Portugal tem sido nos últimos anos conhecido e reconhecido pela enorme paixão pelos espetáculos ligados à música.  Os portugueses gostam de consumir música, de encher salas de concertos e festivais de verão. Se no final do verão de 2015 havia dúvidas de que os portugueses “respiravam” música, com as constantes confirmações de artistas internacionais desde o final de Agosto que vão marcar presença em 2016, não há margem para dúvidas.
 
Com a presença de artistas internacionais em 2016 como Adele, Muse, Justin Bieber, U2, AC/DC, Florence and the Machine ou Bryan Adams (entre tantos outros...) com espetáculos a solo, está dada a garantia de que 2016 vai ser um ponto de passagem das principais tours internacionais. A questão que me ocorre quando penso na confirmação de uma artista como Adele, a maior artista internacional da actualidade, que esgotou duas datas do MEO Arena em poucas horas e que bateu todos os records de vendas é: onde anda o velho do Restelo que fala tantas vezes do Portugal dos pequeninos?
 
O facto de sermos o ponto de entrada para a Europa faz com que grande parte das tours dos maiores artistas internacionais passe por cá, mas sem a qualidade dos nossos produtores de espetáculos, a viagem durava mais uma hora e aterrava em Espanha. A premiação constante das principais produtoras de eventos quer a nível nacional quer a nível internacional, fez com que o reconhecimento que há muito se pedia acontecesse, e que a garantia de qualidade que sempre existiu “obrigasse” as principais agências internacionais a incluírem o nosso país na Tour. A música é actualmente uma das melhores formas para mostrar o nosso País.
 

A música é actualmente uma das melhores formas para mostrar o nosso País.

 
Em 2012 com a crise económica sentiu-se uma quebra de vendas de espetáculos e festivais de verão. A estratégia das principais produtoras de espetáculos passou, e bem, por chamarem a atenção de espectadores estrangeiros com um cartaz que captasse o interesse, através de um trabalho de RP intensivo nos principais países vizinhos ligados à música internacional (Reino Unido, Espanha e França). O Turismo, outro dos sectores com mais qualidade que o nosso país oferece, foi a plataforma de entrada. Passados quatro anos percebe-se que resultou, atendendo ao facto de cada vez mais estrangeiros marcarem presença nos principais festivais de verão no nosso país. O facto do preço dos bilhetes ser dos mais baratos da Europa, do Turismo de Sol e Mar (ao contrário do Reino Unido que é conhecido pela chuva e lama) e do cartaz ser dos melhores da Europa, faz com que estejam reunidas todas as condições para que tenhamos cada vez mais público estrangeiro nos eventos ligados à música.  
 
Um dos pontos mais interessantes para analisar com a quantidade de espetáculos que Portugal vai ter em 2016 nas principais salas é a repercussão que os principais festivais de verão vão sofrer atendendo ao poder de compra dos portugueses. As escolhas são mais que muitas, mas a carteira não aumenta, infelizmente. 
 
Outro dos pontos interessantes em 2016 para analisar é a mudança de paradigma da música em Portugal. Se é ponto assente que o EDM (Eletronic Dance Music) já teve melhores dias e que o Kizomba já não enche clubs como acontecia há um ano atrás, percebemos que, e felizmente, as coisas estão a mudar. O Hip-Hop e o RnB parecem estar a voltar ao que já aconteceu no passado, refletindo-se no aparecimento e confirmação da qualidade de muitos artistas nacionais e internacionais tanto em espetáculos a solo como nos principais festivais de verão. De salientar a estreia de Wiz Khalifa e o regresso de  Kendrick Lamar em Portugal este verão.
 
A verdade é que chegamos a 2016 com uma certeza: as agências e as produtoras de espectáculos nacionais estão a trabalhar melhor do que nunca, de uma forma cada vez mais séria e profissionalizada e com a garantia que o ano que se avizinha vai ser um dos melhores anos que Portugal já viu no mundo da música, a rebentar pelas costuras.
 
Hugo Dinis Silva
Publicado em Hugo Dinis Silva
quarta, 22 fevereiro 2017 22:02

Preparação e pesquisa de músicas

 

Assunto muito discutido. A pesquisa de músicas torna-se a cada dia, o ponto crucial para o DJ profissional. Assim sendo, uma pesquisa mais apurada acaba aumentando a qualidade do desempenho do DJ e, ainda por cima, pode fazer a diferença entre o sucesso ou não de um gig.
 
Outra virtude da pesquisa é a possibilidade de clarear os caminhos do set e distanciá-lo o máximo possível daquele lugar comum, onde se encontram as faixas sob as categorias patrocinadas ou as famosas “Top 10”, “Top 100”, etc. 
 
Categorias essas que, em grande parte, estão em evidência, pois (como o próprio nome diz) foram financiadas de alguma maneira. Ou seja, para se destacar, o profissional deve se acostumar com a corrida incessante em busca de novidades que, pratiquem a coexistência entre o gênero que mais o retrata e a surpresa de tocar uma faixa pouco conhecida ou até mesmo exclusiva.
 
A introdução desta crónica sugere a não banalização da profissão de DJ, já que grande parte das pessoas (clientes) que frequentam as festas e clubes não tem nenhum tipo de conhecimentos.
 
Nada mais injusto, uma vez que a função principal do DJ é a de levar a boa música, a cultura e as sensações transmitidas pelo seu set.
 
Seguindo para a parte que realmente interessa... A pesquisa.
 
É de conhecimento geral que grande parte da matéria-prima do DJ, a música, encontra-se na internet. Seja lançamento, seja uma track de um ano atrás ou aquele clássico que marcou a década de 80, a probabilidade de se encontrar tal conteúdo em formato digital supera os 95%. 
 

(...) a probabilidade de se encontrar tal conteúdo em formato digital supera os 95%.

 
Sendo assim, pode-se levantar a grande questão: Como ser diferenciado em um nicho de mercado competitivo em que, mais da metade dos interessados são incluídos digitalmente e possuem os mesmos recursos?
 
Na minha opinião a resposta para tal pergunta é simples e direta: DEDICAÇÃO
 
Quanto maior a dedicação, maior será a chance de aumentar o grau de temas novos nas suas music lists.
 
Algumas Dicas
O levantamento dos artistas que mais agradam o ouvido do DJ é um bom primeiro passo. 
 
