros e resultados imediatos, se vêem muitas vezes obrigados a desvirtuar toda a sua ideologia musical a troco de trabalho. Outrora expoentes máximos com direito a palavra de ordem dentro daquilo que era a motivação que levava os seus clientes a uma qualquer pista de dança do nosso país, vemo-nos actualmente sem qualquer espaço de manobra para podermos de alguma forma contribuir para um trabalho mais qualitativo, sustentado e educativo dentro daquilo que seria o cenário ideal para uma evolução nocturna que na minha opinião iria a médio prazo elevar a qualidade da noite portuguesa.
 
A ironia das ironias acaba por ser o endeusamento e proliferação que cada vez mais está na moda de tentar esconder o óbvio, que é o decréscimo qualitativo da noite, com a vinda de artistas internacionais que começam novamente a visitar o nosso país e os nossos clubes, o que apesar de considerar sem dúvida bastante positivo, contrasta em absoluto com o total desprezo com aquilo que seria certamente um dos pilares dessa mesma evolução pretendida, os DJs nacionais, nomeadamente os residentes na verdadeira acepção da palavra. Não falo dos residentes a que chamo de "fast-food", termo que não pretendo conotar de forma alguma com um sentido pejorativo, até porque muitas vezes acaba por ser a única forma que muitos deles têm de manter um posto de trabalho que na maioria das vezes nem lhes permite assumir uma profissão a tempo inteiro, tal é a desvalorização que advém das suas próprias opções de carreira, mas sim dos verdadeiros DJs residentes, que felizmente, quais Gauleses no tempo dos Romanos, ainda vão resistindo bravamente na tentativa de criar tendências, sendo a prova disso mesmo quatro ou cinco espaços no nosso país que conseguem apresentar uma coerência, qualidade e consistência dignas de serem elogiadas.

Mal ou bem, para se oferecer um serviço é necessário que este tenha sustentação para nele podermos investir e faze-lo desenvolver (...)

 
Logicamente que podem ser bravos mas não chegam, uma vez que as modas, para passarem a tendências precisam de ser massificadas, algo que dificilmente irá acontecer nos próximos tempos, na minha opinião, dentro do lado mais qualitativo do nosso mercado. Os verdadeiros profissionais da música, os residentes que criavam as tendências da pista, permitindo assim aos convidados terem a liberdade de se exprimirem sem qualquer tipo de condicionalismos, são cada vez mais uma espécie em vias de extinção, e sinceramente penso que aqui reside um dos principais focos do problema. Claro que, paralelamente a tudo isto, teremos também de ter a capacidade de analisar o lado mais cerebral desta temática, também ela de certa forma compreensível e com uma palavra a dizer naquele que é o ponto de vista do negócio e investimento, do qual posso também, como músico, produtor, DJ e também há já um par de anos empresário nocturno, ter alguma autoridade para falar, uma vez que acabo por estar dos dois lados. Actualmente não é fácil de todo sustentar um investimento com alicerces em romantismos e ideologias de elite. Mal ou bem, para se oferecer um serviço é necessário que este tenha sustentação para nele podermos investir e faze-lo desenvolver, e esse investimento apenas será possível se a equação final que tanto influencia toda esta realidade for positiva, caso contrário os problemas deixam de existir porque muito provavelmente o projecto também terá o mesmo caminho.
 
Estas duas vertentes da nossa indústria, que terão certamente pontos de defesa bastante válidos da parte dos dois lados, acabam por se esbater naquilo que é a dura realidade de um mercado muito pequeno, bem fechado e de fácil propensão a criar modas "convenientes", que resultam para todos os intervenientes neste mercado menos para os directos, que são os próprios espaços e os artistas, neste caso em particular os DJs, com as regras do jogo a serem ditadas pelos muitos canais, muitos deles sem qualidade informativa e de pesquisa, que temos ao dispor dos media para espalhar o que mais lhes convém, deixando aqui de imperar o aspecto qualitativo para começar a dominar o lado financeiro e de lucro directo, o que prejudicando os DJs e a Indústria da Noite, é sem dúvida nenhuma o que alimenta todo este mercado. E aí teremos mais uma vez que ser realistas e concordar, até porque o movimento mais underground (ou menos mainstream) será sempre o mais prejudicado, por ser o que menos hipótese de visibilidade e lucro dá.
 

