segunda, 23 julho 2018 22:25

Clubs vs Festivais

Nesta crónica resolvi abordar um tema que considero bastante questionável, actuações em Clubs e Festivais. Qual o mais indicado, preferido ou recomendável... segue a minha opinião.

Em época de Verão, sinónimo de calor, férias e festas ao ar livre chegam os inúmeros Festivais. Actualmente em Portugal podemos orgulhosamente dizer que temos alguns dos melhores eventos "outdoor" do mundo, sendo de forma originária ou em parceria, consecutivamente de forma positiva a maioria dos principais nomes mundiais passam assiduamente pelo nosso país, contribuindo para a economia, distinção no panorama ou simples facilidade de acesso ao entretenimento.

Várias vezes sou questionada acerca de qual o meu formato de evento preferido para participar, embora a resposta não seja fácil é simultaneamente bastante objectiva, um evento num Club tem uma capacidade mais reduzida, o que origina um público e tipo de evento mais canalizado e direcionado ao cliente alvo, consequentemente são festas mais pequenas, mas mais calorosas onde tenho mais contacto directo e comunicação com o público. Embora neste caso, maioritariamente "não seja tão favorável" a nível de exposição artística e marketing, quando comparado com um festival, mas neste caso a interactividade é única, o que proporciona uma experiência mais intensa e directa.

Por outro lado, temos o ponto de vista dos grandes palcos e dos eventos de maior dimensão, nestes casos, a exposição a nível de promoção consegue no geral ser de maior alcance, embora a interacção com o público seja diferente, não significando que seja pior. Neste caso em palco, exijo mais de mim pois tenho que agradar a mais público, embora em paralelo me divirta imenso pois tenho "mais braços no ar" e euforia concentrada. Contudo, isto não faz com que os eventos maioritariamente agendados para mim, Clubs e de pequena dimensão, tenham menor importância ou significado.

No mercado "underground" é normal que os eventos sejam de menor capacidade e direcionados para um nicho de mercado mais reduzido, ao mesmo tempo que os festivais e eventos de maior afluência são fundamentais, tanto para a exposição a nível de promoção como para conseguir mostrar em massa a um número maior e significativamente estreante o meu trabalho e aquilo que define a "Miss Sheila".

Após o mencionado, é relevante resumir que adoro participar em ambos os tipos de eventos, não esquecendo as diferenças, ambos são importantes e um pilar na carreira de um artista como eu. Relevante também é o facto, de que sempre fui bastante grata por conseguir marcar presença de forma significativa em ambas as situações expostas aqui, desde o início da minha carreira.
Publicado em Miss Sheila
domingo, 01 dezembro 2013 15:20

Como posso ser um DJ agenciado?

Resolvi puxar este tema no meu segundo artigo de opinião para a 100% DJ porque é algo com o qual sou confrontado diariamente.
 
Todos os dias recebo e-mails e mensagens via redes sociais com pedidos para agenciar artistas. De uma vez por todas, os artistas (especialmente os DJ’s) têm de perceber que não são os artistas que têm de procurar agenciamentos. Quando uma agência pretende representar um artista, não tenham dúvidas que farão tudo para o ter. 
 
Há muita gente que não consegue perceber que uma agência ou agente não é um centro de emprego, não é uma organização sem fins lucrativos e muito menos será uma instituição de caridade. 
 
As agências existem para proteger o artista, encaminhar e apoiar nas decisões da sua carreira, promover o produto (leia-se artista) e obter dividendos com o seu trabalho. Os artistas que pensam que ter um agente ou estar agenciado é ter um investidor, um empregado ou alguém que lhes vai meter dinheiro no bolso a troco de nada, vivem uma ilusão. O meu conselho é simples e directo... deixem de sonhar. 
 
Regra geral, uma agência ou agente, só trabalha com artistas que já tenham nome no mercado e que consigam obter dividendos para poder pagar o serviço de agenciamento. A ideia (errada) que os artistas têm, em que caso tenham um agente vão ter dinheiro, só entra mesmo na cabeça de alguns (neste caso de muitos). Possivelmente serei o único ou dos poucos agentes em Portugal que "foi buscar" artistas sem estarem no topo. Mesmo neste caso, fui eu que os contactei e a quem propus os meus serviços e em quem invisto por acreditar no trabalho dos mesmos. 
 
A diferença entre management e booking
 
Outra situação recorrente e que é confundida vezes sem conta pelos artistas nacionais, é a diferença entre management e booking. 
O que a larga maioria dos artistas querem, é um serviço de booking. Este é um serviço de marcações de actuações, onde o Booker recebe um percentual ou comissão pela marcação da data. Qualquer pessoa com conhecimentos e trabalho pode ser booker (até o próprio artista). 
 

Há muita gente que não consegue perceber que uma agência ou agente não é um centro de emprego, não é uma organização sem fins lucrativos...

 
São muito poucos os artistas que conseguem compreender que para terem actuações, precisam de um management profissional e de qualidade para que possam ter um booking em condições. Um bom management é essencial para quem quer entrar, permanecer e "crescer" no mercado. Outro dos erros recorrentes dos artistas nacionais é quererem fazer as "coisas" à maneira deles, mesmo tendo um manager. Se tomaram a decisão de ter um management, então sigam as directrizes de quem (à partida) sabe o que está a fazer, ou então façam vocês próprios o vosso management. 
 
Nunca devem esquecer que ambos os serviços são pagos. Seja o management, seja o "comissionista" (leia-se booker). Se vocês não trabalham de borla (ou pelo menos não deviam, salvo actuações promocionais ou de solidariedade), quem trabalha convosco também tem de receber pelo seu trabalho. 
 
Então como posso ser um artista agenciado?
 
Para seres agenciado, tens de perceber tudo o que foi mencionado anteriormente. Caso alguma agência ou agente "notar" em ti, eles próprios irão entrar em contacto contigo. Mas não desesperes... São inúmeros os casos em que fazer o próprio management e booking resultam da mesma forma (desde que trabalhes, tenhas formação e experiência ou pagues por serviços pontuais). 
 
Um artista tem de mentalizar-se que após acabar uma actuação, no minuto a seguir está novamente "desempregado" e que voltou à estaca zero (no que diz respeito a actuações). Um artista tem de olhar para si como um produto. Produto esse que tem de ser constantemente promovido/divulgado e que seja "apetecível" a sua aquisição. Nunca se podem esquecer que o vosso preço é proporcional ao retorno que dão, seja ele financeiro ou pelo serviço que prestam. 
 