Frequentar a página do produtor, estar sempre atento ao seu trabalho e segui-lo em redes sociais é uma vertente interessante, pois faz com que os lançamentos dessas pessoas cheguem mais rapidamente até o pesquisador mais assíduo. O objetivo aqui é simplesmente vigiar de perto os lançamentos, produções e remixes dos que o DJ considerar como melhores produtores.
 
Seguindo a questão acima, duas hipoteses interessantes. A primeira será a pesquisa sobre um registo musical. Esse registo reúne músicas que tenham algo em comum, então se um lançamento do produtor de preferência daquele DJ o agradou naquele momento, há uma ampla facilidade de ele apreciar os lançamentos adicionais e demais produtores daquele mesmo registo musical, ampliando, assim, a rede de produtores que o artista seguia até então.
 

Procurar discos nas lojas espalhadas pelo país (já muito poucas) é uma alternativa palpável e confiável.

 
A segunda hipótese é o aumento da notoriedade de um recurso interessante que alguns sites oferecem, conhecido como “quem comprou esta faixa, também comprou…”, isto significa que podemos comprar e encontrar a mesma música e mais as apontadas, isto é, a avaliação dessas outras faixas tornou-se iminente, uma vez que dois artistas de, aparentemente, mesmo gosto musical, se encontraram.
 
Pode não ser de conhecimento geral, mas existem lançamentos de faixas exclusivas em vinil, o que pode tornar um set extremamente distintivo com relação aos demais, uma vez que nem todos os DJs são entusiastas dos 12’’. Contudo, o profissional pode – e deve – adquirir o vinil e utilizar-se das técnicas digitais atuais para converter a faixa e conseguir exibi-la ao público de maneira digital, mesmo entendendo-se que essa técnica pode decrescer a qualidade com que a música foi gravada.
 
Mantendo a abordagem tecnologica, porém distanciando um pouco da originalidade, atualmente existem aplicativos que têm por objetivo identificar músicas. Daí, se o DJ escutar um trecho de uma track, basta habilitar esses softwares para obter um retorno do produtor e nome da mesma. Muito se contesta a respeito de aplicações como essas, porém poderá ser mais um meio de pesquisa. Exemplo: Shazam
 
Por fim, conclui-se que o DJ deve estar a par de toda e qualquer mídia social existente. Sites como o Facebook, MixCloud, SoundCloud, entre outros, devem ser visitados constantemente, pois neles podem aparecer sons novos, ímpares e que encaixem no repertório do artista.
 
Abandonando a era digital, ainda existem opções para os DJs.
 
Procurar discos nas lojas espalhadas pelo país (já muito poucas) é uma alternativa palpável e confiável também. A obtenção de raridades nestes locais é completamente exequível e, vale frisar novamente.
 
O trabalho exigirá dedicação!
 
Publicado em Divenitto
terça, 04 julho 2017 22:50

Algarve: destino de festa

A noite algarvia é um tema recorrente na minha vida, perguntam-me frequentemente por ela – como é? Como está? E por aí em diante – especialmente quando vou em tour para o Brasil, país irmão e cheio de curiosidade pela cena portuguesa.
 
Nasci e cresci no Algarve, e com mais de 20 anos como DJ foi no Algarve que tive as primeiras oportunidades da minha carreira. Essas oportunidades aconteceram em espaços que fazem hoje parte da história e são referências quando se fala da dance scene nacional. A primeira de todas foi como DJ residente do bar Mitto, em Albufeira, que se tornou lugar de visita obrigatória para todos as pessoas influentes na noite de Lisboa e Porto que iam sempre lá no início da noite. Com a palavra a passar e uma clientela conhecedora da música e do meio, o meu trabalho no Mitto resultou num convite para tocar em algumas noites do Capítulo V, um club único, com um glamour e uma clientela selecionada a dedo, e que não voltou a repetir-se na cena nacional.
 
Algum tempo depois, em 1998, fui convidado para ser DJ residente da Locomia, que vivia os seus anos de ouro que ficaram inscritos na história da electrónica nacional. Ali, na cabine com vista para a Praia de Santa Eulália, pude tocar com praticamente todos os nomes de referência da dance scene mundial tanto do techno (que fazia as festas de sexta-feira), como do house (aos sábados). Partilhar a cabine com vultos como Deep Dish, Erick Morillo, David Morales, Richie Hawtin, Jeff Mills, ou Frankie Knuckles, entre muitos outros.
 
O Mitto, o Capítulo V e a Locomia foram as minhas escolas musicais, naquelas cabines aprendi tudo sobre a arte de ser DJ, da comunicação com o público ao trabalho de fazer, com ele, uma viagem musical e, em última instância como a política musical constrói uma casa.
 
Escrever sobre o Algarve sem mencionar a Páscoa é quase impossível. No final dos anos 90 e início dos anos 2000, as férias da Páscoa eram obrigatórias ser passadas no Algarve. Nessa altura do ano as casas do Norte do país assentavam arraiais no Algarve e havia uma sucessão louca de festas com nomes nacionais e internacionais de referência. Vejo as festas à tarde na piscina da Locomia como a pré-história dos sunsets de hoje. Recentemente tive oportunidade de rever o Little Louie Vega, e não é que ele se recordava de lá estar a atuar com Masters at Work?
 

Vejo o fenómeno dos sunsets como uma alternativa muito saudável e inclusiva – permite que todos, independentemente da idade, possam frequentar a festa.

 
O que nos ficou desses tempos em que a Páscoa era no Algarve, e não num Spring break na costa espanhola, foram os sunsets. Apesar desta perda para Espanha – e os operadores turísticos deviam pensar em relocalizar as celebrações dos finalistas para o Algarve – tudo se tem vindo a transformar, e surgem novos espaços que apesar de existirem apenas 20 a 30 noites entre Julho e Agosto, trazem novidades a cada noite enriquecendo a cena nacional.
 
Vejo o fenómeno dos sunsets como uma alternativa muito saudável e inclusiva – permite que todos, independentemente da idade, possam frequentar a festa. Por ser durante o dia e porque as pessoas que estão na praia são “seduzidas” pela música que os DJs tocam em alguns espaços nas mais diversas praias algarvias. As pessoas acabam por se agrupar perto destes "beach points", e ficam a dançar e a curtir até para lá das 22h.
 
