Chamo-me Herick Pinto, conhecido como "Baruke", tenho 23 anos, sou DJ profissional há 1 ano, fui formado na Academia Internacional de Musica Eletróncia (AIMEC) e contarei aqui um pouco sobre os sonhos e dificuldades que um jovem DJ encontra no início da carreira.

Desde que me entendo por gente que amo a música e tinha o sonho de seguir esse ramo de trabalho, poder expressar os meus sentimentos, transmitir para o público o que estava a sentir e fazer com que eles também vibrassem e entendessem a história que a minha música estava a contar.

Acredito que como um jovem DJ, não só eu, mas, como todos vocês que estão a iniciar a carreira, posso dizer que partilhamos o mesmo sonho: atuar em grandes palcos, participar nos festivais que fomos como público, mas agora como DJs, sermos reconhecidos, dividir o palco com os nossos ídolos, etc.; Só que muitos não imaginam as dificuldades que existem por trás disso e sonhar é realmente muito bom, mas acho que devemos também tentar perceber e contornar as dificuldades que vão aparecer ao longo do caminho. 

Vou tentar elucidar-vos um pouco sobre algumas dificuldades que podem encontrar ao longo do vosso percurso. Claro que é a minha experiência e acho que todos os jovens iniciantes na carreira também o vão passar ou já passaram por isso.

Em primeiro lugar acredito que uma das maiores dificuldades que encontrei foi arranjar gigs onde pudesse atuar, mostrar o meu talento e o meu som, porque ainda não nos conhecem, não somos ninguém aos olhos dos contratantes, não conhecem o nosso trabalho. Então ficam receosos de contratarem, como dizem "o desconhecido assusta". Quando contratam restringem a música que podemos passar, ou seja, só tocamos as músicas que eles querem e mais nada e isso realmente é muito frustrante, pois todos queremos tocar o nosso estilo, mas, acima de tudo acho que temos que parar e pensar que ser DJ também é um negócio e temos que saber aproveitar as oportunidades que nos são dadas, contruir o nosso curriculum, obter experiência em diversos tipo de sítios, seja em esplanadas, bares, discotecas, concertos, etc... tudo isso conta. 

Sem falar na parte em que muitos de nós trabalhamos, pois ainda não podemos viver da música e temos que garantir o nosso sustento e ter também para investir na nossa carreira. Se não podes investir 100% do teu tempo na música a treinar e procurar por gigs, investe 80 ou 70%, mesmo que seja só aquelas poucas horas do dia, faz algo, pois se ficarmos parados à espera que os contratantes venham ate nós e que nossos trabalhos cheguem sozinhos às mãos deles: não vão chegar, é assim que funciona. Por isso, invistam sempre que possam, é essa a minha dica.

Acredito que com foco no que realmente queremos, conseguimos atingir os objetivos que desejamos na nossa carreira. Eu por exemplo já atuei no "Ministerium Club" um espaço que eu só conhecia como visitante e sempre me imaginei a tocar ali, no Palco LG do Meo Sudoeste também tive a oportunidade de fazer o público vibrar e realmente foram experiências incríveis. Por isso, se realmente é o que tu desejas fazer tenho 3 palavras para ti: Foco, Força e Inspiração!
 
Publicado em Baruke
 
Não me identifico com a grande maioria da música produzida por David Guetta, sobretudo porque desprezo o caráter industrial que as suas produções assumiram. São músicas produzidas em série, num estúdio que mais parece uma fábrica "fordista", que visam apenas conservar, a todo o custo, a sua notoriedade, numa indústria cada vez mais efémera e em que a música assume um relevo cada vez menor, sendo apenas uma das muitas variáveis em jogo. Há muitos anos que a música vazia de David Guetta, pura e simplesmente, não me toca.
 
Dito isto, e pondo os gostos de parte, fico sempre incrédulo quando vejo os inúmeros boatos que sobre ele circulam na Internet. O último li-o no Wunderground, um portal irlandês dedicado à arte e música underground, carregado de mexericos e artigos falsos que apenas servem para ridicularizar alguns artistas e capitalizar leitores rancorosos - para os mais incautos, foi deste mesmo portal que saiu a notícia, também falsa, de que Axwell se iria retirar da indústria musical.
 
Estes artigos teriam piada se os leitores percebessem claramente de que se trata de escrita humorística - como acontece, por exemplo, com o Inimigo Público. O problema é que, ao incluir a informação verdadeira e falsa no mesmo saco, o Wunderground gera a confusão e induz os leitores em erro. Para além de o artigo ser uma sátira evidente, repleto de episódios inverosímeis e caricaturais, faz uma alusão a um post no Twitter de Guetta que nunca existiu.
 
Mas o que mais me espantou nesta história, e que acabou por ser a principal razão por que se multiplicaram os sites que mencionaram o assunto, foi o facto de Frankie Knuckles e David Morales, pioneiros do House e referências incontornáveis dos primeiros produtores de música eletrónica portuguesa - entre os quais eu me incluo -, terem contribuído para amplificar o equívoco, ao comentarem, no site da rádio online americana Coco.fm, um artigo falso como se fosse verdadeiro. Aquilo que não passava de um artigo satírico passou a ser visto como notícia.
 
Conclusão: passadas algumas horas, dezenas de sites referiam a polémica e milhares de pessoas em todo o mundo prontificavam-se a crucificar Guetta, com comentários que exalavam ódio e ressentimento. Porquê? Sobretudo, porque, influenciados por uma campanha na Web que visa ridicularizá-lo, não gostam da música que ele passa e produz. Não querendo fazer de advogado do diabo, posso dizer que já o vi a pôr música antes de ele ter atingido o estatuto que hoje tem e, apesar de não ser a minha praia musical, até o achei eficaz e competente. Alguns colegas meus dizem o mesmo. Para mim, a qualidade de um DJ não é medida pelo estilo de música que ele toca.
 

