quarta, 10 setembro 2014 22:27

O que é um DJ 'open format'?

Muitas pessoas perguntam-me o que é um DJ de "Open Format", como tal, decidi escrever esta crónica para poder esclarecer essa dúvida persistente sobre este "novo" formato de DJ.
 
A indústria musical tem evoluído de uma forma bastante sólida, já lá vão os tempos em que um artista de Rock só fazia Rock, e um artista de Hiphop, só fazia Hiphop. Nos dias que correm são cada vez mais as fusões entre estilos musicais, o que é óptimo, porque assim conseguimos alcançar um maior leque de pessoas e explorar várias vertentes. Um grande exemplo que podemos ter, é o facto de David Guetta ter "pegado" em várias estrelas do Hiphop, Rnb, Pop e com isto ter feito hits atrás de hits e chegado a mais público!
 
Para mim isto só prova que a música não tem limites, e muito menos tabus só porque o artista “X” fez uma música num género diferente do que é habitualmente conhecido...
 
Às vezes temos que ser ousados e ter coragem para arriscar, só assim é que se marca a diferença, esta é minha opinião não só como DJ mas como produtor também, pois não gosto de produzir um só género musical nem de estar "preso" a um catálogo musical "monocromático"!
 
O DJ "Open Format" (que é o meu caso) usa essa versatilidade musical. É um DJ multi-géneros porque não está vinculado a um só género musical, e quem me vê a atuar sabe que gosto de explorar um set de A a Z, Comercial? Underground? Rock, EDM, Dubstep e música de rádio? Pois bem, na altura certa há espaço para tudo, e não há nada melhor do que ter um público satisfeito depois de ouvirem (como diz o meu manager) um set à lá "DJ Roleta" (ahahah)! 
 
Ainda a reboque do meu modus operandi, passei recentemente pela necessidade de "voltar às origens" deixando o computador de lado sempre que a cabine o permite.

Nos dias que correm são cada vez mais as fusões entre estilos musicais (...)

 
Como DJ e depois de vários anos a tocar com o Traktor, decidi explorar o sistema pendrive com o Rekordbox. Confesso que o “desmame” está a custar um pouco, porque a minha carreira como DJ, como todos sabem, começou no hiphop/scratch, e o Traktor na altura foi o meu melhor amigo (eheh). O desafio do pendrive foi vantajoso por um lado, e desvantajoso por outro... Vantajoso porque acabam as dores de cabeça de chegar a um club e ter de montar computador, cabos, placa de áudio, etc, etc, muitas das vezes (quando tocava com vinyl) tinha de montar um setup à parte (mesa, pratos, traktor...) e na maioria das vezes as cabines não tinham espaço, e aí improvisava-se um palco... Era o chamado "ganda filme" cada vez que ia tocar. 
 
Essa é uma das vantagens do pendrive - rápido e eficaz... uma pessoa chega ao club com uma bolsinha para os fones e a pen, e está feito, sem ter que andar com a mochila do computador atrás e todo o equipamento envolvente. Neste momento vamos com um avanço de 10-0 pen vs traktor, mas calma ainda faltam as desvantagens.
 
Pois bem, para mim as desvantagens do pendrive são poucas, mas ainda assim dão alguma "dor de cabeça" coisa pouca, atenção. Uma delas é o motor de busca muito limitado (no computador basta escrever e aparece tudo... Já para não falar no display que é bem maior), sim porque nós, os DJs de “Open Format” temos muita música e às vezes viramos rapidamente de música e nunca temos um set definido, o que me obriga a ter 10x mais organização no pendrive do que no computador, para depois não "andar aos papéis" perdido em dezenas e dezenas de pastas e playlists na hora de tocar. A última desvantagem (não por culpa do pendrive) é o facto de nem todos os clubs possuírem CDJ 2000/CDJ 2000 Nexus, e aí tenho sempre que recorrer ao traktor! Nesse aspecto os CDJ 2000 Nexus e o pendrive são o "casal ideal" para mim, DJ de “Open Format” e Scratch. 
 