As festas nos barcos também eram, e continuam a ser, muito procuradas. Apesar de terem uma vertente e um público mais alternativo são momentos únicos e espetaculares que o Algarve continua a oferecer. Aqui destaco as que participei com a subida pelo Rio Guadiana em que o barco que fazia a travessia de pessoas pra Espanha, saía de Vila Real de Sto. António, e regressava ao final das tardes de verão.
Fui acompanhando sempre muito de perto as tendências e mudanças dos mais variados espaços no Algarve, como algarvio de gema, e há muitos anos que realizo um sunset em parceria com o grupo No Solo Água, que começou em Vilamoura e em 2011 ganhou a designação por que ficaria conhecido até hoje: Infinity Sunset by Pete Tha Zouk.
 
Na segunda edição, ainda em Vilamoura, decidi saltar de paraquedas e aterrar numa praia da Falésia repleta de gente, 18 mil pessoas segundo as contas oficiais, e depois de aterrar fui conduzido à cabine onde toquei mais de 5 horas de set. Foi algo único, com a adrenalina no máximo, e absolutamente inesquecível na minha carreira de DJ.
Este ano marquem a data de 13 de Agosto nas vossas agendas, porque o Infinity Sunset by Pete Tha Zouk acontece no No Solo Agua da Marina de Portimão, com entrada gratuita e permitida a todos, para que juntos possamos fazer uma grande festa a dança na areia ou com os pés dentro de água. Até lá!
 
Pete Tha Zouk
Publicado em Pete Tha Zouk
sexta, 23 janeiro 2015 22:17

Os talibãns dos géneros musicais

 
A guerra dos géneros musicais que hoje em dia se vive na scene é quase tão inútil, descabida e infrutífera como a guerra dos sexos. Discutir se há um género musical superior ou inferior é o mesmo que discutir quem é que é melhor: os homens ou as mulheres. É óbvio que não há géneros musicais superiores ou inferiores e é óbvio que a música evolui, mas o talibanismo musical tem sido a saga da história da música electrónica: pelo menos em Portugal.
 
Comecei a interessar-me a sério pela música electrónica em pleno auge do Iberican Sound, quando o house progressivo era rei e senhor e era totalmente diferente do que é hoje em dia. Os ritmos tribais e étnicos pareciam encaixar na perfeição nas teclas mais dark e atmosféricas. E Portugal tinha uma palavra gigante a dizer na scene internacional. Rui da Silva tinha acabado de chegar a níveis estratosféricos com o tema "Touch Me" e artistas como DJ Vibe ou Carlos Manaça eram dos mais aclamados do mundo inteiro, o que fazia do nosso país: "A Paradise Called Portugal".
 
Depois aconteceu o inevitável quando se espreme uma laranja até à casca. Deixa de haver sumo e passamos para a próxima. E surgiu uma vaga de electro house que trouxe para a ribalta artistas como Trentemoller, Mylo, Tiga, Tiefschvartz e, numa vertente mais comercial, o mais conhecido David Guetta. Eu, que tinha nascido em plena era do tribal house e do house progressivo via esta nova vaga com um quase ódio. Eram os destruidores da minha cultura. Era um miúdo e sem o saber estava a comportar-me como um autêntico "velho do Restelo": acalorado pelo conforto do "mais do mesmo" e aterrorizado com a ideia de mudança. Mas tudo na vida evolui e a história - mesmo que cíclica - escreve-se sempre em frente. Foi então que o maximalismo do electro house e, de certa forma, do tribal house gerou a emergência de uma nova corrente: o minimal techno.

Não estar na redoma de um estilo musical único faz-nos evoluir musicalmente mesmo dentro do nosso estilo musical de origem.

Foi a primeira vez que evoluí a sério e num curto espaço de tempo a minha produção musical. Não estar na redoma de um estilo musical único faz-nos evoluir musicalmente mesmo dentro do nosso estilo musical de origem. Só depois de me dedicar a tentar perceber o conceito, técnicas e elementos do minimal é que consegui, enfim, colocar-me num patamar de produção musical que me satisfazia pessoalmente. 
 
Mas, rapidamente, o minimal techno gerou o ressurgimento com grande pompa e circunstância de um estilo que estava adormecido há demasiado tempo - o techno. Muita gente falava num novo techno com um BPM mais lento e capaz de se fundir facilmente com os estilos que tinha sucedido.
 
E foi com a exaustão desta vaga que começa a surgir o que actualmente se chama de "EDM" muito influenciado primeiramente pelo trabalho do Deadmau5 e da fusão brilhante entre o trance e o house que teve a mestria de fazer na altura certa. Muito do que se fez entre 2008 e 2010 eram reproduções quase intactas de um estilo muito próprio do canadiano. E é nessa senda que surgem os Swedish House Mafia e mais tarde Hardwell e tantos outros.
 
Tudo isto para vos dizer que a música, na minha opinião, é como a história: cíclica e pendular. Precisa de se esgotar, de se deteriorar, de degenerar-se e depois de uma revolução de abanões, e de gente que coloque tudo em causa para voltar a tornar-se interessante. Um exemplo que costumo dar e que acho dos mais interessantes é o dos Beatles. Quem ouvir pela primeira vez o primeiro LP "Please Please Me" e o último "Let it Be" de seguida, certamente achará que se trata de uma banda totalmente diferente. Mas quem ouvir todo o trabalho que está pelo meio e analisar a realidade musical da época rapidamente se apercebe que se tratou de uma profunda e extraordinária evolução. No final da década de 60 lançar temas como "Love me Do" ou "From me To You" já não faziam o mesmo sentido e, neste sentido, não deixa de ser curioso que o álbum que demonstrou de forma mais vincada a evolução musical dos Beatles: "Sgt. Pepper’s Lonelly Hearts Club Band" seja considerado pela Rolling Stone como o "maior álbum de todos os tempos."
 

(…) a música, na minha opinião, é como a história: cíclica e pendular.

 
É por este motivo que fico chocado ao ver os talibãs dos géneros musicais a actuar na internet. Estou a falar directamente para os arautos do underground/tech house e techno que vêm na EDM: "música de carrinhos de choque" e para os talibãs do EDM que só de pensarem na possibilidade de a house music voltar a ganhar terreno em géneros musicais como o "future house" ficam logo com urticária. Foram SEMPRE, mas SEMPRE os que souberam sair e aventurar-se, os que fizeram a scene evoluir e dar o próximo passo. Não estou com isto a dizer que todos devamos agora produzir e consumir todos os géneros musicais, mas somente que não se barriquem atrás do EDM e apedrejem o vosso vizinho que por acaso até gosta é de música latina, tech house, psy trance e vice-versa.
 