(...) cabe a cada um de nós, artistas, quer seja em vinyl, com computadores, pens ou o que for, ter a responsabilidade de saber onde queremos estar (...)

 
Voltando ao romantismo, costumo dizer que antigamente os artistas faziam a indústria, e que um dos principais problemas da conjuntura actual que vivemos hoje em dia é que os papéis se inverteram e quem faz os artistas é a indústria, mas aqui com uma grande diferença, que é o facto de os artistas criarem a indústria com o poder da sua música, enquanto que a indústria não cria os artistas com base no poder da música, mas sim em resultados, e logicamente que do ponto de vista da arte no seu estado mais puro, essa não é nem nunca será uma equação de sucesso do ponto de vista musical. É no entanto, e não poderia deixar de fazer este apontamento, de louvar a proliferação de movimentos mais Underground e nada virados para massificações, lucros ou equações financeiras imediatas, mas sim exclusivamente assentados na qualidade e romantismo, e que com os seus próprios meios conseguem cada vez mais implementar qualidade e alternativa para quem sai à noite, muitas vezes apenas para desfrutar de tudo o que de bom a música tem para oferecer, até porque não nos poderemos nunca esquecer que existe e continuará a existir um enorme número de clientes da noite, que continuam avidamente à espera pelo DJ que os vai surpreender e levar onde nenhuma rádio ou estratégia de mercado conseguirá levar, e isso não há indústria mecanizada que consiga diluir.
 
O caminho a seguir é este, muito ao encontro do que já vi muitas vezes lá fora, uma vez que o lado cerebral irá continuar a crescer, devido à própria evolução da nossa sociedade, apesar de não podermos de forma alguma desprezar o lado mais romântico da noite, que irá também continuar a crescer proporcionalmente, o que faz com que o equilíbrio se mantenha dentro do desequilíbrio, e cabe a cada um de nós, artistas, quer seja em vinyl, com computadores, pens ou o que for, ter a responsabilidade de saber onde queremos estar e qual é o nosso papel dentro deste inevitável equilíbrio.
 
Carlos Vargas
Publicado em Carlos Vargas
quinta, 10 julho 2014 22:20

Agente ou não? Eis a questão

 
Ter ou não ter um agente ou um manager? Acho que essa é a questão de tantos DJs, a partir de certa altura. Os prós e os contras existem, dependendo da direção que se quer seguir, a de continuar a ser "o amiguinho" dos donos das festas e dos clubes (aqui também há vantagens e desvantagens) ou a de tentar profissionalizar a coisa no mercado, que, como o português, pouco ou nada é "profissionalizável" (lol)... e com que pena digo eu isto... assumo que acredito muito pouco em algumas empresas de eventos, que tantas vezes nem coletadas estão... enfim, mas isso já é outra praia... porque também os há, os idóneos e com essa mão cheia de gente dá mesmo gosto trabalhar.
 
Ter ou não ter um agente ou um manager? Das duas uma: ou quando as coisas não estão a correr bem e se precisa de um input de carreira ou então porque as coisas correm tão bem e as solicitações são tantas que se precisa de alguém que faça a sua gestão como de deve ser.
 
Sim... para profissionalizar a coisa, ter um agente é um "must", mas os agentes são mesmo isso... "a-gente". E aqui, há, como em tudo, gente "da boa" e gente "da má". Por isso, este passo é de extrema importância para um DJ ou qualquer outro artista - sei de histórias de extrema empatia e sei de outras que acabaram em lutas de cão e gato daquelas à séria...
 