Às vezes, sinto-me numa cena em que estamos todos à espera da machadada final, uma espécie de "Dance Music Sucks" (...)

Não gostar de David Guetta, é uma coisa; enxovalhá-lo e linchá-lo publicamente, utilizando o boato como modus operandi, é outra muito diferente. Os fins não justificam os meios. No final do dia, é toda a música de dança que perde, que fica cada vez mais dividida e, por isso mesmo, enfraquecida. Às vezes, sinto-me numa cena em que estamos todos à espera da machadada final, uma espécie de "Dance Music Sucks", num remake do conhecido episódio protagonizado por Steve Dahl que simbolizou o fim da era Disco.
 
Para além de ter tornado patente a crispação e a divisão que hoje existem entre duas diferentes correntes de música de dança, uma mais underground e outra mais mainstream, este episódio serve para nos relembrar de que é necessário sermos especialmente prudentes quando lemos online. Se nem tudo o que aparece em revistas e jornais é verdadeiro, imagine-se na Internet, que não passa pelo crivo jornalístico ou de gente preparada para rever o material publicado.
 
"Como disse o antigo primeiro-ministro britânico James Callaghan, 'uma mentira pode dar a volta ao mundo antes de a verdade conseguir calçar as botas'. Nunca tal foi tão verdade quanto com a acelerada, destravada e desgarrada cultura da blogosfera da atualidade"1.
 
1Andrew Keen, O Culto do Amadorismo
 
Alex Santos
Publicado em Alex Santos
sábado, 13 junho 2020 23:38

Tempo para meditar

Não faria sentido algum, neste momento, dissociar o mercado dos DJs e Produtores musicais do COVID-19.

Para ser sério, direi que foi o melhor que poderia ter acontecido. Não que tudo estivesse mal mas, a maioria encontrava-se no mau caminho.

Se no que diz respeito aos consagrados pouco haverá a dizer, já que vão garantidamente aproveitar para produzir música, retemperar forças e reaparecer ao seu melhor nível pois possuem situações financeiras que lhes permitem dedicar-se à sua profissão, o mesmo não se poderá dizer da grande maioria e, desta, opto por começar pelos mais novos.

Para estes, melhor do que um semestre de COVID-19 não poderia existir e, embora tema que não vá servir para grande coisa, penso que deveriam ter aproveitado para ler e ouvir música, que julgo ser aquilo que maioritariamente lhes faz falta. Por muito que as pessoas se contorçam com esta afirmação e que a mesma até possa ser vista como afronta, não o é.
 

Mudar, exigiu que os DJs educassem musicalmente o público e, contra ventos e marés, foi exactamente isso que aconteceu.


Se retrocedermos há vinte e muitos anos atrás, facilmente concluímos que, quando a música de dança começou a despertar entre nós, a maioria dos empresários e até clientes, afirmavam à boca cheia que não queriam "martelinhos". Mudar, exigiu que os DJs educassem musicalmente o público e, contra ventos e marés, foi exactamente isso que aconteceu. Dj Vibe, ao contrário do que muitos pensam, não caiu do céu, não foi obra e graça do Espírito Santo. Ouviu muita música e daí, não surpreende que ainda hoje detenha, através da parceria com Rui da Silva - Underground Sound of Lisbon - o maior êxito internacional que algum português alguma vez produziu e que perdura como hino "So Get Up" e que cada um dos seus set's seja uma viagem, naturalmente que uns melhores que outros. Depende do estado de espírito de cada um.

A maioria dos novos Produtores, que serão certamente os grandes da música de amanhã, não conhecem Música além daquela que hoje produzem. Não conhecem, sequer, clássicos de 70/80/90 quanto mais, um pouco de música clássica!

A maioria dos grandes nomes - atenção que estou essencialmente a falar do mercado nacional - foi residente, fez o seu percurso e cresceu. A maioria dos grandes nomes, sabe ir ao baú pois, tem conhecimento, história e arte, a tal arte que aprenderam nos anos 90 em que a máxima era; música é cultura. Se um DJ não educa a sua pista, apenas lhe resta ir copiando o sucesso do vizinho e, daí à maioria das pistas de dança estarem a passar cópias de lixo umas das outras, é o sistema reinante. Ninguém procura ter o seu público procuram sim, copiar o sucesso da pista ao lado seja ele qual for. E os produtores? Fazem exactamente o mesmo!

O COVID-19 veio, se não para safar isto, pelo menos, para voltar a baralhar e para dar de novo. Saiba a nova geração olhar para isto com olhos de ver. Perceber que não é por aquele ser kizombeiro que todos têm que ser kizombeiros ou, porque o que está a dar é a latinada, que Lisboa apenas tem que ouvir latinada em cada porta aberta.
 

Em Portugal, a maioria das rádios passa lixo durante as 24 horas do dia pois, a única preocupação reside nas audiências. Se for Zé Cabra ou Maria Leal que está a dar, é isso que irá passar.


O trabalho das rádios e dos DJs é de educar mas, para educar é preciso ouvir, saber, conhecer e procurar. Em Portugal, a maioria das rádios passa lixo durante as 24 horas do dia pois, a única preocupação reside nas audiências. Se for Zé Cabra ou Maria Leal que está a dar, é isso que irá passar. Quanto mais fácil, brega e sem nexo melhor. Tudo isto seria um cântico gregoriano se os DJs fossem DJs e não, maioritariamente, tipos que, por €50 euros/noite pagos por fora, assumem a categoria dos discos pedidos da senhora que passa a semana a ouvir Maria Leal na rádio e que vê na pista a forma de aplicar os seus trejeitos mundanos entre três vodkas.