E acabo com as palavras do insuspeito Carl Cox: "It's about music! Not one music style is better than the other, not one music style is more truly than the other. The whole thing is based on respect. It's all about respect, respect to the music, respect to the DJ's, respect to the crowd and respect to each other. It's all music, music never separates people!". 
 
Hugo Rizzo
Publicado em Hugo Rizzo
É com bastante satisfação que vejo que este ano, ainda mais do que nos anos anteriores, Portugal faz parte da agenda de muitos “top“ DJ’s Internacionais, de diferentes áreas musicais. Portugal está na moda e isso reflecte-se no turismo e nos eventos que acontecem todos os fins-de-semana, especialmente nesta altura, de Norte a Sul do país. É muito bom ver eventos praticamente esgotados, à tarde, à noite, fim-de-semana após fim-de-semana (e muitos dias de semana...), com artistas que participam nos melhores festivais de música electrónica pelo mundo fora. Depois de passarmos por um período “negro” economicamente que se reflectiu na quantidade (e qualidade) de eventos que tivemos, é com muita satisfação que vejo os cartazes dos eventos recheados de grandes nomes provenientes das várias áreas da música electrónica. Eu vou participar em alguns desses eventos, e nos que já aconteceram, como por exemplo o Sound Waves do passado dia 29 de Julho em Esmoriz, a afluência de pessoas foi superior à dos últimos anos.
 
Voltámos a ser “A Paradise Called Portugal”. Quem já anda dentro da “dance scene” portuguesa há alguns anos certamente se lembra desta frase, muito repetida pelas revistas lá fora depois de ter sido o título de uma reportagem da revista Inglesa Muzik em 1995. Nos anos 90, as revistas eram o principal meio divulgador da “dance scene” a nível internacional (ainda não tinha chegado a internet...) e nessa altura a DJ Mag, Mixmag e a Muzik eram três das principais revistas inglesas totalmente dedicadas à música electrónica. A meio da década dos 90, as três mandaram várias vezes repórteres a Portugal para cobrirem a vibrante vida nocturna nacional, chegando mesmo a dizer que “Portugal é a nova Ibiza”. Começou a haver uma programação regular de grandes artistas internacionais, quer em clubs quer em eventos, e Portugal começou a aparecer, pela primeira vez, na agenda dos grandes DJ’s internacionais. Já tinham acontecido alguns eventos pontuais com artistas internacionais de topo (lembro-me do evento no Castelo de Santa Maria da Feira em 1992, com Danny Tenaglia e Jaydee entre outros artistas, como um dos mais importantes) mas não havia ainda uma programação regular de eventos, quer em clubs quer como produções independentes, com DJ’s que fizessem parte do circuito internacional.
 

(…) todos me diziam que o nosso país era fantástico e que não entendiam como sendo tão pequenos em dimensão, tínhamos uma vida nocturna tão vibrante (…)



 Com as reportagens das revistas Muzik, DJ Mag e Mixmag (entre outras), Portugal começou a estar no “mapa” dos principais DJ’s e houve um “boom” de eventos com cartazes ainda hoje impressionantes se considerarmos a dimensão do nosso país. Foi a partir dessa altura que ficaram famosas as semanas da Páscoa no Algarve onde todos os dias durante uma semana (às vezes até mais...) se podiam ouvir muitos dos DJ’s/Produtores mais importantes a nível internacional, quer na Locomia (no espaço onde hoje existe o Le Club, em Albufeira), quer na Kadoc, espaço que hoje se chama Lick Algarve, em Boliqueime, perto de Vilamoura. Além de todos esses eventos no Algarve durante o período da Páscoa, aconteciam também muitos eventos regulares no Pacha em Ofir e no Vaticano em Barcelos, entre muitos outros clubs. Foi um período dourado da “dance scene” em Portugal e onde o nosso país era referido muitas vezes na imprensa estrangeira especializada como um dos melhores locais da Europa para a “club scene”, com fantásticos clubs e um público com uma entrega e um gosto musical sem igual. Acompanhei muitos DJ’s estrangeiros quer enquanto residente no Rock’s em Vila Nova de Gaia, quer mais tarde quando fazia parte da produtora de eventos X-Club, e todos me diziam que o nosso país era fantástico e que não entendiam como sendo tão pequenos em dimensão, tínhamos uma vida nocturna tão vibrante e com tanta qualidade.

Infelizmente, e por vários motivos, esse período acabou de maneira repentina. Como a “dance scene” em Portugal atingiu uma dimensão considerável em termos de negócio, rapidamente começaram as disputas entre produtoras (e até DJ’s) para conseguir fazer o evento no club “Y”, tentando bloquear o artista “Z” à outra produtora para que não pudesse fazer um evento com esse “top” DJ. Foram muitas as situações a que assisti, de ambos os lados das principais produtoras dessa altura, para tentar bloquear datas, discotecas, artistas, etc. Obviamente isso não podia ter um desfecho feliz e o resultado foi que a rentabilidade dos grandes eventos foi sendo cada vez menor (até porque cada vez os cartazes eram maiores e mais caros...) e cada vez foi sendo mais difícil trazer pessoas a esses eventos. Obviamente também porque se esgotou um pouco o factor “novidade” dos primeiros anos e a crise que apareceu em 2000 (sim, já estávamos em crise nessa altura...) fez o resto. Deixámos de ser um paraíso para a música electrónica internacional e durante algum tempo poucos eram os eventos que contavam com artistas de topo a nível mundial.
 
20 anos depois do “Neptunus Music Festival”, evento que aconteceu nos dias 2 e 3 de Agosto de 1997 em Albufeira (no local onde agora é a Marina) e que para mim (e para muitos) colocou Portugal definitivamente no mapa dos grandes eventos de música electrónica a nível internacional, surge o BPM Portugal. Pela primeira vez, a produção de um dos maiores festivais de música electrónica do mundo (que engloba as labels e produtoras mais importantes a nível internacional) vai sair de Playa Del Carmen no México, depois de 10 edições e escolheu Portugal. Não foi por acaso. Portugal está mesmo na moda a nível internacional!
 