Se não souberem o que fazer, mentalizem-se que têm de investir/pagar a alguém. Ninguém irá dar nada gratuitamente e as queixas que todos ouvimos diariamente de falta de oportunidades são meramente desculpas de quem não compreende que não existem negócios sem investimento. Se ninguém abre um negócio sem dinheiro, como é que querem ser um prestador de serviços sem investir? Poderão dizer-me que são artistas, que "fazem arte" mas mesmo assim, a arte vale o que alguém está disposto a pagar por ela e só a compra quem quer. 
 
Se estão neste meio porque gostam da "arte de pôr música" ou de a produzir, tentem perceber se há quem goste, se há quem a queira consumir e quem queira pagar por ela. Se querem viver da música, têm de ter um produto ou serviço que outros queiram comprar ou que sejam impulsionados a adquirir através da promoção da mesma. As regras de mercado são as mesmas para a música e para os artistas como são para uma lata de refrigerante ou para um quadro pintado por um artista ou pintor. Enquanto continuarem à procura de alguém para trabalhar por vocês, continuarem com a desculpa de que não são o que queriam ser porque não vos dão oportunidades e enquanto não perceberem que nem todos podemos ser aquilo que sonhámos, vão continuar a viver num "limbo" de onde dificilmente irão conseguir sair.
 

Um artista tem de olhar para si como um produto. Produto esse que tem de ser constantemente promovido/divulgado e que seja "apetecível" a sua aquisição.

 
Possivelmente este será o texto mais duro que escrevi até hoje para um meio de comunicação mas tinha de o fazer. A partir do momento em que queres envolver dinheiro, as regras para este meio são as mesmas do resto do mercado. 
 
Se achas que o teu serviço de DJ é uma arte ou se a música que produzes tem de ser comprada ou "consumida", tens de perceber que ninguém é obrigado a "ouvir-te" e só te pagam por isso se quiserem ou se deres retorno a quem adquire os teus serviços. A partir do momento em que queres envolver dinheiro, as regras para este meio são as mesmas do resto do mercado.
 
Desculpas como "ser DJ é ser educador musical" ou "não quero produzir música comercial mas quero que a comprem" é algo que não faz sentido nenhum nos dias de hoje. Ninguém te disse que eras professor de educação musical nem ninguém compra algo que não quer consumir. Aproveito ainda este texto para esclarecer que música comercial é algo "vendável" e que seja comprada/adquirida, seja ela de que estilo for, do mais underground ao mais pop. Há música alternativa que é extremamente comercial e artistas sobejamente conhecidos e reconhecidos. Ouvir produtores dizerem que se recusam fazer música comercial mas depois querem que ela seja comprada, é algo que ainda estou a tentar perceber a lógica. 
 
Hoje vou terminar por aqui porque já estou a entrar no tópico do meu próximo artigo de opinião mas não vos posso deixar sem umas palavras mais motivadoras depois de tudo o que escrevi. Não deixem de perseguir os vossos sonhos. Como alguém disse uma vez, "o sonho comanda a vida", só precisam de entender que se querem colocar o dinheiro no meio do vosso sonho, então deixam de estar a sonhar e têm de viver a realidade.
 
Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
terça, 01 março 2016 20:53

Obrigação ou imposição?

Olá noctívagos, foi longo o tempo que passou desde a minha ausência neste meio editorial de temática noturna. O pedido de participação da 100% DJ estende-se desde longa data e várias foram as recusas, não por falta de interesse, não por falta do mérito neste editorial que merece desde sempre e cada vez mais o apoio dos profissionais da noite, simplesmente porque o meu rumo profissional foi-se afastando desde meio, nunca a 100%, mas a vida são portas que selecionamos, abrimos e fechamos no constante dia-a-dia. Atempadamente a 100% DJ fez o convite que foi aceite no momento, no entanto os dias passam a correr, as semanas e meses sem vermos vão riscando o calendário e dei por mim a 24 horas da entrega desta crónica. Não é fácil cumprir prazos editoriais, mas eu, confesso que abusei da boa vontade tão atempada por parte da 100% DJ. Com isto, dei por mim a pensar se escrever esta crónica seria uma obrigação ou uma imposição. A minha forma de escrita é direta e sincera, dito isto, a resposta não podia ser mais clara que, não é uma obrigação, nem é uma imposição, é o respeito pela 100% DJ, é o respeito pelos seus leitores.
 
Na noite há situações nas quais se aplicaria a mesma questão “obrigação ou imposição?”, ora vejamos, selecionemos uma das posições de profissionais mais aclamadas do sector, o DJ! É obrigação aceitar alguns trabalhos ou é imposto que o faça? É obrigação ter que tocar alguns temas ou é imposição? Focaremos inicialmente o primeiro ponto. O aceitar algumas datas, gigs, trabalhos, como acharem melhor expressão, vai depender muito da carreira do mesmo, do “estatuto” que o mesmo conseguiu ganhar, conquistar e alcançar. Um artista em início de carreira e completamente amador deverá aceitar todo e qualquer tipo de trabalho, é em prólogo do mesmo esta aprendizagem, o ganhar experiência, sujeitar-se mesmo àquelas casas que nada conhece e por vezes de pista vazia…
 
Um DJ em início de carreira mas já com nome “regional”, não diria que bloqueia casas que não são do seu interesse, mas não aceita caches ridículos, não aceita tocar numa casa que trabalhe com um estilo musical com que não se identifica, ou fora da sua zona de conforto; este modelo ambiciona alcançar mais degraus, patamares e estatuto, preocupa-se com cada passo que possa dar em falso, prejudicando o seu futuro.
 