Por sua vez, os mais novos, cuja maioria de música pouco percebem, independentemente de existirem alguns com grande valor, ao ser-lhes dada uma oportunidade, agarram-se aos potenciómetros da mesa e aplicam golpes de karate noite fora como que a correr com todos os que estão à sua frente, excepção feita claro está, aqueles vinte que são a sua falange de amigos pessoais e respectivas namoradas. Depois choram-se, o mercado não lhes dá oportunidades, é ingrato, são os malditos lobbies. Não, os proprietários das casas e promotores de festas, precisam é de manter os clientes, não que corram com eles.

Ao contrário daquilo que vou vendo nos cursos para DJs e Produtores disponíveis no mercado, nenhum indivíduo sem o mínimo de cultura musical poderia ter aprovação em qualquer curso destes. É quase como dar uma catana para as mãos de um atrasado mental. Pode alguém que não conhece música educar maiorias? O resultado está à vista de todos e, só não vê quem não quer. Acaba o cliente por ter que fugir, o segurança, saturado, perder a cabeça, o porteiro, preferir ficar do lado de fora da porta, a barmaid utilizar O.B.s nos ouvidos e, claro, o empresário a coleccionar contas, a ter que mudar de empresa e a deixar rasto como o caracol.

Sobre a injecção de "live's" que temos levado nos últimos 70 dias, direi o seguinte. Será difícil perceber que, tirando casos pontuais de festivais - que para mim, mesmo assim, não fazem qualquer sentido - pois ninguém está em casa de castigo a ouvir um doido a gravilhar como se de uma cabine de um jardim zoológico se tratasse! Maioritariamente não há música, há barulho.

Aconselho, para este período, voltarem a ouvir Opus de Eric Prydz até o perceberem. É simples e eficaz, possui musicalidade e é um exemplo moderno de algo com princípio, meio e fim.
 
Miguel Barreto
Publicado em Miguel Barreto
quinta, 03 outubro 2013 19:19

From a paradise called Portugal...

 
Enquanto escrevo estas linhas, entra pela janela, através dos pinheiros que circundam a minha casa, uns belos raios de Sol. Está um fantástico dia de Outono, e parece-me indicado para o assunto que desta vez irei abordar na minha crónica.
Falta a banda sonora, e tal como o título sugere, terá que ser portuguesa. Olho para a prateleira dos CDs e... voilá! "Kaos Totally Mix" de 1995 salta à vista. Nem mais... Play!
 
"Kaos Totally Mix" misturado por DJ Vibe é uma obra de culto da música electrónica nacional. Lançado em 1995, representa o esplendor máximo do que foram os tempos de ouro da música de dança em Portugal. É recheado de temas emblemáticos e condimentado por uma mistura/técnica impressionante, quase mágica de um senhor chamado António Pereira, DJ Vibe. 
 
Pois é sobre estes anos de ouro que quero falar… 
Por meados dos anos 90, no mundo da música de dança, Portugal era considerado um 'paraíso'. Artistas como Underground Sound Of Lisbon (DJ Vibe e Rui da Silva), Urban Dreams (Alex Santos), The Ozone, DJ Jiggy, Kult Of krameria, J. Daniel, DJ Tó Ricciardi, L.L. Project (Luis Leite), A. Paul, DJ ZÉ-Mig-L e tantos outros, davam vida e mostravam que tínhamos um som próprio, único e característico que representava Portugal. Éramos respeitados e acima de tudo, tocados por esse mundo fora. Nesse capítulo, é importante referenciar um nome que proporcionou esse estatuto a este pequeno país. António Cunha!
 
Fundador da empresa Kaos (que a par da edição discográfica, era também empresa de eventos), juntamente com Rui Da Silva e DJ Vibe, foi um incansável lutador, não só na divulgação de talentos, mas também como impulsionador da cena de dança num país que pouco ou nada conhecia dessa vertente. "Raves" míticas, discos míticos, anos de ouro que para sempre estarão associados a este senhor que infelizmente já partiu, e deixou saudades - muitas - de tempos que parece que nos distanciamos a passos largos. Um bem-haja a António Cunha, que descanse em Paz.
 

Sempre fomos talentosos neste aspecto, e dizer que fomos mais na altura, pois as "vitórias" foram maiores, é errado, a diferença está na união que existia, vontade, e um remar numa só direcção.

Distanciamo-nos a passos largos - sim. Pois a realidade dos dias de hoje é bem diferente. E não falo da sonoridade, porque essa, sendo ela de cariz electrónico, é lógico que sofre mudanças, mutações, evoluções. Não é o som actual que estou a pôr em causa, ponho sim, a diferença de atitude, o empenho geral e acima de tudo o que não existe nos dias de hoje, a UNIÃO ARTÍSTICA! Essa força, que faz a força. 
 
Sempre fomos talentosos neste aspecto, e dizer que fomos mais na altura, pois as "vitórias" foram maiores, é errado, a diferença está na união que existia, vontade, e um remar numa só direcção. 
 
A força foi tal, que nas discotecas, como foi citado várias vezes na comunicação social especializada, "(...) tornou-se 'in' dançar um disco de música dança nacional(...)". E era verdade, existia esse orgulho na música de dança portuguesa, esse orgulho em saber que aquela música era nacional e era boa. Patriotismo na música de dança, sim, eu experimentei esse tempo. E que tempo...
 
Hoje estamos distantes do que é nosso, pouco queremos saber, pouco nos preocupamos. E aí, a culpa não é só dos artistas, da pouca união e pouca vontade de seguir um caminho único, visando o sucesso geral e não o propósito de ser o número 1. A culpa é também das rádios e televisão que pouco ou nada apostam em artistas nacionais, que pouco ou nada se preocupam em fazer para termos de deixar de importar e começar a exportar, que é o que lá fora se preocupam em fazer.
 