Ter uma pessoa que nos represente pode ser condicionante para a consolidação da nossa carreira ou para o fracasso da mesma. 
 
Para mim, estas serão as exigências que qualquer DJ tem que ter atenção para que um "namoro" passe a "casamento": A imagem dele(a) tem que ter a ver necessariamente com a do artista. Ele(a) será um pouco como o cartão-de-visita do mesmo. Imaginem um metaleiro a tratar dos teus gigs de DJ de house... não liga pois não?!
 

Imaginem um metaleiro a tratar dos teus gigs de DJ de house... não liga pois não?!

Terá sempre que ficar bem assente, em conversas quase formais para que não se desfoquem, se a direção que o artista deseja para a sua carreira e a que o agente/manager está a estruturar correspondem aos mesmos desejos (imaginem um estar na onda dos sunsets e o outros vendê-lo para afters.)
 
Um agente pode negociar valores e um DJ, nunca deve ir por trás e renegocia-los (nem que isso, nos corroa por dentro...)
 
Um agente deve orientar o agenciado, mas a última palavra deverá ser sempre do DJ (há quem prometa mundos e fundos… mas a vida é nossa e daqui a um ano ou dois, se o agente já cá não estiver, o seu "legado" mantém-se e muitas vezes a imagem criada nessa época também, nunca nos esqueçamos disso)
 
Por fim, deixem-me só dizer que ter um agente e ter um manager não é a mesma coisa. Um agente "vende", faz "booking", trabalha com o material que existe, é um "flirt" na tua vida. Um manager é quase como um novo membro da família. Normalmente quando estão empenhados e são bons no que fazem, são quase como uma sombra de ti mesmo. Ajudam-te a construir uma imagem específica, criam situações quando não as há, são criativos a arranjar trabalhos, vivem-te e respiram-te. São raros. Mas existem. Encontrá-los é que não é fácil. Muitas vezes, pagar-lhes... também não.
 
Como em tudo, quem é bom merece a nossa confiança, mas todo o cuidado é pouco, principalmente para alguém, que, como eu e outros, já temos um caminho percorrido e um nome criado na praça. Quantos "agentes" julgam que encontraram a "galinha de ovos de ouro" e depois o trabalho afinal no terreno não é tão fácil como acreditavam ser e passamos de "bestiais a bestas" num ápice... não, cruzes credo! Desses cá não queremos! Mas aqui entre nós... já me calharam uns quantos oportunistas no caminho e que depois não são de fácil desapego.
 

(...) esta questão é tal e qual como numa relação amorosa, pode ser um pau de dois bicos: Ou uma prisão e foco de tensão, ou um descanso e sensação de companheirismo e foco.

 
Ter visibilidade pública é um "acepipe" muito grande para alguns passarões, tenham cuidado. Mas não desmotivem. Olhem para mim, ao fim de algumas relações falhadas, encontrei a minha "alma gémea". Não, não dormimos juntas, nem damos beijinhos na boca, mas partilhamos ideais, sonhos criativos, temos elasticidade suficiente para ir criando estratégias de acordo com as exigências do mercado e… sinto-me acompanhada o que é tão bom para uma pessoa como eu. Nunca gostei de caminhar sozinha mas também estou tão queimada com as "más companhias" que o destino me foi oferecendo ao longo dos anos, que encontrar a pessoa certa é uma bênção.
 
Ter ou não ter um agente ou um manager? Então cá vai: para mim, esta questão é tal e qual como numa relação amorosa, pode ser um pau de dois bicos: Ou uma prisão e foco de tensão, ou um descanso e sensação de companheirismo e foco. Resta-me desejar-vos sorte na escolha da pessoa que vos acompanha e no percurso da vossa carreira.
 
Beijinhos eletrónicos e cheios de boas vibes! ;)
 
Rita Mendes
Publicado em Rita Mendes
segunda, 06 julho 2020 23:28

Ajuntamentos ou locais controlados?