São estes os pros e contras dos diferentes sistemas, que espero ter dado a conhecer um pouco mais desta vertente e também do meu lado "pessoal" no que toca à minha forma de tocar. Um bem-haja a todos, e continuem a divertir-se com muita música. 
 
Instagram: @rustymusik
Publicado em Rusty
quinta, 28 maio 2015 19:35

Soundcloud: o princípio do fim?

Quem se lembra do MySpace? Grandes artistas foram descobertos, muitos temas, álbuns apareceram no MySpace e foram assinados em Major Labels. Com o evoluir dos tempos, o site acabou por ficar obsoleto porque não acompanhou a rápida evolução da internet e outros serviços semelhantes apareceram e acabaram por o substituir. 
 
Um deles foi o SoundCloud, que nos últimos 5 anos foi uma das principais, se não a principal plataforma de divulgação de música e onde foram descobertos vários artistas e outros tantos promovidos à exaustão.
 
A par com a evolução do SoundCloud, a pirataria também ganhou proporções gigantescas e hoje em dia é sabido que a venda de música já não é aquilo que outrora foi, no entanto, o investimento nos artistas por parte das labels não parou de existir ou diminuiu. Pelo contrário, como hoje em dia é mais fácil fazer música com um computador, é preciso investir ainda mais para garantir que os artistas e as musicas têm a visibilidade necessária.
 
Um utilizador frequente do SoundCloud sabe que por lá se encontra imensa música “gratuita” e, na verdade, há mais bootlegs e mashups do que temas originais (ou havia), o que faz com que as labels não vendam os temas originais. E mesmo que as músicas não estejam em free download, sabe-se que há sempre meios de contornar isso e o público em geral consegue fazer mais rápido um download pirata para ouvir no carro (não interessa a qualidade da música) do que comprar um tema.
 

O SoundCloud como o conhecemos está a acabar e não interessa se pagas um serviço premium ou não.

 
Quando foi anunciada a parceria entre o SoundCloud e a Zefr, uma das plataformas líder de mercado de gerencia de direitos e royalties, que é responsável por identificar os temas no YouTube e consequentemente entregar os direitos e royalties às labels, pensou-se que iam terminar os famosos “takedowns” no SoundCloud porque as editoras iriam finalmente poder ganhar dinheiro com os temas que iriam sendo colocados no SoundCloud e que seria implementado o mesmo sistema de publicidade paga que o YouTube. No entanto, o resultado foi outro: nessa semana os artistas revoltaram-se contra o SoundCloud porque os “takedowns” foram gigantescos e até chegaram a nomes como Martin Garrix, que viu os seus temas originais serem removidos.
 
O SoundCloud como o conhecemos está a acabar e não interessa se pagas um serviço premium ou não. Os mix sets, bootlegs e mashups estão a ser apagados diariamente e, é o que vai continuar a acontecer a curto-médio prazo.
 
Apesar do SoundCloud ter pago mais de 2 milhões de dólares em publicidade aos seus parceiros, a Sony afirma que não ganha dinheiro suficiente e é quem está a criar mais problemas.
 
Sabemos que o SoundCloud tem uma audiência mensal de cerca 350 milhões de utilizadores e que, apesar de tudo, ajudou a desenvolver e a lançar artistas como a Lorde, promover artistas do meio como o Drake, Miguel e mesmo a Beyonce e ainda a descobrir outros tantos. Mas o que se passa é, ao mesmo tempo que os artistas precisam de exposição, as labels precisam de ser pagas pela música e enquanto o SoundCloud não pagar aquilo que as labels acham justo, a situação vai-se manter como está e vamos continuar a ver os takedown’s diários e a revolta dos artistas. 
Inclusive a Sony já retirou temas de grandes artistas como Adele, Miguel e Hozier; e sabe-se também que as negociações entre os dois falharam por falta de acerto monetário. 
Um serviço que outrora foi feito a pensar nos artistas, hoje em dia é controlado pelas editoras.
 