Hoje a rádio é um jogo de interesses, comandada por algumas empresas de agenciamento que querem vender 'peixe graúdo' internacional e que 'prostituem' artistas nacionais «a torto e a direito» e que só vêm euros. Que saudades tenho daquele dia em 1994, à hora de almoço, dentro da carrinha de trabalho do meu pai, ouvi na Rádio Comercial Underground Sound Of Lisbon - So Get Up... É verdade. Saudades...
 
A união faz a força, e nós poderíamos ser muito mais fortes, até porque já o fomos, mas temos uma mentalidade egocêntrica, queremos ser os maiores 'do nosso bairro'. A nossa geração actual da música de dança, em comparação com a dos 90, faz lembrar as duas últimas gerações da Selecção Nacional de Futebol... A nova tem mais recursos, eles têm mais estilo, são mais bonitos (Ok, alguns), mas a outra, jogava bem mais, tinha um rumo e nenhum queria ser o número 1 - eram unidos!
 
Outros tempos que saudosamente recordamos, portugueses que deixaram o seu nome na história, que muitas vezes não são respeitados nem recordados da maneira que deviam. Portugueses que queriam mais para o seu pobre país, que mesmo atravessando ao longo dos anos as dificuldades que conhecemos, sempre foi de sacrifício para que bens maiores se elevassem, e na história da nossa música de dança, esse "Paradise Called Portugal", teve o seu apogeu nos anos 90. Para quem os viveu, vai rever-se nestas minhas palavras, quem não os viveu, que reflicta, e que comecemos todos de uma vez por todas a remar para um futuro melhor.
 
Saudações musicais.
So Get Up!!!
 
Publicado em Massivedrum
sexta, 02 maio 2014 00:05

A lei do mercado dos DJs

Mas afinal, existe alguma "lei do mercado" que influencie a carreira dos DJ's? Claro que sim. 
No meu último artigo de opinião, escrevi um pouco sobre isso mas não aprofundei este assunto que muitos dos novos DJ's ainda não compreenderam. 
Muitos reclamam por "falta de oportunidades". Oportunidades? Será que colocando um DJ num determinado evento/actuação irá alterar em definitivo a sua carreira? A resposta é NÃO. 
 
A "lei do mercado" que eu falo, não é mais do que a aplicação do termo "Oferta VS Procura" num serviço que é fornecido (serviço de entretenimento). 
Quando existem mais DJ's do que locais ou eventos que necessitam desse serviço, quando a concorrência é mais que muita e numa altura em que a profissão foi "banalizada" devido às facilidades em ser DJ que foram trazidas pela tecnologia, ninguém pode dizer que uma actuação (leia-se oportunidades) vai fazer a diferença e colocar alguém num patamar de relevo. 
Hoje foste tu contratado mas amanhã já há outro para ser contratado. 
 
Um factor que influencia as actuações e onde existem críticas por parte dos DJ's da "velha guarda" ou daqueles mais ligados ao "House" é o tradicional termo "mãos no ar". 
Sinceramente, alguém ainda quer ir assistir à actuação de um DJ que não levanta a cabeça, não olha para ninguém e onde ninguém vê o que ele está a fazer? 
Poderão dizer que a música fala por si... ok. Posso concordar, mas então tirem o "homem" dali e metam um set gravado porque estar a olhar para uma cabine onde estar lá alguém ou não estar, é igual, mais vale meter uma jukebox (isto se o importante for a música). 
 
Não quero dizer com isto que os DJ's terão de fazer "palhaçadas" ou estar sempre aos saltos, mas temos que "exigir" que demonstrem que estão a sentir a música e que transmitam (corporalmente) esse sentimento para o público que pagou para os ver (porque se for só para ouvir, ouvem em casa no Soundcloud). 
 

Infelizmente, assim que um "artista" começa a ter alguma projecção e um elevado número de actuações, pensa logo que o motivo é unicamente ele ser melhor que os outros (...)

Uma outra situação que influencia o mercado é o número de actuações dos DJ's - é sem dúvida alguma, se são representados por alguém ou se têm agente de marcações. 
 
Infelizmente, assim que um "artista" começa a ter alguma projecção e um elevado número de actuações, pensa logo que o motivo é unicamente ele ser melhor que os outros ou que a "sua música ou técnica" é superior aos demais "colegas de trabalho". 
 
Regra geral, esquecem-se que só têm esse elevado número de actuações ou são reconhecidos no mercado porque houve alguém que marcou as referidas actuações ou os promoveu convenientemente para que as possam realizar (solicitações/pedidos de actuação).
Como manager e booker que sou, não faço milagres (tal como qualquer outro colega meu). O que "nós" fazemos, não é mais do que fazer aquilo que um DJ não faz e devido a estarmos inseridos no mercado, é normal que o conhecimento que temos dele seja superior ao de alguém que a sua função não é a mesma que a nossa. O acordo principal que se deve obter é o de que um manager/booker não "mete", nem produz música e um DJ/artista não faz management, nem marca datas. 
 
Quanto à questão monetária entre agentes/agências e artistas, tenho uma opinião muito própria (apesar de também eu não a fazer na maioria dos casos): Se um DJ/Produtor fica com os dividendos da sua produção musical (regra geral) então porque é que quando faz uma actuação, tem de ficar com 70% ou 80% do cachet por 1h00/2h00 de trabalho?
 
Será que sabem quantas horas é que o seu representante teve de trabalhar para ele ter essa actuação ou quanto é que investiu (tempo e dinheiro) para que a actuação fosse solicitada/agendada? Será justo?
É verdade que o agente/agência precisa do produto (leia-se artista) para poder "vender", mas também é verdade que o artista sem ser representado, terá de fazer ele o trabalho do agente e certamente ficará muito mais tempo na "prateleira" (como produto que é). 

Raros são os casos em que a mudança de representante deu bom resultado e, tal como tu, ninguém trabalha de borla ou faz investimentos para perder (...)