(…) só espero que não se cometam os mesmos erros que se cometeram no passado e que esta dinâmica dure muito mais do que durou antes, o nosso público merece!

 
O “Neptunus Music Festival” trouxe a Albufeira quase 40 dos “top” DJ’s internacionais da altura (lembro-me que o único que não pode vir na altura foi o Danny Tenaglia porque não tinha nenhum dos dias disponíveis) para atuarem em dois dias em quatro tendas em mais de 12 horas por dia, em cada tenda. Eu tive a honra de actuar em duas das tendas. Nunca tinha sido feito nada do género em Portugal até essa altura e foi um sucesso tremendo.
 
O BPM Portugal, 20 anos depois do “Neptunus Music Festival”, vai conseguir juntar muitas das maiores labels e produtoras de grandes eventos internacionais que vão trazer praticamente TODOS os grandes artistas ao Algarve, entre os dias 14 e 17 de Setembro, num evento que certamente vai marcar a “dance scene” em Portugal.

Vendo todo este “boom” de grandes eventos em Portugal, com grandes artistas, só espero que não se cometam os mesmos erros que se cometeram no passado e que esta dinâmica dure muito mais do que durou antes, o nosso público merece!
 
Carlos Manaça
DJ e Produtor
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
quarta, 15 maio 2019 21:12

O melhor ainda está para vir

Quando recebi o convite da 100% DJ para escrever uma crónica de opinião, acabei por ser obrigado a fazer uma reflexão sobre todos os que estiveram, a determinada altura, presentes no meu percurso, ampliando o que fazia e por onde andava. Tenho pretensões de ser uma série de coisas, mas nenhuma delas passa por escrever. Deixo isso para a minha irmã Patrícia e para o meu pai, os profissionais do sector, mas sempre gostei de desafios e portanto vou dar o meu melhor, como é habitual, naquilo que me proponho fazer.

Com 40 anos feitos e tendo começado a trabalhar à noite aos 16 - como "apanha-copos" - no bar Amas do Cardeal, em Évora, pro bonno e por carolice, para aquele que veio a ser meu sócio e, ainda hoje, um dos meus melhores amigos, João Pedro Queiroga, terei uma quase obrigação de dar a minha visão da movida em Portugal.

Ao longo dos anos, do país e dos meus, assistimos a uma mudança de paradigma: É que diversão, é diversão e para satisfazer novos hábitos houve que conceber novos produtos. Daí, hoje existir uma ampla oferta, com muita qualidade, que passou para outros horários: matinés, sunsets, after work e por aí vamos... Hoje, estes produtos, são os meus preferidos. Gosto muito de ouvir grandes DJs e poder estar na cama à meia noite.  A idade é outra. Agora que penso nisso, é curioso: Em Évora, nos meus 14 ou 15 anos, os míticos 90’s, havia matinés ali à Rua Serpa Pinto. O álcool era-nos vedado e mesmo assim divertíamo-nos tanto!

A vida é feita de ciclos e voltei a ser um cliente de "matinés". Fuse e Bloop são aqueles que acompanho mais regularmente por fazerem um trabalho incrível e tropeço amiúde num esforço em fazer melhor, dar sempre alguma coisa de novo ao cliente, e, a cereja no topo do bolo, tudo feito com muita seriedade e profissionalismo. A qualidade dos artistas é do melhor que o panorama, neste caso de música electrónica, tem para oferecer. 

Hoje vivo em Lisboa e portanto é a realidade que tenho mais presente e por onde me movo mais vezes. No que diz respeito ao turno da noite, o tradicional, vejo uma grande melhoria nos últimos três anos. Acho que se assimilou que fazer ofertas iguais e tentar trabalhar sempre na zona de conforto ou naquilo que podia ser mais óbvio, já não chega para um público cada vez mais diversificado e exigente.
 
Fuse e Bloop são aqueles que acompanho mais regularmente por fazerem um trabalho incrível e tropeço amiúde num esforço em fazer melhor, dar sempre alguma coisa de novo ao cliente, e, a cereja no topo do bolo, tudo feito com muita seriedade e profissionalismo.

Actualmente temos bons clubes em todas as vertentes da música. O Kamala tem feito um trabalho incrível nas suas casas, o João Magalhães, este ano, conseguiu dar uma nova vida ao Mome. Lust e Urban atingiram as grandes massas e o Lux, como a grande referência no panorama alternativo em Portugal e lá fora, continua a dar cartas na nossa madrugada. Já não saio muito, mas quando o faço, tenho imenso por onde escolher e sempre bom.


Pensamos em casas ou empresários, mas não podemos deixar de falar de outros que são tão ou mais importantes para nivelar a oferta por cima. Hoje temos barmans e barmaids profissionais que fazem tudo com uma recém inaugurada qualidade. Este que vos escreve, foi, ele próprio, barman no Inox Clube em Évora e tudo o que fosse mais do que vodka com gelo e sumo de qualquer coisa, já não dava! Éramos todos assim! 

E na música, são tantos os DJs e tão bons, que acabam por contrariar aquela história de que qualquer um é DJ e blá-blá-blá. Essa mesma premissa, acabou por aumentar a vontade de tantos tentarem, é certo, mas uma grande parte deles apostou mais e melhor na profissão e permitiu usufruirmos todos de gente de grande valor em vários géneros de som. Saímos todos a ganhar! Destaco o curador do (meu) The Garden, o Moullinex e o meu grande amigo Audio Deep: O primeiro, um génio da música e o segundo, um dos melhores de Portugal, que está a começar a chegar aos sítios certos, para nosso gáudio.

Nem tudo são rosas e, para quem não está em Lisboa ou Porto, as coisas são realmente mais complicadas. Embora constate que, cada vez mais, estas produtoras, se atrevem a partir para o interior, descobrindo a grande qualidade de profissionais que lá se encontram. Se existe bom público, tem que existir bons profissionais, parece óbvio. O consumidor dá pouco por isso, mas é imperativo falar da importância das marcas dos produtos que se vendem habitualmente nestes espaços: Quando abri o primeiro bar, tinha cerca de 20 anos, o Pátio da Lua. Vendia, e tal como todos os outros empresários, não fazia a mínima ideia sobre quem estava por de trás das marcas de bebidas e dos seus distribuidores. Nós comprávamos, mais ou menos ao preço que nos queriam vender, aquilo que acreditávamos que o público consumiria. Mais à frente, no Praxis, a coisa foi piando de outra forma. Com a acrescida maturidade, tínhamos sempre alguém a trabalhar de perto connosco nas compras, a ajudar no que podia, para que os negócios fossem realmente vantajosos nos dois sentidos. Pensando nisto, só me vem à cabeça, com saudade, o grande Artur.
 