(…) pedir uma kizomba, a um DJ bem definido na vertente Techno, House, ou mesmo EDM, seria no mínimo ridículo (…)

 
Por fim, temos o DJ de renome, e não, não falo de um estatuto “topo”, não falo do artista que já alcançou inclusive renome internacional, este, antes de aqui chegar esteve anos num “piso” que não é “carne nem é peixe”, no entanto é alguém com nome no mercado, é aquele artista que no mínimo quando é falado, quem não conhece, responde, “não sei quem é, mas já ouvi falar”. Este artista está num patamar em que se pode dar ao luxo de selecionar onde irá tocar, esta questão pode não só partir de pontos pessoais, como de uma questão de gestão de carreira, ou seja, não tocar repetidamente num raio de quilómetros dentro de um determinado tempo de modo a não cansar o mercado e por sua vez o seu nome. Esta gestão neste patamar é já muitas vezes feita por um manager ou um bom booker que tenha capacidade de aconselhamento. Aquando a chegada a este “estatuto” o artista jamais aceita tocar num evento, ou numa casa que não seja o seu estilo musical (já muito bem definido neste patamar), a título de exemplo, pedir uma kizomba, a um DJ bem definido na vertente Techno, House, ou mesmo EDM, seria no mínimo ridículo, e o próprio público com “dois palmos de testa” nem se atreveria a fazer este pedido, isto aquando conseguida a aproximação do artista, muitas vezes inalcançada já neste DJ.
 
“Estatuto” - palavra tão usada nas linhas anteriores, de ânimo leve, bem sei, trata-se de anos de trabalho, nos quais tantos ficam “à sombra da bananeira” e acabam por desistir.
 
Em suma, e tentando concluir sem me alongar este ponto, até serem “gente”, sejam humildes! Vivemos uma geração em que está na moda ser DJ, quem leva esta profissão a sério são poucos, o que torna tudo muito mais difícil. “Obrigação ou imposição?” - depende de ti!
 
A música, o género, as faixas! 
É aqui que se coloca a grande questão, a prova de fogo. Para bons entendedores, as linhas anteriores serviriam de resposta a este segundo ponto. No entanto, vivemos nos últimos anos a “geração Juke Box”, dou por mim a partilhar a cabine com profissionais, colegas, amigos, que são abordados constantemente ao longo da noite com pedidos de temas, géneros e autores. Ora… falemos do passado, a cabine do Disc Jockey não era inacessível ao público há 15 anos porque ele tinha mau feitio, era justo por situações como a descrita agora.
 

(…) um DJ, nomeadamente os residentes, tantas vezes esquecidos, e são quem exerce a função de melhor escola dentro da profissão (…)

 
Escuto entre conversas, entre amigos de profissão, entre profissionais por diversas vezes, que o público é limitado, pede sempre os mesmos temas! A questão impõe-se: devo ou não ceder a estes pedidos?
 
Serei obrigado? Sinto a imposição do público…
 
Como tudo na vida aplica-se o bom senso, o nem 8 nem 80, mas acima de tudo, se um DJ, nomeadamente os residentes, tantas vezes esquecidos, e são quem exerce a função de melhor escola dentro da profissão, um artista que toca numa casa de estilo misto e que acabou de tocar mais de 15 minutos de kizomba, muda o seu estilo para house ou qualquer outro, e eis que surge o “piolho” do público a pedir aquele tema da moda dentro do género “kizomba”, é óbvio que este pedido deve ser totalmente ignorado! 
 
Eis que se coloca a grande questão… “mas passado uma hora devo repetir? É uma obrigação? Ou é uma imposição?” Tantas vezes do público, tantas outras do gerente ou proprietário da casa. A resposta certa?! Gostaria de dizer que não! Não vão repetir um tema que acabaram de tocar, MESMO HÁ UMA HORA ATRÁS! Lembram-se do bom senso? Eis a hora de aplicar o mesmo. Para obter a resposta, pensem, ou perguntem-se! Quem sou eu? Onde estou a tocar? Mas acima de tudo… quem está na pista? A noite é um negócio! A mercearia vende batatas, o banco notas e a discoteca bebidas, consumidas por quem vos ouve, sem eles, não és nada! É a eles que tens de agradar! Significa isso que tens de te repetir? Significa isso que tens de fazer um mau trabalho que não gostas nem consideras correto? Volta ao ponto 1! Em que patamar estás tu?
 
Obrigação ou imposição? Foste obrigado a colocar ou a tocar aquele género musical? Foi-te imposto aquele tema? 
 
Não! O bom senso! Tu mesmo deverás chegar à resposta do que foi certo naquele momento. Naquela casa. Naquele gig. Naquele momento da tua carreira! Mas acima de tudo, o que o público estava a sentir.
 
Mais que um profissional, és um educador musical. Não o fazes por obrigação, não o fazes por imposição. É a profissão que escolheste, é isso que queres ser?
 
Ivo Bacelar
Publicado em Ivo Bacelar
quinta, 10 julho 2014 22:20

Agente ou não? Eis a questão

 
Ter ou não ter um agente ou um manager? Acho que essa é a questão de tantos DJs, a partir de certa altura. Os prós e os contras existem, dependendo da direção que se quer seguir, a de continuar a ser "o amiguinho" dos donos das festas e dos clubes (aqui também há vantagens e desvantagens) ou a de tentar profissionalizar a coisa no mercado, que, como o português, pouco ou nada é "profissionalizável" (lol)... e com que pena digo eu isto... assumo que acredito muito pouco em algumas empresas de eventos, que tantas vezes nem coletadas estão... enfim, mas isso já é outra praia... porque também os há, os idóneos e com essa mão cheia de gente dá mesmo gosto trabalhar.
 
Ter ou não ter um agente ou um manager? Das duas uma: ou quando as coisas não estão a correr bem e se precisa de um input de carreira ou então porque as coisas correm tão bem e as solicitações são tantas que se precisa de alguém que faça a sua gestão como de deve ser.
 
Sim... para profissionalizar a coisa, ter um agente é um "must", mas os agentes são mesmo isso... "a-gente". E aqui, há, como em tudo, gente "da boa" e gente "da má". Por isso, este passo é de extrema importância para um DJ ou qualquer outro artista - sei de histórias de extrema empatia e sei de outras que acabaram em lutas de cão e gato daquelas à séria...
 
Ter uma pessoa que nos represente pode ser condicionante para a consolidação da nossa carreira ou para o fracasso da mesma. 
 
Para mim, estas serão as exigências que qualquer DJ tem que ter atenção para que um "namoro" passe a "casamento": A imagem dele(a) tem que ter a ver necessariamente com a do artista. Ele(a) será um pouco como o cartão-de-visita do mesmo. Imaginem um metaleiro a tratar dos teus gigs de DJ de house... não liga pois não?!
 