 
Como referi anteriormente, nenhum agente/agência faz milagres e se não tiver bons artistas, também não conseguirá fazer alguma coisa. Devido a essa situação é que as tais "oportunidades" não são dadas a quem ainda não tem "valor de mercado" porque não existe o retorno devido, relativamente ao trabalho que um agente ou booker tem. 
 
Nos dias que correm, existem poucas soluções para os artistas. Ou assumem um "casamento" com um agente/agência que irá investir em vocês e no caso de quererem mais tarde o "divórcio", vão ter de pagar pelo trabalho e investimento que foi feito, ou então não são agenciados e trabalham nas duas vertentes e assumem o investimento de tempo e dinheiro (não será certamente a mesma coisa nem obter os mesmos resultados). 
 
Se fores artista (DJ, produtor, Mc, musico, etc.) e estiveres ligado a algum agente ou agência (ou se fores convidado para ser agenciado), nunca te esqueças que a opção foi feita entre duas partes. Caso queiras quebrar essa ligação tenta sempre que seja de uma forma amigável e com os motivos bem claros para que possam chegar a um entendimento, nunca esquecendo que "não se deve cuspir no prato onde comeu". Raros são os casos em que a mudança de representante deu bom resultado e, tal como tu, ninguém trabalha de borla ou faz investimentos para perder onde não tenha de ser devidamente compensado. 
 
A decisão de ser agenciado tem de partir de duas partes (tal como num casamento) mas ninguém obriga ninguém a estar "casado" se não estiver contente com a decisão. No entanto, quando alguém quebra um compromisso, não pode ficar com tudo o que foi construído a dois. "Artistas" há muitos e nunca te julgues melhor que os teus colegas, em especial se o trabalho não foi "só teu". 
 
Nenhum agente ou agência consegue nada "sem ti" mas tu podes ser substituível. Quem não pode ser substituído é quem paga (clientes), quem te promove e apoia (parceiros) e quem te dá visibilidade. Ninguém (como eu) faz milagres e qualquer agente/agência sabe que sozinho nada consegue e muito menos faz com que "tu" (DJ) consigas entrar nesta "lei do mercado". 
 
Afinal existe ou não uma "lei do mercado para os DJ's"?
Sim... existe. E acredites ou não, é exactamente a mesma que para outro produto qualquer. 
Existem "Lobys"? Claro que sim. 
Basta ter qualidade? Claro que não. 
Vais lá chegar sozinho e com o teu trabalho? Nem em sonhos. 
 
Ninguém consegue nada sozinho e enquanto não perceberem que ser DJ ou artista é algo que nada mais é do que um serviço/produto e é regido pelas leis de mercado normais, dificilmente conseguirão que alguém "compre" o que querem "vender".

 

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
quinta, 18 fevereiro 2016 20:07

O talento das redes sociais

Para os fãs de música, as redes sociais são salas imensas cheias de musicalidade nos diversos estilos, onde se compram bilhetes para os festivais de verão e se descobre qual o DJ que vai estar no clube onde costumam frequentar. Para os artistas, pode significar a exposição necessária para a sua carreira.
 
Antes do boom da internet ser o que é hoje, os artistas encontravam as músicas novas nas lojas de venda ao público onde, espantem-se, era necessário pegar num vinil ou cd e realmente ouvir. Não havia Beatport, iTunes, Traxsource ou Soundcloud. Não havia forma de publicitar os gigs da mesma maneira que há hoje e para se estar a par das novidades, era necessário sair à noite e ouvir outros DJs.
 
Posto isto, Não sou hipócrita. Hoje em dia, em todas as áreas e todas as profissões, o “Social Networking” é uma ferramenta que não se deve negligenciar, de forma alguma. 
 
No entanto, por vezes dou por mim a pensar: “Quando é que o talento na gestão das redes sociais se sobrepôs ao talento musical?”.
 
Parece-me que grande parte dos novos DJs são mestres em design, percebem imenso de logos e de photoshop, inclusive até conseguem colocar mais pessoas no clube X do que aquelas que realmente lá estiveram. Tiram umas fotos do suposto estúdio com legendas “quase pronta a nova música”, mas que nunca sai... porque simplesmente estar dias a fio em frente a um computador a fazer música não é tarefa tão simples quanto parece ser. E a má notícia é: tu só vais tocar a um clube de topo ou um festival estilo Tomorrowland quando tens músicas tuas.
 
Não importa se tens 100.000 fãs no Facebook se o teu “engagement” e “edge rank” são nulos. Não é isso que faz de ti melhor artista nem faz com que vás tocar ao clube A ou B.
 

Não importa se tens 100.000 fãs no Facebook se o teu “engagement” e “edge rank” são nulos. Não é isso que faz de ti melhor artista nem faz com que vás tocar ao clube A ou B.

 
Os produtores de grandes eventos, festivais ou clubes, procuram sempre artistas que as pessoas se possam relacionar através da música, seja ela Big Room, Techno, HipHop, Kizomba, whatever. Se enquanto artista não tens a criatividade para seres um DJ diferente dos outros, através de scratch, uso de máquinas ao vivo - maschine, por exemplo, ou a capacidade de ser produtor de música, a verdade é que nunca vais passar de um DJ de warmups a tocar músicas de outros artistas.
 
O marketing é importante mas até certo ponto... Não importa se tens 100.000 fãs no Facebook se o teu “engage” e “edge rank” é nulo. Não é isso que faz de ti melhor artista nem faz com que vás tocar ao clube A ou B. 
 
No final, o que interessa saber é se tens a capacidade de te distanciar dos outros como DJ/Produtor e sejas realmente reconhecido junto do público: a qualidade vai sempre sobrepor-se à quantidade. 
 