Como o SoundCloud é um dos principais “fornecedores” de musica dos blogs, sites e redes sociais, pela sua fácil integração, a pergunta que eu faço é: quanto tempo falta para aparecer um sério concorrente do SoundCloud e que o destrone, como aconteceu com o MySpace?
 
Dan Maarten
Publicado em Daniel Poças
quarta, 07 novembro 2012 21:04

Música...

 
Em 1990 o meu Ser despertou para uma nova tendência musical que invadia as rádios e pistas de dança em Portugal. Era muito novinho, mas lembro-me do fascínio que tais obras em mim provocaram. Eram momentos mágicos, deitado à noite a ouvir programas de rádio, gravações de cassetes, os primeiros vinis, etc., de música completamente diferente, nova, original, inteligente, cheia de sentido!
Tudo isso fez com que o sonho se apoderasse de mim. "É isto que quero, é o meu sonho!!"
Pois bem, durante 22 anos, aos poucos o meu sonho concretizou-se, eu sou o que sonhei ser, mais até talvez do que sonhava nesses tempos... Mas... E há sempre um mas...
 
Esta é uma crónica diferente, diferente das que se lê aqui, pois é intima, pessoal, mais até um desabafo. Vou falar da tristeza que sinto pela não compreensão e maus tratos que essa música e cultura que mudou o meu Ser à 22 anos sofre nos dias de hoje.

Estamparam recentemente a sigla EDM (Electronic Dance Music) para definir uma arte que já conta com mais de 30 anos de história. Estamparam porque a música de dança tornou-se extremamente rentável e como em tudo, tem que se criar uma marca à volta. Mas... Apenas chamam EDM a certos estilos musicais o que me confunde, levando a pensar que há estilos que são menosprezados, postos de lado, quando a arte é a mesma, e muitas vezes o intuito dessas obras muito mais genuíno. Um Deep House por exemplo não é uma faixa produzida electronicamente?? Ou um DJ de Deep House não rende tanto em termos monetários como um DJ de Electro, será isso? Pois bem, o conceito de EDM está então errado. Música electrónica é muito mais que Electro. Faz-me uma certa confusão existir uma definição de um todo, que define apenas uma parte que é neste momento a mais rentável. Lamentável.
 

Apenas chamam EDM a certos estilos musicais o que me confunde, levando a pensar que há estilos que são menosprezados, postos de lado, quando a arte é a mesma


Outra questão passa pelo que as redes sociais (mais concretamente FACEBOOK), abriram. As portas do RIDÍCULO! Parece que ter muitos "amigos" no Facebook vale não só entrar no TOP 100 da DJ Mag, como também se se quiser, editar uma música, remix, etc. É que muitas labels e artistas, a troco de "Likes", fazem "contests" a torto e a direito, sendo os vencedores os mais votados. É tudo muito bonito, não fosse aqui o caso por em questão a qualidade musical, pois ser um "Facebookiano famoso" não significa um bom produtor musical.
Nestes últimos tempos ouvi verdadeiras barbaridades e atentados musicais acabarem vencedores de alguns desses "contests"... É deveras preocupante que uma rede social consiga que editoras prestigiadas ponham de lado talento em troca de publicidade grátis, até porque "Likes" e votos na Internet podem ser forjados, mais grave até, comprados.

Adiante...

Não vou comentar o assunto Warm Up pois já o fiz na minha primeira crónica, mas reforço a ideia dessa mesma, que não sendo um Warm Up numa discoteca em que o residente tem mesmo que estar "calmo" em prol do bom funcionamento da casa, num festival o mesmo se passa. As pessoas vão estar ali horas e à uma da manhã, o primeiro ou o antes do cabeça de cartaz tem que ser contido. Ninguém lhe pede para passar Deep House, mas há várias maneiras inteligentes de conseguir um seguimento musical lógico com os vários artistas. Arrisca-se a brilhar aquela hora e quando entrar o cabeça de cartaz (supondo que é mesmo um dos bons), as pessoas já o esqueceram. E não, não queimou ninguém, queimou-se apenas a ele, aos olhos dos colegas e não contribuiu para a "festa", massacrando o público com música que se calhar não era para aquela hora, ou podia-se guardar, ou noutros casos, até nem tocar, se é que me faço entender. Trabalho de casa deve-se fazer, ter musica para várias horas também. Há casos de ser um DJ de um estilo/método de trabalho, etc, específico, e aí é o trabalho dele, ponto. Se a vontade é ser um DJ mainstream, tem que se conhecer e saber mais do que o TOP 100 do Beatport.