Imaginem um metaleiro a tratar dos teus gigs de DJ de house... não liga pois não?!

Terá sempre que ficar bem assente, em conversas quase formais para que não se desfoquem, se a direção que o artista deseja para a sua carreira e a que o agente/manager está a estruturar correspondem aos mesmos desejos (imaginem um estar na onda dos sunsets e o outros vendê-lo para afters.)
 
Um agente pode negociar valores e um DJ, nunca deve ir por trás e renegocia-los (nem que isso, nos corroa por dentro...)
 
Um agente deve orientar o agenciado, mas a última palavra deverá ser sempre do DJ (há quem prometa mundos e fundos… mas a vida é nossa e daqui a um ano ou dois, se o agente já cá não estiver, o seu "legado" mantém-se e muitas vezes a imagem criada nessa época também, nunca nos esqueçamos disso)
 
Por fim, deixem-me só dizer que ter um agente e ter um manager não é a mesma coisa. Um agente "vende", faz "booking", trabalha com o material que existe, é um "flirt" na tua vida. Um manager é quase como um novo membro da família. Normalmente quando estão empenhados e são bons no que fazem, são quase como uma sombra de ti mesmo. Ajudam-te a construir uma imagem específica, criam situações quando não as há, são criativos a arranjar trabalhos, vivem-te e respiram-te. São raros. Mas existem. Encontrá-los é que não é fácil. Muitas vezes, pagar-lhes... também não.
 
Como em tudo, quem é bom merece a nossa confiança, mas todo o cuidado é pouco, principalmente para alguém, que, como eu e outros, já temos um caminho percorrido e um nome criado na praça. Quantos "agentes" julgam que encontraram a "galinha de ovos de ouro" e depois o trabalho afinal no terreno não é tão fácil como acreditavam ser e passamos de "bestiais a bestas" num ápice... não, cruzes credo! Desses cá não queremos! Mas aqui entre nós... já me calharam uns quantos oportunistas no caminho e que depois não são de fácil desapego.
 

(...) esta questão é tal e qual como numa relação amorosa, pode ser um pau de dois bicos: Ou uma prisão e foco de tensão, ou um descanso e sensação de companheirismo e foco.

 
Ter visibilidade pública é um "acepipe" muito grande para alguns passarões, tenham cuidado. Mas não desmotivem. Olhem para mim, ao fim de algumas relações falhadas, encontrei a minha "alma gémea". Não, não dormimos juntas, nem damos beijinhos na boca, mas partilhamos ideais, sonhos criativos, temos elasticidade suficiente para ir criando estratégias de acordo com as exigências do mercado e… sinto-me acompanhada o que é tão bom para uma pessoa como eu. Nunca gostei de caminhar sozinha mas também estou tão queimada com as "más companhias" que o destino me foi oferecendo ao longo dos anos, que encontrar a pessoa certa é uma bênção.
 
Ter ou não ter um agente ou um manager? Então cá vai: para mim, esta questão é tal e qual como numa relação amorosa, pode ser um pau de dois bicos: Ou uma prisão e foco de tensão, ou um descanso e sensação de companheirismo e foco. Resta-me desejar-vos sorte na escolha da pessoa que vos acompanha e no percurso da vossa carreira.
 
Beijinhos eletrónicos e cheios de boas vibes! ;)
 
Rita Mendes
Publicado em Rita Mendes
quarta, 19 abril 2017 19:19

Portugal, país de oportunidades

Numa altura em que o "mercado dos DJs" atravessa uma nova fase, as oportunidades para os novos artistas são mais que muitas. Acabo de chegar das viagens de finalistas e do Festival do Secundário onde dezenas de DJs tiveram a sua oportunidade de mostrar o seu trabalho. 
 
Muito se fala da falta de apostas em novos talentos mas a realidade é que existe uma crescente oferta no mercado que, a meu ver, é tudo menos benéfica para quem está a dar os primeiros passos. São criadas falsas ilusões que inflamam o ego e criam expectativas erradas nos novos DJs. Actuar para centenas ou milhares de pessoas em início de carreira é o maior erro que alguém pode cometer se não tiver "cabeça" para perceber que ninguém estava presente nesses eventos para os ver/ouvir e onde já existe um público com disposição para ouvir uma determinada sonoridade.
 
A desilusão e a revolta é o que se segue. Muitos destes DJs ficaram a pensar que tudo é fácil, tudo vai acontecer sem esforço e que o telefone ou o mail vão receber contactos. Não podiam estar mais errados. 
 
Em todos os anos que trabalhei com DJs, já tive oportunidade de efectuar marcações para praticamente todos os grandes palcos Nacionais e com artistas diferentes. Todos eles (DJs) tiveram de perceber que não é uma actuação que os vai catapultar e manter no mercado. Assim que uma actuação termina, todos têm de ter a noção que estão "desempregados" até à próxima actuação e que há trabalho para ser feito. Não é por terem actuado no Rock In Rio, Sudoeste, Expofacic, Queima das fitas ou numa viagem de finalistas que a sua carreira está lançada e consolidada. 
 
Quantos DJs e Produtores tiveram "hits" ou tocaram nos melhores palcos e clubes nacionais e de um momento para o outro desapareceram? Basta pensarmos um pouco e encontramos uma "mão cheia" de grandes nomes que "desapareceram" do mercado. 
 
Todas as semanas recebo pedidos de novos DJs a "reclamar" por oportunidades. Todos eles esquecem-se que as oportunidades não surgem com a marcação de uma actuação e que o que estão a pedir só pode partir deles próprios. Cada novo DJ/artista tem de criar e procurar a sua "oportunidade" e ela não está numa actuação num palco ou cabine. 
 
A oportunidade que procuram está na sua capacidade de trabalho, empenho, investimento e perseverança. É o próprio DJ/artista que tem de criar à sua volta um grupo de pessoas que o sigam, que o queiram ouvir e que apreciem o seu trabalho. Quando tiver alguém que pague para o ver/ouvir, garanto que haverá quem o contacte para actuar porque isto é um negócio. 
 
Esqueçam aquelas palavras do "amo o que faço", "ser DJ é uma arte", "a minha musica é boa mas ninguém a houve porque não toca na radio", etc. 
As produtoras, editoras, rádios, TVs, etc. vivem e conseguem manter as portas abertas com dinheiro e não com "amor, arte e boas intenções". 
 