 
Dan Maarten
Publicado em Daniel Poças
domingo, 17 fevereiro 2019 23:28

Os ciclos

O que podemos esperar de 2019? 
Um novo ano entrou e a apreensão que sentimos no seio da indústria da musica electrónica em Portugal é evidente. 
Em 2017, num dos artigos de opinião que escrevi para a 100% DJ, fui criticado quando afirmei que estávamos "a chegar ao fim do EDM". Hoje, é claro para todos que o EDM (electro, progressive, big room) está em queda e a adaptar-se a um novo ciclo.
Poderia fazer um exercício com cada um de vós para encontrar motivos e justificações, mas não existem. 
Tudo tem um ciclo, "sai de moda" e tem uma ascensão, pico e declínio. 
É certo que os estilos a que chamamos EDM (erradamente, porque EDM é uma sigla que abrange toda a música electrónica) não irão desaparecer, simplesmente deixarão de ser a principal referência para os amantes da Dance Music, e produtores e DJs terão de adaptar-se, reinventar as suas produções e actuações ou optar por manter o seu registo e identidade, tendo a noção que irão trabalhar para "um nicho de mercado", tal como outras sonoridades mais "clubbing" tiveram de fazer e "aguardar". 
 
Talvez esteja errado mas não consigo imaginar o aparecimento de nada de novo na música electrónica. Poderá aparecer algo "criativo" com alguma fusão de estilos, mas coloco muitas dúvidas que apareça um "Dubstep, D&B, Hard Style ou uma variação da House Music" que consiga afirmar-se como "novo ou inovador". Estou convicto que os ciclos serão cada vez mais rápidos e passageiros, tendo as diferentes sonoridades um nicho muito próprio de seguidores. 
 
Então e em Portugal? 
Portugal não é diferente e assistimos neste último ano ao desaparecimento de dezenas (para não dizer centenas) de DJs e produtores, sendo cada vez mais difícil a afirmação de novos talentos sem terem um elevado investimento financeiro que lhes permita ter uma equipa, meios de comunicação e marketing e uma rede de contactos que os acompanhe e catapulte para o mercado. 
Em termos de sonoridades também não somos diferentes do resto do mundo. 
Há um claro regresso das vertentes mais "House", o Techno está em novo crescimento e as sonoridades com vocais (letras completas) ocuparam o espaço do que antigamente chamava-mos de "comercial". 
O mercado (leia-se pessoas/consumidores) é e sempre será quem tem a última palavra e tudo o que julgamos prever ou ter certezas, não passa de uma leitura dos sinais que o mercado vai dando. 
 
Termino este primeiro artigo de opinião de 2019 com uma palavra para a 100% DJ, a quem parabenizo por mais um ano e agradeço o convite para continuar esta longa parceria/participação. 
Publicado em Ricardo Silva
Há poucos anos, era comum vermos discotecas a apostar em diferentes estilos musicais. Mesmo dentro da música dita ‘mais comercial’, as discotecas, sobretudo as das grandes cidades, dirigiam-se muitas vezes a públicos diferenciados, explorando nichos de mercado e subculturas que partilhavam os mesmos valores e gostos musicais. As discotecas desempenhavam um importante papel na promoção desses valores, sendo a música a sua principal ferramenta.
 
O aparecimento da cena house em Portugal, no início dos anos 90, foi um exemplo de uma grande subcultura que partiu dos DJ’s, primeiro, e das discotecas, depois, e que surgiu como um fenómeno de contracultura, respondendo à necessidade de quebrar com os unanimismos culturais estabelecidos.
 
Hoje, essa realidade alterou-se profundamente. As discotecas já pouco se diferenciam entre si: todas tocam as mesmas músicas, tendo os hits e a música de cariz popular tomado conta da maioria das casas do país. Arrisco a dizer que nunca como hoje os padrões de exigência estiveram tão baixos. Alguém imaginaria, há 10 anos, uma discoteca reputada de uma grande cidade a tocar o Emanuel? Salvo raras exceções, como o Carnaval, isso apenas seria possível em discotecas de província que, apesar de serem importantes, não ditavam tendências. Faziam parte de um Portugal profundo que nós, gente da cidade, insistíamos em subvalorizar. Por mais comercial que a música fosse, havia uma fronteira que as casas de referência raramente ultrapassavam.
 

"Os atuais empresários e gestores de discotecas parecem não perceber que, ao tentarem dirigir-se às massas, estão a adotar um modelo de negócio esgotado."

 
Hoje, a mesma receita é aplicada a todos os públicos, como se as pessoas fossem todas iguais e partilhassem todas dos mesmos gostos. Os atuais empresários e gestores de discotecas parecem não perceber que, ao tentarem dirigir-se às massas, estão a adotar um modelo de negócio esgotado. A tendência dos negócios, das marcas, do marketing e da comunicação é precisamente a oposta: "Como vivemos numa época de proliferação de culturas, as marcas têm de fazer escolhas. Não lhes é possível agradar simultaneamente a todas as pessoas, muitas vezes nem sequer a uma clara maioria delas"[1] . Não é por acaso que as marcas que têm feito maior sucesso nos últimos anos têm sido aquelas que souberam dirigir-se a nichos de mercado: Red Bull, Smart, Diesel, Apple ou Frize são apenas alguns exemplos.
 
No excelente livro 'A Cauda Longa', Chris Anderson explica porque é que o futuro dos negócios é vender menos de mais produtos, e traça o perfil desta nova economia da cultura e do comércio: os mercados fragmentam-se em inúmeros nichos, que se multiplicam à medida que os custos de produção e distribuição diminuem; por outro lado, os produtos de massas têm tendência a perder fulgor porque vendem cada vez em menores quantidades.
 
Um dos exemplos desta nova realidade é o comércio da música. A venda online de música alternativa – chamo-lhe 'alternativa' para a diferenciar dos hits – já representa uma quota superior à dos próprios hits. A título de exemplo, basta o iTunes vender apenas uma vez todas as músicas do seu stock, para isso representar mais de 20 milhões de músicas vendidas. Ou seja, a música alternativa toda junta tem já um valor económico superior ao dos hits.
[1] João Pinto e Castro, “Marketing Ombro a Ombro”, p. 41.
 