Hoje com Pernond Ricard, por exemplo, com quem trabalhamos, chego a vê-los como consultores... o Rúben, homem da marca, falou comigo sobre o The Garden, mais do que qualquer outra pessoa, antes e depois de abrir! E faz sentido: conhecem melhor o mercado que qualquer um dos proprietários e podem ajudar a criar um conceito único e não a tal cópia que ninguém quer. Afinal, são eles que, realmente, sabem o que todos os seus outros clientes vendem.
 
A boa nova é que já não há desculpas e aquilo que foi uma alavanca para o sucesso com utilizadores restritos e já poderosos, tornou-se acessível a todos, através do Marketing Digital.
A forma de nos comunicarmos também mudou e, por estes dias, todos o fazemos facilmente através de plataformas digitais. Qualquer um de nós consegue fazer campanhas produtivas, com sucesso e baixo custo e acima de tudo sustentáveis. Há vinte anos era impossível! Na Era pré redes, pré internet popularizada, não ganhávamos para publicidade eficiente. Ter um outdoor como o que tive em Évora era caríssimo! Colar mupies pela cidade, uma despesa faraónica, e aos jornais e revistas, mormente, nem acreditávamos chegar, tal era a despesa. O mercado da publicidade não estava feito (como ainda não está), nos meios tradicionais, para que empresas pequenas apostem na sua divulgação. A boa nova é que já não há desculpas e aquilo que foi uma alavanca para o sucesso com utilizadores restritos e já poderosos, tornou-se acessível a todos, através do Marketing Digital. Bons profissionais na área não faltam - a começar pela minha mulher!

Sim, nós cá por casa tendemos a agregar recursos para ficarmos mais fortes. Ou isso ou, pessoas com visão e futuro, agradam-se, naturalmente, umas às outras.

Voltando ao tema...

Atente-se, por outro lado, nos festivais. Temos muitos e tão bem produzidos, em diferentes regiões, do interior ao litoral, passando pelas ilhas, que passaram a ser bilhete postal para vender o Verão aos estrangeiros. Marcas internacionais em Portugal como o é o caso do BPM no Algarve ou do Rock in Rio em Lisboa ou nacionais - Nos Alive ou Super Bock e um rol de outros com tanta, mas tanta qualidade. Estamos a atravessar uma grande fase e creio que o melhor ainda está por vir! O mais fantástico é que, atrás desta transformação e desta maturidade, que inevitavelmente desaguarão num ainda maior sucesso, estão pessoas a aprender e a crescer, cheias de garra e com uma visão pluralista e abrangente do mundo, por isso não podemos estar mais confiantes no que virá.

Atualmente, ainda que como cliente, na maioria dos casos, tenho orgulho por pertencer a este sector e de tudo o que se tem inovado é realizado!

Beijos e abraços para todos e não se esqueçam: May the party be in you!
 
Francisco Rafael
Empreendedor
Publicado em Francisco Rafael
terça, 16 fevereiro 2021 12:07

Noite AC e DC

Que noite tínhamos Antes do Covid (AC) e que noite teremos Depois do Covid (DC)? O tempo é péssimo para a memória e a maioria já se recusa a lembrar que a noite AC já era uma pálida imagem de outros tempos áureos, como a inesquecível década de 90 que tantas saudades deixou. O privilégio que foi viver esses tempos. 

Contudo não deixo de reconhecer que talvez a noite já não fosse apetecível para mim, para muitos da minha geração e anteriores, mas que preenchesse os requisitos das gerações mais jovens, acredito que a música que nos fere os ouvidos, a nós mais gimbras, faz as delícias de quem hoje salta para a pista aos primeiros acordes de um "Despacito". 

Mas a grande incógnita reside no DC, com as portas das discotecas encerradas há um ano, a fazer no dia 8 de Março, que noite nos espera quando for dada ordem de soltura? Numa entrevista a um histórico da noite do Porto, li que o mesmo dava um prazo de 4 anos até que a noite estivesse maturada para ser consumida, em resposta, nos grupos da noite numa rede social, outros empresários mostravam-se mais otimistas, havendo alguns que acreditam mesmo, que abertas as portas, não haverá distanciamento social que resista. 

A verdade é que nos países onde a noite se iluminou e ganhou vida, as quebras foram significativas DC em comparação com o AC, razão da falta de confiança por parte dos consumidores, da incapacidade financeira e, na minha modéstia mas sábia opinião, a mudança de hábitos. 

Hoje temos uma sociedade com hábitos diferentes, janta-se mais cedo, dorme-se mais cedo e acorda-se mais cedo, mesmo confinados. Os hotéis servem refeições, nos restaurantes as iguarias acompanham-se som de um DJ que convida a bater o pé e os bares servem duchesses e galões de manhã à noite, para recuperar a tesouraria, e no formato 24/7 assume pistas de dança iluminadas por luzes dinâmicas, de qualidade duvidosa, adquiridas nos chineses. 

E quando abrirem as discotecas? Ainda haverão forças para mais uma voltinha no carrossel ou já estaremos esgotados e com as carteiras cansadas? Propus, ao autarca máximo da capital, reciclarmos os horários ou limitarmos a pressão acústica para que, os utentes da noite, não ficassem retidos em espaços de restauração ou em bares onde o nível de DBs deveria dissuadir à dança. 

A ver vamos, desde já, navegamos à vista em embarcações de esperança que tudo volte à normalidade. Igual não será, esperemos que seja melhor. 
A Gerência.
 
Zé Gouveia
Publicado em Zé Gouveia
quinta, 07 abril 2016 14:37

Trabalhar com a música electrónica

Neste primeiro artigo de opinião de 2016, resolvi escrever sobre a "Pedra Filosofal" do novo Milénio - A Musica Electrónica. 
 