Sim... Portugal é um País de oportunidades mas não há quem trabalhe de borla. A indústria musical e do entretenimento precisa de novos talentos e "sangue novo". Ninguém está disposto a investir tempo e dinheiro em alguém que ainda não provou que esse investimento vai dar retorno. 
 
A "oportunidade" tem de ser criada. Não é com uma agência/agente ou investidor que essa oportunidade vai surgir. Tem de partir do DJ/artista e não basta ter qualidade (ou achar que tem). É preciso investimento de tempo, dinheiro, trabalho e perseverança para se conseguir atingir os objectivos.

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
Todos falavam da iminência de uma nova crise, no final de 2019 era prognóstico que no ano seguinte era certo que uma crise económica nos iria bater à porta. Ninguém ligou, qual 1.º prémio do Euromilhões, que todos pensam que só sai aos outros, a crise veio por forma de uma pandemia que nos confinou todos em casa, que desacelerou a economia a velocidades perto do ralenti, fechou quase todos setores de atividade, foi democrática e ninguém estava preparado.

A noite foi das primeiras a fechar portas, mesmo antes do governo decretar o seu encerramento, já muitos cancelavam eventos e outros fechavam mesmo portas. Foi a primeira a fechar e, apesar dos esforços dos empresários desta indústria, parece estar a ficar para o fim sem data marcada para abrir portas. 

E que noite podemos nós encontrar? Como serão as discotecas e os bares adaptados a esta nova realidade? Tenho pensado muito neste assunto e não se admirem se aquilo que irei agora escrever seja diferente do que já tenha escrito no passado, mas a realidade é que, em virtude das informações e desinformações que tenho recebido, ao longo deste tempo de pandemia, tenho tido um comportamento quase bipolar e muitas vezes prefiro reduzir-me ao silêncio.

A pergunta é simples, é possível, com todas as restrições abrir uma discoteca ou um bar? Sem dúvida, todos os espaços podem abrir e, acima de tudo, têm o direito de abrir, coloquem todas as restrições, imponham as regras, exequíveis claro, mas permitam que cada empresário tome a decisão de abrir ou não, se pode e tem condições para abrir ou não, porque os seus clientes, os utentes da noite também têm o direito de escolher se vão ou não comparecer na noite. 

A palavra de ordem é "bom-senso", por parte de todos, os empresários e os utentes. Porque a realidade é esta: ou nos portamos bem ou, à imagem do ocorrido da Febre Espanhola, uma segunda vaga será catastrófico, por isso "juizinho". 

Tudo é possível, com peso e medida. Todos de máscara na noite? Será possível projetar uma noite onde todos estarão de máscara? Com certeza, até digo mais, pode ser muito divertido, com a certeza que a pista de dança saberá bem melhor. Covid-vos a dançar... Boa noite!
 
Zé Gouveia
Publicado em Zé Gouveia
sexta, 29 maio 2020 22:08

Indústria da noite VS Pandemia

Nesta minha crónica para a 100% DJ decidi não falar do foco principal que normalmente guia a ideologia desta plataforma, mas faço-o muito por achar que nesta altura as duas acabam inevitavelmente por estar interligadas, ao mesmo tempo que peço desde já desculpa aos leitores pela extensão da mesma. 

Desde o princípio do mês de Março que o nosso país, bem como o resto do mundo tem sofrido de uma forma absolutamente inesperada com uma pandemia assassina e muito calculista que tem matado indiscriminadamente um pouco por todo o mundo. Na altura, o confinamento geral acabou por ser a decisão mais correcta, causando danos imediatos na nossa sociedade e comércio, bem como na nossa indústria, a nocturna, que como todos sabemos vive constantemente numa situação periclitante e de constante luta pela sobrevivência. É evidente que factores como o distanciamento social e todos os cuidados que nós, como cidadãos, tivemos que começar a adoptar, imediatamente fizeram perceber que os negócios de diversão nocturna iriam imediatamente ser os mais afectados, e com todo o sentido. 

A verdade é que cumprimos o nosso papel e, sem qualquer tipo de indicações ou apoios de qualquer espécie, fomos até, por iniciativa própria, os primeiros a compreender que era hora de cerrar os punhos e lutar contra um inimigo invisível. Os dias foram passando, a pandemia foi sendo controlada, o nosso país e Governo foi tido como exemplo lá fora e lentamente foram começando a ser dados passos para que lentamente pudéssemos todos voltar à normalidade, mesmo que condicionados e sendo obrigados, como é lógico, a ter em linha de conta que o problema não tinha desaparecido, mas sim controlado. 

Sector a sector, muito cuidadosamente, foram sendo abertas as portas das vidas de milhares de empresários, que puderam pelo menos olhar para o futuro com uma perspectiva mais animadora. Até aqui tudo bem, até nos termos começado a aperceber que esta mesma esperança não iria ser dada a todos, tendo inclusivamente os bares sido passados do sector de restauração e bebidas, onde sempre "viveram", para um sector invisível que até aos dias de hoje ainda não conseguimos muito bem perceber qual é. Numa primeira fase abriria a indústria que teria que abrir, e bem, e os bares e discotecas nem sequer eram tópico de conversa, quanto muito com uma previsão, mas na altura achei que tal era perfeitamente compreensível. Seguiu-se a segunda fase de desconfinamento, abrindo já o sector de restauração e bebidas, de onde os bares foram retirados como que por magia, e mesmo que com regras e restrições de horários lá tivemos cafés e restaurantes a ter a possibilidade de funcionar, sendo mais uma vez o sector noturno ignorado e sem qualquer tipo de informação relativamente ao futuro. Nesta altura, já os empresários lutavam contra a situação de ausência de qualquer tipo de apoio ou pelo menos uma perspectiva que daria uma luz ao fundo de um túnel muito escuro.
 

É verdade que faltará muita organização para se conseguir criar uma força que realmente tenha um peso suficiente para que pelo menos sejamos considerados, e isso é sem dúvida culpa nossa (...)