A diminuição dos custos de produção proporcionou a proliferação de diferentes estilos musicais, de inúmeros nichos e subculturas, e uma liberdade criativa sem paralelo na história da indústria discográfica: as editoras têm agora menos poder; os produtores deixaram de estar sujeitos aos caprichos dos A&R, ou quaisquer outros intermediários, e são cada vez mais independentes.
 
Com as lojas online, os custos da distribuição baixaram consideravelmente, resultando num preço de venda ao público bastante reduzido. Sendo a capacidade de armazenamento destas novas plataformas praticamente ilimitada, os seus stocks são gigantescos e permanentes. Resultado: nunca houve tanta música, tão diversificada, acessível e barata como hoje.
 
Mas se a música atual é tão variada, por que razão as discotecas andam todas a tocar o mesmo? É paradoxal que, numa indústria cultural cada vez mais tribalizada, as discotecas portuguesas apostem, como nunca, num modelo de negócio baseado em música para as massas, na música que mais vende no grande mercado – os chamados ‘hits’.
 
 
Apesar de reconhecer que é apenas um lado da realidade, vou arriscar três eventuais razões para este fenómeno.
 
Em primeiro lugar, porque "quando não se sabe para onde se quer ir, qualquer caminho serve para lá chegar". As discotecas são, salvo raras exceções, um modelo de negócio em que o amadorismo e o improviso imperam. Num negócio tão saturado como é o das discotecas, ainda continuam a abrir-se casas noturnas apenas porque sim: não se definem estratégias, não se traçam objetivos; tudo é deixado ao acaso. As discotecas não são geridas como empresas ou como marcas que precisam de ser valorizadas. Uma análise SWOT é ainda, para muitos empresários, um conceito exótico. E ao fim de tantos anos a trabalhar em discotecas, continuo a questionar-me como é que é possível haver tantos empresários com tão pouca sensibilidade para entender a música e as novas indústrias culturais, elementos basilares deste negócio.
 
Em segundo lugar, porque está enraizada a noção de que só a música popular – ou popularucha – é que tem público. É uma ideia muito repetida. Mas será verdadeira? Basta olharmos para os cartazes dos festivais de verão para percebermos que o grande público pode coexistir com as tribos. A programação de grande parte destes festivais assenta precisamente no equilíbrio entre as massas e os nichos de mercado. O Lux Frágil tem seguido uma estratégia idêntica. Mesmo aceitando a ideia de que só a música popular é que tem público, todos sabemos que a música, por si só, não enche uma casa. Quantas discotecas dirigidas para massas estão neste momento vazias ou afundadas em dívidas? Mesmo que não seja de forma consciente, todos temos a noção de que há outras variáveis em jogo.
 
Por fim, porque o recurso à música comercial parece, à primeira vista, o caminho mais fácil. A meu ver, é mais um grande equívoco. Nem toda a gente tem perfil ou está habilitada a trabalhar para as massas. O raciocínio dos empresários que olham para a música comercial como a grande panaceia é mais ou menos deste tipo: "A discoteca X toca música comercial. Está cheia. Logo, a minha discoteca, para estar cheia, tem de tocar música comercial". Esta argumentação é frágil porque a realidade é mais complexa. Há muitos outros elementos a ter em conta.
 

"Mesmo aceitando a ideia de que só a música popular é que tem público, todos sabemos que a música, por si só, não enche uma casa. Quantas discotecas dirigidas para massas estão neste momento vazias ou afundadas em dívidas?"

 
Não escondo que, numa sociedade cada vez mais fragmentada culturalmente, a música popular funciona como um poderoso agregador social. E esta é, quanto a mim, a chave para percebermos o fenómeno que estamos a viver. Mas o que me incomoda não é a música popular em si mesma. Eu também gosto de música comercial. O problema é que há cada vez menos espaço para a diferença. A repetição das mesmas fórmulas e a constante diminuição dos padrões de exigência, por falta de visão e criatividade, estão a transformar as discotecas em bailes de sede. E isso devia, por si só, fazer-nos refletir a todos.
 
Alex Santos
Publicado em Alex Santos
segunda, 05 março 2018 21:25

Num Mundo de Lobby's

No mundo do negócio, seja qual for a arte existe sempre a tendência às ajudas e aos conhecimentos entre entidades que tendem em favorecer quem por norma com as mesmas trabalha ou priva.

Este é um assunto bastante sensível e delicado, sendo que centralizando a questão, no meio da electrónica, deparamo-nos sempre com a questão do talento vs conhecimentos. Existe a necessidade de ter uma estratégia a longo prazo e no entanto estar sempre atento às oportunidades que possam surgir no intuito de fazer as melhores escolhas para uma carreira consistente. É preciso encarar a construção de uma carreira musical como jogar uma lotaria ou entregar a sorte ao destino, assim como dizer tenho um amor ou um dom, mas de verdade quem decide é a indústria e todos os que apoiam e seguem o meu trabalho. 

No meu caso em específico e ao longo da minha carreira sempre me fui deparando com algumas situações e entidades que me ajudaram, mas também com outras tantas que me fizeram trabalhar ainda mais e criar projectos que me ajudassem a depender apenas das minhas ideias e do trabalho artístico que tinha e tenho traçado como objetivo a alcançar. 

Não obstante tudo o que já mencionei é não menos importante referir que apesar de todo apoio que tenho e tive (do qual estou infinitamente grata), sempre foi o facto de eu fazer aquilo que mais gosto que de certa forma ajudou a ter uma carreira sólida. Basicamente por mais que sejam as "ajudas" e conhecimentos, se todas as vezes que que subo a uma cabine o trabalho não for bem feito, não existe nenhum "lobby" que ajude a longo prazo. 
Esta é a verdadeira realidade e resumo da questão, acreditar no que faço, fazê-lo com paixão sempre com o intuito de inovar e agradar todos aqueles que me seguem, porque são esses a quem eu agradeço e devo o sucesso da minha carreira como artista. Trabalhar bastante, ser optimista e humilde são os antídotos para a questão desta minha opinião.