Tudo começou com o aparecimento dos DJs aos grandes palcos mundiais, com a especulação criada pelos Países Nórdicos da Europa e com o Marketing agressivo da indústria musical virada para o mercado electrónico. 
De um momento para o outro, os DJs eram as novas estrelas mundiais e tudo o que era "miúdo" quis ser DJ. Todos aqueles que não sabiam fazer mais nada, viram na profissão de DJ uma alternativa para fazerem alguma coisa, encher os bolsos e ter notoriedade e reconhecimento (pelo menos nas suas cabeças). 
O facilitismo em ser DJ era (é) tanto, que tudo o que era gente neste País foi DJ. Ias a um reality show e no dia a seguir eras DJ. Aparecias na TV, viravas DJ. Eras RP? Porque não ser DJ? Etc, etc. 
 
Rapidamente apareceram em Portugal a partir de 2009/2010 uns largos MILHARES de DJs mas tal como apareceram, também desapareceram e perceberam que afinal a "galinha dos ovos de ouro" não era o que parecia. 
Pelo caminho, muitos deles sonharam que, devido ao facilitismo, havia outros negócios que os fariam enriquecer com a música electrónica. Foram os anos em que toda a gente era produtor musical e abriram centenas de editoras discográficas. Ia tudo enriquecer com a venda da música mas, mais uma vez, não resultou...
 
Os Portugueses sempre foram "casmurros" e não desistem facilmente. Toda a gente tinha de conseguir enriquecer com a música electrónica. Mas como? 
Foi a altura dos agentes/agências de artistas. Tudo era agente artístico neste país. Ganhavam-se comissões de cachets de 40 euros só para poderem dizer que eram agentes ou que estavam no meio... Rapidamente viram que também não era este o caminho e chegámos aos últimos anos e à nova "descoberta" de como enriquecer com esta indústria - PRODUTOR DE EVENTOS. 
Hoje em dia está na moda ser Produtor de Eventos. Se é verdade que há muitos que se dão bem, a ganância deixa de lado a larga maioria de quem quer entrar neste meio. Se um evento corre bem, querem logo fazer outro no dia a seguir (dá sempre mau resultado). Se correu bem a primeira vez e as escolhas artísticas, dia, local, equipa de trabalho, etc. foi bem escolhida, no evento a seguir já dão tudo como garantido e o prejuízo é a única garantia que conseguem ter. 
 
Tudo isto é "Ser Português". Somos (ou tentamos) ser sempre mais espertos que os outros num país com 10 milhões de habitantes, uma mentalidade retrógrada quando comparada com países como a Holanda ou Alemanha, onde temos um mercado interno muito curto, com pouca expressão mundial na música electrónica mas onde tentamos furar como podemos. 
 
Os primeiros parágrafos deste texto deram-te a impressão de uma crítica rude da minha parte. 
A ideia foi essa mas o objectivo era outro. 
 
AINDA BEM que somos assim. Que apareçam DJs, RPs, Produtores de música, Produtores de eventos, Discográficas e tudo o que esteja ligado a esta indústria da musica electrónica. É o próprio mercado que irá encarregar-se de fazer uma triagem entre o "bom e o mau", quem fica e quem sai, quem vence e quem sai derrotado.    
O que realmente é mau é não haver "sangue novo", ideias novas, investimentos diversificados e que haja pessoas a errar. Os erros são sempre aprendizagem e em Portugal temos aprendido muito. 
 

Quem trabalha ou quer trabalhar neste meio, tem de perceber que a própria música electrónica está em constante mudança (…)

 
Um novo ciclo da música electrónica está a entrar. Os "nichos" estão a voltar a ser mainstream e os gostos do público já não são o que alguns diziam que era impingido pelas rádios e TV. O público escolhe o que quer e ninguém impinge nada nos dias que correm. A diversidade de comunicação e o fácil acesso à informação, não permite condicionalismos extremos seja a quem for. 
 
Agarrem no Ipod ou na "cloud" de um miúdo da Preparatória ou do Secundário e vejam o que ele lá tem para ouvir... Tem música que "Parte-me o pescoço" e a seguir um "hardcore" que me parte a cabeça, seguido do Justin Bieber, alternando com Hip Hop do Sam The Kid, Xeg e Dillaz e a seguir remata com Trap e acaba com Hardwell ou uma faixa do Anselmo Ralph, enquanto tem um set de Carl Cox que ouve todos os dias a caminho da escola. 
 
Quem trabalha ou quer trabalhar neste meio, tem de perceber que a própria música electrónica está em constante mudança e que já não é apenas aquela sonoridade a 4 tempos, compassada e com uns Kicks, Drops e uns Claps. É necessária uma adaptação aos novos tempos e por isso é que entrar gente nova no mercado é sempre essencial para esta indústria sobreviver. 
 
Que venha mais gente para este mercado e quem olhar para ti como concorrência ou falar mal de ti, é sinal que estás a fazer as coisas bem feitas. Precisamos de mais gente com ideias novas e vontade de trabalhar para elevar a fasquia da indústria musical portuguesa e é o próprio mercado que irá definir se és válido ou não para permanecer no meio.   
 
Ricardo Silva
Publicado em Ricardo Silva
Os festivais de música atingiram, talvez o seu apogeu nos últimos 4, 5 anos, e agora com uma concorrência global e local, importa conseguir diferenciar o seu produto e saber comunicá-lo. A ordem é de facto conseguir ser pioneiro e ter as melhores sugestões e comodidades para o público-alvo.
 
Quais as tendências para este ano em Portugal?
 
1) Cashless como movimento global a todo o evento
Uma tendência mundial e que começou a dar os primeiros passos nos festivais portugueses em 2015. Ligado ao cartão de crédito, pré-pago ou como forma de determinar dados, os festivais e os seus responsáveis pretendem utilizar esta tecnologia e assim obter o perfil do seu público e assim deter em si maior importância e maior poder negocial com sponsors e parceiros. Piknic Electronik Lisboa, Festival Forte e Lisb/On foram alguns dos eventos que acederam a ter a tecnologia e assim melhorar a experiência do seu público e convidados, procurando evitar filas (acesso ao festival ou compra de bebidas). Nenhum ainda introduziu uma experiência global que possa gerar no portador pagamentos e informações para poder usufruir após o festival e que lhe permita recordar o mesmo, como por exemplo, a marca que lhe endereçou um convite por ter usufruído de uma ativação.
 