É verdade que faltará muita organização para se conseguir criar uma força que realmente tenha um peso suficiente para que pelo menos sejamos considerados, e isso é sem dúvida culpa nossa, se calhar passamos tempo demais a trabalhar e não devíamos, mas isso não significa que, devido a isso, tenhamos que continuar a ser ignorados quase em forma de desprezo ao ponto de serem absolutamente inexistentes as palavras "sector nocturno" nos comunicados do nosso primeiro-ministro, à excepção da única vez em que foi confrontado directamente por um orgão de comunicação social, a TSF, tendo o mesmo até parecido ter ficado bastante incomodado ao ponto de apenas dizer que se a indústria nocturna tivesse que ficar encerrada durante o Verão, iria ficar e isso não iria ser problema nenhum. 

Quando tomei conhecimento deste comentário, na minha opinião de uma irresponsabilidade política absolutamente inexplicável, dei por mim a analisar a situação actual, na qual observo alguns café e restaurantes que têm que encerrar às 23 horas, a funcionar ilegalmente até horários permitidos aos bares, a oferecerem serviços de bar sem terem qualquer tipo de especialização para isso, e numa altura em que até já se fala em levantar grande parte das restrições a este tipo de estabelecimentos, muitos deles continuam a não mostrar qualquer tipo de preocupações com as regras da Direção Geral de Saúde e a laborarem numa perspectiva bastante animadora, até porque se tivermos em linha de conta que uma boa parte da população portuguesa se encontra em "tele-trabalho", várias vezes conseguiremos facilmente afastar o cenário de pandemia dos nossos pensamentos ao andar na rua, tal é a descontração com que vemos as pessoas a retomarem as suas vidas de uma forma absolutamente normal, ao ponto de poderemos imaginar até que estamos em pleno Verão, notando-se um afluxo a esplanadas, cafés e restaurantes absolutamente anormal e até surpreendente para a data, na minha opinião, isto tudo para não falar na proliferação de festas ilegais, algumas que contaram já com mais de 100 pessoas como já me foi relatado por vários colegas de norte a sul do país e onde até, segundo a comunicação social, já aconteceram violações. 
 

Cada um civicamente acaba por ser responsável pela sua conduta, e irá sofrer, ou não, as consequências das suas atitudes (...)


Até aqui infelizmente tudo bem, cada um civicamente acaba por ser responsável pela sua conduta, e irá sofrer, ou não, as consequências das suas atitudes, mas ao voltarmos um pouco atrás reparamos num pequeno pormenor que me parece que estará a passar ao lado da vista de todos. Então, e o sector nocturno, como está no meio disto tudo? Absolutamente esquecido, com senhorios, empresários, bartenders, DJs, músicos, funcionários, marcas de bebidas, pequenos e grandes distribuidores e todos os que dependem desta indústria absolutamente entregues à sua sorte e, pior que tudo, a sentir na pele uma discriminação e desprezo sem comparação num Estado Democrático, ao mesmo tempo que assistem a esta série de acontecimentos que parecem estar a passar ao lado da opinião pública.

Os bares não podem abrir, mas os restaurantes e cafés trabalham o nosso mercado, as discotecas não podem abrir mas o festival do Avante não pode deixar de ser feito, as salas de espectáculos têm limitações do tamanho de 20m2 mas os aviões não têm restrições porque os passageiros apenas olham para a frente, ou seja, resumidamente, a cultura e a diversão nocturna não poderão nunca ser equacionados porque apenas não temos direito e somos um factor gravíssimo de risco. E será que ninguém pensa que talvez conseguíssemos dar mais garantias de segurança do que o café da esquina, onde toda a gente se abraça e faz de conta que tudo isto passou? E será que as discotecas não fariam um melhor trabalho de segurança do que uma qualquer garagem da Amadora? E o que fazemos aos milhares de artistas que ganhavam a vida a causar lazer e descontração a todas estas pseudo-figuras nas suas pausas de trabalho no Verão onde já eram imprescindíveis, para lhes dar música, fazer cocktails ou simplesmente os servir, o que fazemos aos milhares de funcionários altamente especializados que cada vez mais engrandeciam a qualidade de serviço do nosso país ao ponto de colocar Portugal como um dos mais apetecíveis destinos turísticos do mundo? O que fazemos aos milhares de espaços que anualmente enchiam os cofres do Estado com milhões de Euros em impostos apesar de serem constantemente bombardeados com impostos, taxas e licenças completamente desajustadas e algumas até inconstitucionais. 

Já não basta sermos preteridos em relação a um qualquer café ou esplanada que há anos que só sabe o que é servir cafés, tostas-mistas ou refrigerantes, ou a uma qualquer garagem ou anexo de acesso duvidoso, onde não existe qualquer tipo de segurança, não só contra o Covid mas também contra a nossa própria integridade física?
 

A pior coisa que poderemos algum dia sentir como cidadãos contributivos e activos dentro da economia do nosso país é sermos constantemente postos de lado, ao ponto de nem contarmos para uma terceira fase, e última de desconfinamento.


A pior coisa que poderemos algum dia sentir como cidadãos contributivos e activos dentro da economia do nosso país é sermos constantemente postos de lado, ao ponto de nem contarmos para uma terceira fase, e última de desconfinamento. O tratamento tem que ser igual para todos, cada sector tem que trabalhar para o seu mercado, porque é precisamente para isso que está habilitado, e um estado de direito não pode nunca dar a entender que devido a interesses políticos, existem prioridades e não-prioridades, a isto se chama viver num estado democrático. Ou se abre ou se fecha tudo, conforme os interesses não é boa política. 
Onde está o dinheiro dos nossos impostos de que finalmente tanto precisamos para conseguirmos superar isto? É que agora precisamos dele, e não pode haver desculpas. Acho também que está na altura de darmos o nosso grito de revolta, espalhando a nossa revolta um pouco por todo o país, até porque, ou muito me engano, ou não me parece que esta situação vá ter algum tipo de alteração nos tempos mais próximos, até porque à hora que escrevo esta crónica recebo a notícia de que por exemplo os cinemas vão abrir com total liberdade em termos de ocupação, já para não falar dos aviões não vão ter também qualquer tipo de restrições e até da festa do Avante, que vai ter que ir para a frente. E como ficamos nós, bares e discotecas deste país? Provavelmente iremos ter que deixar de existir...

Para terminar, e como um artista que já levou o nosso país a todo o mundo, e como empresário que já há muitos anos contribui arduamente para o sistema financeiro do nosso país, sempre sem falhar, até porque tal não me é permitido, ao contrário do oposto, sinto que o meu país está a falhar comigo, com os meus colegas artistas e com os meus colegas empresários, e isto é simplesmente inadmissível, diria mesmo que é uma vergonha pandémica! 