Acontecem várias vezes e pessoalmente conheço inúmeros talentos, estes infelizmente por não conhecerem alguém ou uma plataforma que os ajude a mostrar o trabalho acabam por ficar no anonimato ou desistir, o que é lamentável. Eu como proprietária de uma editora e com a curadoria de alguns projectos faço tudo ao meu alcance para que estas situações não aconteçam, como apostar em novos talentos, contudo nem sempre é o suficiente. Mas por outro lado acredito que com persistência e a dedicação tudo é possível.
Publicado em Miss Sheila
terça, 04 julho 2017 22:50

Algarve: destino de festa

A noite algarvia é um tema recorrente na minha vida, perguntam-me frequentemente por ela – como é? Como está? E por aí em diante – especialmente quando vou em tour para o Brasil, país irmão e cheio de curiosidade pela cena portuguesa.
 
Nasci e cresci no Algarve, e com mais de 20 anos como DJ foi no Algarve que tive as primeiras oportunidades da minha carreira. Essas oportunidades aconteceram em espaços que fazem hoje parte da história e são referências quando se fala da dance scene nacional. A primeira de todas foi como DJ residente do bar Mitto, em Albufeira, que se tornou lugar de visita obrigatória para todos as pessoas influentes na noite de Lisboa e Porto que iam sempre lá no início da noite. Com a palavra a passar e uma clientela conhecedora da música e do meio, o meu trabalho no Mitto resultou num convite para tocar em algumas noites do Capítulo V, um club único, com um glamour e uma clientela selecionada a dedo, e que não voltou a repetir-se na cena nacional.
 
Algum tempo depois, em 1998, fui convidado para ser DJ residente da Locomia, que vivia os seus anos de ouro que ficaram inscritos na história da electrónica nacional. Ali, na cabine com vista para a Praia de Santa Eulália, pude tocar com praticamente todos os nomes de referência da dance scene mundial tanto do techno (que fazia as festas de sexta-feira), como do house (aos sábados). Partilhar a cabine com vultos como Deep Dish, Erick Morillo, David Morales, Richie Hawtin, Jeff Mills, ou Frankie Knuckles, entre muitos outros.
 
O Mitto, o Capítulo V e a Locomia foram as minhas escolas musicais, naquelas cabines aprendi tudo sobre a arte de ser DJ, da comunicação com o público ao trabalho de fazer, com ele, uma viagem musical e, em última instância como a política musical constrói uma casa.
 
Escrever sobre o Algarve sem mencionar a Páscoa é quase impossível. No final dos anos 90 e início dos anos 2000, as férias da Páscoa eram obrigatórias ser passadas no Algarve. Nessa altura do ano as casas do Norte do país assentavam arraiais no Algarve e havia uma sucessão louca de festas com nomes nacionais e internacionais de referência. Vejo as festas à tarde na piscina da Locomia como a pré-história dos sunsets de hoje. Recentemente tive oportunidade de rever o Little Louie Vega, e não é que ele se recordava de lá estar a atuar com Masters at Work?
 

Vejo o fenómeno dos sunsets como uma alternativa muito saudável e inclusiva – permite que todos, independentemente da idade, possam frequentar a festa.

 
O que nos ficou desses tempos em que a Páscoa era no Algarve, e não num Spring break na costa espanhola, foram os sunsets. Apesar desta perda para Espanha – e os operadores turísticos deviam pensar em relocalizar as celebrações dos finalistas para o Algarve – tudo se tem vindo a transformar, e surgem novos espaços que apesar de existirem apenas 20 a 30 noites entre Julho e Agosto, trazem novidades a cada noite enriquecendo a cena nacional.
 
Vejo o fenómeno dos sunsets como uma alternativa muito saudável e inclusiva – permite que todos, independentemente da idade, possam frequentar a festa. Por ser durante o dia e porque as pessoas que estão na praia são “seduzidas” pela música que os DJs tocam em alguns espaços nas mais diversas praias algarvias. As pessoas acabam por se agrupar perto destes "beach points", e ficam a dançar e a curtir até para lá das 22h.
 
As festas nos barcos também eram, e continuam a ser, muito procuradas. Apesar de terem uma vertente e um público mais alternativo são momentos únicos e espetaculares que o Algarve continua a oferecer. Aqui destaco as que participei com a subida pelo Rio Guadiana em que o barco que fazia a travessia de pessoas pra Espanha, saía de Vila Real de Sto. António, e regressava ao final das tardes de verão.
Fui acompanhando sempre muito de perto as tendências e mudanças dos mais variados espaços no Algarve, como algarvio de gema, e há muitos anos que realizo um sunset em parceria com o grupo No Solo Água, que começou em Vilamoura e em 2011 ganhou a designação por que ficaria conhecido até hoje: Infinity Sunset by Pete Tha Zouk.
 
Na segunda edição, ainda em Vilamoura, decidi saltar de paraquedas e aterrar numa praia da Falésia repleta de gente, 18 mil pessoas segundo as contas oficiais, e depois de aterrar fui conduzido à cabine onde toquei mais de 5 horas de set. Foi algo único, com a adrenalina no máximo, e absolutamente inesquecível na minha carreira de DJ.
Este ano marquem a data de 13 de Agosto nas vossas agendas, porque o Infinity Sunset by Pete Tha Zouk acontece no No Solo Agua da Marina de Portimão, com entrada gratuita e permitida a todos, para que juntos possamos fazer uma grande festa a dança na areia ou com os pés dentro de água. Até lá!
 
Pete Tha Zouk
Publicado em Pete Tha Zouk
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