2) Modalidades de bilhética
O acesso aos festivais faz-se cada vez mais através de mobile, as pessoas usam mais os telemóveis e acedem a muita informação (não conseguindo muitas vezes selecionar a mesma ou conseguir analisá-la. A nossa leitura é cada vez mais "na diagonal" em virtude do fluxo de informação que recebemos diariamente), tendo um festival maior probabilidade de ser "escolhido" para compra de bilhete, quanto maior a sua visibilidade e permanência nos locais que mais utilizamos. Num estudo da plataforma Eventbrite, é indicado que quanto mais nova a população maior a apetência para adquirir um bilhete por este modo. Hoje já não existe desconfiança numa compra online e obrigar um utilizador a imprimir um bilhete é impensável e até com um efeito dissuasor. Evitar ir a um local físico também é visto como acréscimo de custos e tempo despendido.
Um exemplo bem implementado tem sido o da Vodafone, que nos festivais em que está presente permite que quem compre bilhetes através da sua aplicação tenha um acesso exclusivo a um festival e/ou de forma mais barata - e.g. Rock in Rio, Vodafone Mexefest.
 
3) Media Training
Com o aumento da imprevisibilidade das condições atmosféricas, que afetarão sobretudo os festivais que ocorrem no verão (que são simultaneamente aqueles em que mais se investe e maior visibilidade têm) a que se soma o aumento de situações de violência e insegurança sentida pelo alarme generalizado a situações de terrorismo, será necessário aos grandes eventos (nomeadamente os que têm cobertura ontime via Tv e rádio) uma nova forma de comunicar, mais célere e instantânea perante qualquer incidência (ou previsão da mesma) que tenha obrigado a alterações e/ou cancelamentos de última hora.
Com o fenómeno das redes sociais, qualquer situação negativa é empolada e quanto mais tarde uma reação maior o tempo de permanência de insatisfação nas redes que poderá destruir alguns eventos. Em 2015, existiu o exemplo do SushiFest que por dificuldades de gestão e planeamento no primeiro dia, as críticas deixadas nas redes sociais obrigaram a um trabalho de comunicação redobrado que poderia ter resultado no seu cancelamento.
 
4) Envolvimento dos municípios
A existência de festivais de pequena dimensão tenderá a reduzir-se em sentido contrário ao número de festivais com apoio ou organização municipal (um número crescente, desde 2013). A legislação sobre eventos (nomeadamente os dirigidos para massas e em contexto outdoor) é hoje mais intensa, obrigando a novas taxas aos promotores, que faz com que estes tenham ainda menos verbas disponíveis para poderem executar um festival a nível pessoal ou associativo, ainda para mais perante a maior exigência do público, seja este urbano ou não. Do mesmo modo, os municípios especializaram os seus recursos humanos, procurando através de si mesmos conseguir captar público aos seus eventos, tentando que estes tenham um carácter diferenciador no panorama nacional e que tragam consumo. Bons exemplos são o: FMM Sines, Med Loulé e Festival F.
 
5) Recrutamento
A contratação de colaboradores ou equipas especializadas para os dias de um festival será uma realidade para melhorar e assim fazer face às exigências de novos públicos, nomeadamente os internacionais. Estar mais próximo de faculdades e alunos finalistas das áreas de Turismo, Gestão e Audiovisuais e menos próximo de voluntariado (onde se delegam responsabilidades), fará com que tarefas secundárias mas importantes para a diferenciação de um evento se tornem importantes na fidelização e regresso do público à edição seguinte do evento.
 
Ricardo Bramão
Presidente e Fundador APORFEST, Associação Portuguesa de Festivais de Música.
Publicado em Ricardo Bramão
segunda, 23 julho 2018 22:25

Clubs vs Festivais

Nesta crónica resolvi abordar um tema que considero bastante questionável, actuações em Clubs e Festivais. Qual o mais indicado, preferido ou recomendável... segue a minha opinião.

Em época de Verão, sinónimo de calor, férias e festas ao ar livre chegam os inúmeros Festivais. Actualmente em Portugal podemos orgulhosamente dizer que temos alguns dos melhores eventos "outdoor" do mundo, sendo de forma originária ou em parceria, consecutivamente de forma positiva a maioria dos principais nomes mundiais passam assiduamente pelo nosso país, contribuindo para a economia, distinção no panorama ou simples facilidade de acesso ao entretenimento.

Várias vezes sou questionada acerca de qual o meu formato de evento preferido para participar, embora a resposta não seja fácil é simultaneamente bastante objectiva, um evento num Club tem uma capacidade mais reduzida, o que origina um público e tipo de evento mais canalizado e direcionado ao cliente alvo, consequentemente são festas mais pequenas, mas mais calorosas onde tenho mais contacto directo e comunicação com o público. Embora neste caso, maioritariamente "não seja tão favorável" a nível de exposição artística e marketing, quando comparado com um festival, mas neste caso a interactividade é única, o que proporciona uma experiência mais intensa e directa.

Por outro lado, temos o ponto de vista dos grandes palcos e dos eventos de maior dimensão, nestes casos, a exposição a nível de promoção consegue no geral ser de maior alcance, embora a interacção com o público seja diferente, não significando que seja pior. Neste caso em palco, exijo mais de mim pois tenho que agradar a mais público, embora em paralelo me divirta imenso pois tenho "mais braços no ar" e euforia concentrada. Contudo, isto não faz com que os eventos maioritariamente agendados para mim, Clubs e de pequena dimensão, tenham menor importância ou significado.

No mercado "underground" é normal que os eventos sejam de menor capacidade e direcionados para um nicho de mercado mais reduzido, ao mesmo tempo que os festivais e eventos de maior afluência são fundamentais, tanto para a exposição a nível de promoção como para conseguir mostrar em massa a um número maior e significativamente estreante o meu trabalho e aquilo que define a "Miss Sheila".

Após o mencionado, é relevante resumir que adoro participar em ambos os tipos de eventos, não esquecendo as diferenças, ambos são importantes e um pilar na carreira de um artista como eu. Relevante também é o facto, de que sempre fui bastante grata por conseguir marcar presença de forma significativa em ambas as situações expostas aqui, desde o início da minha carreira.
Publicado em Miss Sheila
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