A realidade é esta, nós para eles não contamos para nada, a não ser para entregar os impostos, e isto é uma postura de país de terceiro mundo completamente inaceitável em pleno Século XXI. Está na altura de darmos uso à nossa voz, até porque como já percebemos, a comunicação parece claramente estar em sincronia com esta ostracização em relação a esta situação, ou muito me engano ou estamos prestes a ser o único sector a nível nacional que irá continuar encerrado.
 
Carlos Vargas
Publicado em Carlos Vargas
Portugal está cada vez mais na rota dos grandes DJs. Ao longo dos últimos anos demos um passo de gigante ao nível da produção de eventos assim como na vinda dos melhores nomes do mundo ao nosso país.
 
Não é de agora esta enorme paixão que Portugal demonstra pela musica eletrónica, muitos dos que lerem esta crónica provavelmente nunca terão ouvido falar de um “Neptunus Festival” entre muitos outros grande eventos que decorreram neste nosso cantinho à cerca de 25, 30 anos atrás. Sempre tivemos uma grande cultura e dance scene, desvanecida um pouco nos últimos anos com certas “modas musicais” ou influências culturais.
 
Com a chegada dos eventos de verão, muitas das ditas “modas” ficam esquecidas e as pessoas que num clube não conseguem ouvir a chamada “música de discoteca”, sim este termo já existiu, acabam por ir a sunsets, festivais, etc., para ver e ouvir DJs. Será que durante o inverno não se ouve música eletrónica em Portugal? É pena pois temos grandes DJs e principalmente grandes produtores, que acabam por não se poder expandir derivado ao estado do mercado, ou melhor, da música que se ouve em muitos dos locais neste momento no nosso país.
 
Tivemos e continuamos a ter nos últimos anos DJs/Produtores portugueses presentes no Top 100 da DJ Mag, goste-se não goste do modelo, seja verdadeiro ou não, ele está lá e acaba por ter um grande peso no mercado em algumas zonas do globo. Para mim como português é um orgulho ver colegas meus de profissão conseguirem colocar o nome de Portugal tanto lá em cima, Diego Miranda, Kura, Pete Tha Zouk e DJ Vibe estiveram e estão no topo dos DJs do mundo, o que é absolutamente fantástico.
 
Os grande festivais estão aí, tanto num movimento mais underground como mainstream, é altura de evasão total com o Algarve como ponto máximo dos grandes eventos e projetos de verão.
 

Para mim como português é um orgulho ver colegas meus de profissão conseguirem colocar o nome de Portugal tanto lá em cima.

 
Vejamos agora com atenção a agenda destes espaços, mais concretamente os “Summer Clubs” onde na maior parte das vezes os proprietários são os mesmos de muitos dos clubes que marcam a cena noturna nacional durante a temporada de inverno.
 
Se existe espaço para todos os gostos com agendas multifacetadas, com vários estilos musicais, (e ainda bem que é assim) porque não aplicarem a mesma estratégia no inverno nos clubes que gerem ou são proprietários. Acho que seria fantástico para a explosão total de novos artistas e conceitos nacionais. Aplaudo novas tendências, sejam elas numa componente eletrónica ou não, mas sair à noite desde terça-feira até ao domingo a ouvir o mesmo em muitos locais, não me parece que seja vantajoso para o desenvolvimento da indústria musical em Portugal. Se nos últimos anos tivemos um boom em produção nacional, porque motivo, tirando raríssimas excepções, muitos dos grandes produtores portugueses não conseguiram vingar lá fora? Talvez pela necessidade de trabalhar “para dentro de casa” e viver ou sobreviver, pois se não for dessa forma torna-se impossível fazer uma carreira sólida em Portugal, enquanto que os outros que não se preocuparam tanto com o mercado nacional, trabalharam para o mundo e foram conquistando o seu espaço além fronteiras
 
Nos últimos três anos tenho viajado um pouco por todo o mundo, Brasil, Dubai, Qatar, Tailândia, República Checa, Suécia, Marrocos, Espanha, entre muitos outros, tive oportunidade de tocar em alguns dos melhores clubes do mundo como o Green Valley no Brasil, Duplex em Praga ou Catch na Tailândia e por mais que viaje e toque pelo mundo é sempre melhor estar com os nossos, e sei que temos condições para ser cada vez mais uma referência no que diz respeito a “night scene” mundial, basta apenas uma mudança de estratégia e colocar em prática as mesmas ideias aplicadas durante o verão em Portugal, onde se ouve de tudo, segmentado e nos mesmos espaços. Se o caminho for bem feito, teremos grandes produtores e DJs portugueses a dar cada vez mais cartas fora do nosso país.
 
Agradeço mais uma vez ao Portal 100% DJ o convite para escrever esta crónica, é e será um prazer enorme colaborar e trabalhar em conjunto para um melhor desenvolvimento da música em Portugal.
 
Eddie Ferrer
Publicado em Eddie Ferrer
quarta, 02 setembro 2015 14:53

O Eldorado

Nem só de Algarve vive o verão, mas é nesta zona do país que se situam os spots mais apelativos e também os maiores investimentos. Fazer um bom spot não é fácil, carece de:
  • Forte investimento de infraestruturas - e cada vez os patrocínios são mais escassos; 
  • Qualidade de serviço nem sempre existente porque algum staff pensa que está também em férias ou em festa;
  • Bom cartaz e aqui pouco tenho apontar, já que passaram pelo Algarve todos os grandes nomes nacionais e bons artistas internacionais;
  • Bons preços de porta e bares, e ainda, este ponto não é de somenos, boa segurança. No que respeita à segurança ainda acontecem muitos excessos que, vá lá saber-se porquê, continuam a ser abafados.
 
Como sempre, em todos os verões há espaços vencedores:
 
O espaço T, de José Manuel Trigo, é um clássico mas que os mais jovens aprenderam a respeitar. A festa do "yé-yé", magnificamente organizada e supostamente para uma faixa etária gold, alicia muitos jovens que se sentem confortáveis num ambiente de gente bonita. Mérito a José Manuel Trigo, que ano após ano não se rende e vai mantendo o seu T num ponto de roteiro obrigatório.

No que respeita à segurança ainda acontecem muitos excessos que, vá lá saber-se porquê, continuam a ser abafados.