Posto isto, penso que está feita a confusão necessária para o ponto seguinte que tem a vêr com a falta de organização musical que reina no nosso país. É que hoje em dia não existem linhas musicais, chegando até ao ridiculo de quando estão mais que 2 DJs a tocar no mesmo evento, ouvirem-se as mesmas musicas repetidamente, dando a parecer que apenas existe um universo de 20 ou 30 musicas. Isto é RIDICULO! É inadmissivel que TOP DJs não arrisquem ou toquem música nova, eduquem, divulguem, surpreendam as pessoas. Eu lembro-me de ir ouvir TOP DJs e no fim pensar, "bem, que set foi este, saí daqui surpreendido, com novos horizontes. Que brutalidade!!".
 

Se a vontade é ser um DJ mainstream, tem que se conhecer e saber mais do que o TOP 100 do Beatport

 
Ouvir TOP DJs neste momento é já um cliché! Bootlegs com faixas rock/pop conhecidas nas quebras para o público cantar quando o DJ baixa o som, e/ou o TOP 10 geral do Beatport ou 100 do Progressive. Sem comentar um novo tipo de mistura que o MICROFONE trouxe… Claro que cada um sabe de si, mas penso que certos estatutos têm que ser mais, muito mais do que são agora e muitos até já foram. É que há valores em causa que alimentavam durante alguns meses muitas famílias Portuguesas. Se me vendem o TOP, quero ouvir TOP. E arrastar pessoas, já vi muita festa temática arrastar bem mais que um "TOP".

Dito isto, resta-me deixar aqui umas questões para reflexão. Porque não se unem os nossos "TOP" DJs como fizeram por exemplo os Holandeses? Será porque temos vários "Numero 1 Nacional" e eles não se entendem? Eu já tentei mais que uma vez uma junção entre vários artistas mas a resposta sempre foi negativa. Penso que a motivação neste momento é apenas monetária, levando a que cada artista queira única e exclusivamente ser "O PROTAGONISTA" e "O Nº1 NACIONAL".  Rótulos são rótulos e penso que um artista deve respirar a arte, vivê-la, deixar ela sim, ser a protagonista principal. Chega a ser "chato" os apelos desesperados que se vêem nas redes sociais, ora para votos, ora para "Likes" ou mesmo os "Posts" a roçar o infantil para as páginas do Facebook terem actividade.

Penso que todos devíamos reflectir um pouco e tentar olhar para o passado que tão bonito foi, e não estragarmos uma arte/cultura que tanto passou para ver a luz do dia, mas que assim que aqui chegou, foi prostituída…

Um bem haja a todos os colegas e profissionais do meio. Ao público, e a todos os que gostam de MÚSICA!
 
Massivedrum
www.facebook.com/massivedrum.official
Publicado em Massivedrum
quinta, 28 março 2019 21:30

A Indústria e a Integridade Criativa

Os termos Artista e Criação podem ser muito relativos se tivermos em linha de conta todas as necessidades de uma Indústria absolutamente focada na massificação e na componente financeira em detrimento da liberdade artística. Até onde a nossa liberdade criativa se pode sobrepor à realidade quando temos que ter em linha de conta que nada mais do que uma simples opinião muitas vezes pode ser escrutinada até à exaustão, muitas vezes por pseudo-críticos que percebem tanto da nossa Arte de fazer música como eu percebo de cirurgias cardíacas. Infelizmente sou obrigado a chegar à conclusão que como Artistas a nossa liberdade criativa vai até onde a Indústria precisa, é ela que dita as regras, as necessidades e as tendências. 