No início de Março, quando foi publicada a minha ultima crónica para a 100% DJ, tive que escrever duas crónicas porque a primeira que enviei ficou desactualizada em dois dias. Hoje, ao ler a última que escrevi, vejo que a realidade ultrapassou tudo o que eu tinha imaginado (e escrito) nessa altura, quando acabava de ter o meu primeiro evento adiado/cancelado. O que o sector ligado à música está a viver desde essa altura, jamais me passou pela cabeça. Desde essa altura que estamos com todas as nossas actuações canceladas e sem sequer haver um plano/data de uma possível volta ao trabalho de todo um sector.

O facto de não haver sequer um plano para todo um sector que até parou, por uma responsável decisão própria, antes de ser obrigado a isso pelo governo, na minha opinião é uma situação difícil de entender. Ouvir o tom depreciativo com que o primeiro-ministro falou de todo um colectivo foi um choque para mim e certamente para todos os empresários ligados a este sector, nas suas varias vertentes. 

Ouvir o tom depreciativo com que o primeiro-ministro falou de todo um colectivo foi um choque para mim e certamente para todos os empresários ligados a este sector, nas suas varias vertentes.

 
É verdade que este vírus colocou à prova os governos de praticamente todos os países, muitas decisões foram tomadas segundo o que ia acontecendo porque não se conheciam (e ainda não se conhecem bem) todas as características deste novo coronavírus. Numa primeira fase e segundo alguns especialistas, Portugal foi um exemplo internacional porque foi dos primeiros a limitar fortemente a mobilidade das pessoas e com isso limitar muito as possibilidades de contágio. É verdade que, comparativamente com os países vizinhos, Portugal tem um número de falecidos muito menor devido a esse sucesso na primeira fase desta pandemia e que os cuidados intensivos dos hospitais Portugueses (felizmente) nunca estiveram em rotura tal como aconteceu aqui em Espanha, situação que provocou muitos mortos pela incapacidade de serem atendidos nas urgências.

Infelizmente estamos a assistir nos últimos tempos a um aumento dos contágios confirmados em Portugal, situação que seria expectável uma vez que há uma maior mobilidade das pessoas, há mais gente a trabalhar e a deslocar-se em transportes públicos, a ir a centros comerciais, a supermercados. Basicamente há muito mais gente nas ruas que antes. Mas infelizmente também estamos a assistir à irresponsabilidade de algumas pessoas que se juntam sem terem qualquer cuidado, seja usando máscara, seja mantendo a distância de segurança aconselhada. Uma grande parte dessas pessoas são jovens que depois de estarem fechados em casa durante mais de dois meses se juntam com os amigos em grandes grupos sem cumprirem as normas mínimas de segurança, porque na realidade, não têm qualquer opção para o fazer de uma forma mais controlada.

A pergunta que coloco neste artigo é, na minha opinião, lógica: não seria melhor darem a esses jovens alternativas onde se pudessem juntar, de forma minimamente controlada, e assim reduzir esses ajuntamentos onde quase ninguém cumpre as normas de segurança?

Li em muitos comentários nas redes sociais que é "totalmente impossível manter a distância social numa discoteca, num bar, assim como ter os cuidados necessários à não propagação do vírus". Aliás, ouvimos o próprio primeiro-ministro dizer isso em directo, na TV.

Na minha opinião, depende muito das características dos espaços em questão. Obviamente há muitos locais em que é praticamente impossível criar condições mínimas de segurança por serem totalmente fechados, pouco amplos, com acessos interiores difíceis e com pouco espaço para as pessoas estarem mais afastadas e que não têm condições para abrir neste momento. Entendo isso e acho que qualquer empresário responsável que tenha um espaço com estas características, sabe que abrir nestas condições iria quase de certeza criar problemas.