 
O grupo Nosolo, trabalha todo o ano e bem. Os sunsets continuam a ser uma referência e o Água Moments consegue impôr algumas festas que lhe trazem crescimento e prestígio. Trabalha durante um período maior e por isso, considero o grupo Nosolo o que mais faz pelo Algarve.
 
O Seven é um espaço pouco bonito, com um cartaz pouco uniforme, mas que recebe os mais jovens que ali se sentem em casa. Digamos que o Seven se adaptou a um público-alvo de baixa idade, o que faz dele um vencedor.
 
O rei dos Algarves é o Bliss e não digo isso porque a MayaEventos assinou três das suas festas - Vidas CM, Flash! e Máxima - digo-o porque é o sentimento de quem viveu o verão algarvio quer como cliente, quer como imprensa e ainda as marcas que vêem o seu branding e vendas coroados com bons valores. Staff, cartaz e animação - a cargo de Paulo Magalhães Produções - todos levaram as noites únicas e inesquecíveis. Hugo Tabaco, que enquanto DJ tem ganho notoriedade e até lançou o tema “Treasure”, teve como os seus sócios um verão ‘blissimo’.
 
O Sem Espinhas Natura, na praia do Cabeço (Castro Marim), que representa o beach club na sua essência: pé na areia, bom som e liberdade. Cada vez mais lidera o Sotavento.
 
Na categoria "one night shot", o concerto de David Guetta em Quarteira, foi um sucesso.
 
Por tudo o que vi, ouvi e reflecti, houve dois espaços que poderiam ter estado melhor: 
 
O Palms, que nasceu torto em 2014 e não foi ainda este ano que se levantou. Teve noites muito fracas apesar dos seus relações públicas e promotores terem feito um excelente trabalho. Mas ainda assim o espaço e a marca não pegam e se não fosse a festa SIC Caras, nem se ouviria falar do espaço com alguma elegância.
 
O Búzios Portimão, que num misto de concertos e DJs não fez esquecer o MEO Spot, pelo contrário. Este espaço, com uma equipa que tem, mais um ano de concessão, pode fazer melhor em 2016.
 
Há outros de que não falo, não por falta de respeito ou desconhecimento, mas porque a sua expressão se manteve igual e não conheceram destaque, nem para o bem nem para o mal. Antes assim.
 
Mas não se iludam empresários e "paraquedistas" da noite deste país ou de outros. O Algarve não é o Eldorado.
 
Venham as rentrées!
 
Maya
MayaEventos
Publicado em Maya
Se estás a tocar e achas que o teu público é mau… és provavelmente tu que estás mal.
 
Não me interpretes mal. Não te estou a dizer que és mau no que fazes, ou que tocas mal. Estou-te simplesmente a dizer que estás no local errado a fazê-lo. Este é um dos primeiros e principais erros de percurso dos DJ’s em início de carreira: lá porque que o teu set funcionou no local A não quer dizer que funcione no local B. O tempo, o espaço e as expectativas do público são factores determinantes para o sucesso da tua prestação. Mas vamos por partes:
 

AS EXPECTATIVAS

 
99% das pessoas que vão a festivais de EDM (Tomorrowland, Ultra, EDC, etc..) vão na expectativa de ouvir EDM. O que aconteceria se num festival em que existe esta expectativa aparecesse lá um DJ que ninguém conhece, com os últimos êxitos do Kizomba e Reggaeton? Provavelmente ficaria para a história no guiness como o tipo que conseguiu mais assobios em simultâneo. O que aconteceria se subitamente num festival de Reggae como o Rototom ou, em Portugal, o MUSA, aparecesse uma banda de Death Metal ? Por acaso esta não sei.. mas era engraçado de se ver o resultado.. Mas já perceberam onde quero chegar. Existem expectativas, as pessoas são rígidas quanto a elas e intolerantes com tudo o que fuja a essas expectativas. Isto é válido para bares, discotecas, sunsets, festivais, afters… tudo!
 

O ESPAÇO

 
O espaço é outro factor determinante na recepção do público a determinado repertório musical. Estás num bar numa praia, pôr do sol, caipirinhas na mão, miúdas giras, um PA que não aguenta assim tanto… e um DJ a tocar dubstep.. faz sentido? Não me parece. Da mesma forma que não faz sentido ouvires Chillout num festival open air com uma mega produção de som e luz. A música adapta-se ao espaço e às suas condições. Não o espaço à música.
 

O TEMPO

 
Ora aqui está um dos factores mais importantes e um dos mais difíceis de gerir. Aqui não existem regras. Só lá vai com experiência e olhos no público. A quantidade de DJ’s que erra neste ponto é avassaladora. Todos os espaços e festivais têm o seu tempo. O tempo em que o público chega ao festival, vai beber uma bebida e conhecer o espaço, se ambienta, ganha mood, ganha espírito e se começa finalmente a libertar. Não há ninguém - nem mesmo o maior party animal do mundo - que chegue a um festival e mal entre seja transportado para um estado em que instantaneamente está aos saltos ou a fazer moches. O público tem um tempo para se ambientar e começar a responder. E da mesma forma tu enquanto DJ também tens que gerir o teu tempo da melhor forma. Se tens 2 horas para actuar e 30 minutos daquelas músicas que deixam toda a gente literalmente a dar o máximo, não as descarregues todas seguidas ou no início da actuação. Mas também não as deixes todas para o fim. Gere-as de forma inteligente.
 
Por isso se tocas EDM e te metem num bar que todas as noites vai corrido a Kizomba e Reggaeton, estás mal tu - que foste ao engano -, está mal o bar - que te contratou para ires tocar -, mas nunca está mal o público. Há público mais frio ou mais quente a reagir. Mas nunca há mau público. Dizermos que “o público é que não sabe o que é bom” é só o maior erro e a maior falta de humildade que podemos ter enquanto profissionais e o princípio do fim de muitas carreiras promissoras, até porque são poucos - pelo menos em Portugal - os que se podem orgulhar de dizer: este espaço encheu e estas pessoas estão todas aqui por minha causa: eu toco o que quero.
 
Em suma, há expectativas, espaços e tempo para tudo. Se conseguires gerir estes factores da melhor forma, é meio caminho andado para seres bem sucedido.
 
DJ e Produtor
Publicado em Hugo Rizzo
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