Mas há muitos outros que têm características que lhes permitiria abrir com as mesmas condições já existentes para outro tipo de actividades. No Algarve, por exemplo, há muitos locais ao ar livre que podiam, com restrições de capacidade e com o uso de máscaras e gel desinfectante, abrir as portas. No resto do país também há alguns locais desse tipo, que poderiam abrir com as mesmas condicionantes de segurança.

Obviamente numa primeira fase não se poderia funcionar em horário completo, mas pelo menos esses espaços que têm uma grande parte ou são totalmente ao ar livre deveriam poder abrir. Ou pelo menos, tentar abrir. 

O que acontece é que, por terem o código de actividade de "discotecas" ou "bares", mesmo tendo estas características, não lhes é permitido abrir, numa decisão, na minha opinião, difícil de entender, especialmente quando vemos outro tipo de eventos com grandes ajuntamentos de pessoas, a serem "autorizados" ou pelo menos permitidos pelas autoridades, alguns deles por motivos políticos.
 

Não seria melhor darem a esses jovens alternativas onde se pudessem juntar, de forma minimamente controlada, e assim reduzir esses ajuntamentos onde quase ninguém cumpre as normas de segurança?

 
Pelo que sabemos até agora e do pouco que parece já assumido pela comunidade científica sobre este novo coronavírus, um dos seus principais focos de transmissão (senão o principal) são as aglomerações de muitas pessoas. Sejam elas por que motivo forem. Partidárias, futebol, religião, "botellon", praia, música, todas podem ser um foco de transmissão, todas podem contagiar se não forem tomadas precauções. 
Os ajuntamentos para ouvir música numa esplanada, num bar ao ar livre, numa discoteca ao ar livre, não são mais contagiosos do que os ajuntamentos autorizados numa manifestação política, como nos querem fazer crer.

Acho que seria importante nesta altura estabelecer de uma vez por todas regras claras e realizáveis para, lentamente, com capacidade limitada e com muitos cuidados, se começarem a abrir alguns dos locais com características especificas, regras que já existem para outras actividades. Certamente iria dar aos jovens uma alternativa mais controlada do que os ajuntamentos para os "botellons" que têm feito um pouco por todo o país.

Os empresários destes locais deram uma lição de responsabilidade a muita gente no inicio de todo esta pandemia quando decidiram fechar, mesmo antes de serem obrigados a isso. Pensaram na saúde de todos à custa da sua própria fonte de rendimento. Acho que mereciam um outro tratamento pelas autoridades responsáveis...
 
Carlos Manaça
DJ e Produtor
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
 
É desde o ano 2012, que as crónicas de opinião têm assumido um importante lugar de destaque no Portal 100% DJ, ou não fosse este, um espaço assinado por ilustres figuras do panorama noturno nacional.
 
Não querendo fugir à regra, nem tão pouco defraudar os nossos leitores, este ano voltamos em força no que diz respeito ao sublime painel de cronistas que prontamente aceitaram o nosso convite para as Crónicas deste ano. É um orgulho para nós, e ficamos mesmo com um sorriso de orelha a orelha.
 
A destacar na nossa grelha de 2014 temos o facto de continuarmos com a nossa "mulher-dos-sete-ofícios" - Rita Mendes. Este ano, coube-lhe abrir "as hostes", onde já nos brindou com a sua novíssima crónica, abordando o assunto dos estilos musicais dos DJs. "Qual é o teu estilo, DJ?". Outra renovação que também nos orgulha imenso, é a do Ricardo Silva, rosto da DWM-D World Management. Também o DJ e produtor português Massivedrum, volta a juntar-se este ano ao ilustre painel.
 
Destacamos ainda o regresso de Mariana Couto às lides da escrita de opinião na nossa plataforma e a fusão do DJ Rusty e da dupla FunkYou2 à Agência EUROPA, que, desta feita, disponibilizará a opinião dos seus DJs. Motivos mais que suficientes para acompanhares todos os meses, as crónicas de opinião do Portal 100% DJ, 365 dias ao ritmo da noite.
 
Publicado em 100% DJ
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