Posto isto, pergunto eu de uma forma muito directa, o que percebe a Indústria de criatividade, sensibilidade ou originalidade? Serei obrigado a dizer absolutamente nada. Há muitos anos os Artistas ditavam as tendências com a sua criatividade, livre de segundas intenções e absolutamente pura do ponto de vista dos resultados. Não havia redes sociais, não havia estudos de mercado, ou se gostava ou não. Paralelamente a esta maneira de colocar a Arte, temos hoje em dia uma realidade onde o Criativo é literalmente encostado à parede. Alguém acha que o mercado precisa disto, existe um nicho para determinado tipo de "produto" e é isso que se procura. E quem quer fazer uma carreira guia-se pelas directrizes impostas. Torna-se absolutamente banal um qualquer compositor afirmar que tem a fórmula mágica, fórmula essa que lhe foi demonstrada por uma realidade comum e que poderá ou não ser seguida, correndo nós o risco de sermos considerados "infiéis" se optarmos por fugir ao rebanho e apresentamos algo que seja considerado fora do padrão porque todos nos devemos reger. 

É evidente que existem sempre fugas à tirania industrial, o que graças às mesmas redes sociais, que tanto aniquilam os verdadeiros criativos, curiosamente acabam por ajudar a furar a hierarquização implementada, fazendo com que mesmo sem termos os padrões ditos consensuais conseguimos chegar ao "paraíso". É evidente que dada a globalização das artes, os diferentes serão sempre meros influenciadores de minorias, se bem que por vezes uma minoria pode dar lugar a um culto que nenhuma máquina industrial oleada ou organizada consegue combater. Ao longo dos anos temos tido os mais variados exemplos de "rebeldes" que acabaram por encostar às cordas a promiscuidade negocial de um mercado absolutamente agarrado a um pagamento de favores e troca de identidades por desvios mais fáceis para os objectivos pretendidos, ganhando respeito das entidades ditas especialistas, não de uma forma natural mas porque também estas perceberam que a equação não tem que ser exata. O que seria de nós se um dia alguém tivesse chegado perto dos Beatles e lhes tivesse dito que estavam errados na sua visão, porque comercialmente não iria resultar? 

E como estes teria centenas de exemplos para vos dar, nos mais variados sectores da Arte. A personalidade Artística acaba por ser o nosso único trunfo perante uma realidade em absoluta decadência e tentativa de monopolização da criação, o que me parece absolutamente desprovido de qualquer sentido de lógica. Quem cria deve ser livre física e espiritualmente para conseguir transportar de dentro de si cá para fora uma forma de comunicação que cada um de nós, como seres humanos, temos para oferecer de uma maneira muito singular. Cada um de nós é especial, seja a pintar um quadro, a escrever um poema ou a compor uma música. Hoje em dia tudo gira à volta da imagem, de quem tem mais seguidores, quem influencia mais, quem choca mais. Na minha opinião, a liberdade criativa é o maior dom que nos foi conferido e se alguém nos está a tentar retirar isso, devemos cerrar os punhos e lutar com todas as nossas forças para que jamais esse objectivo seja alcançado. 

Como Artista sou muito pouco flexível naquilo que é a minha identidade criativa, admito. Tenho a perfeita noção que pago a minha fatura por isso, mas tenho a certeza que estou a contribuir para a defesa de todos aqueles que no futuro sejam também essencialmente focados na criação e no transmitir vibrações e sensações únicas uns para os outros, que no final das contas é a principal função de quem tem a responsabilidade e o dom de poder oferecer algo para a posteridade. O importante não é o agora, mas sim o que deixamos para o futuro. A presunção de pensarmos que somos os mais importantes só porque estamos no nosso tempo acaba por ser actualmente o maior pecado da sociedade criativa em geral.
 
Carlos Vargas
Publicado em Carlos Vargas
segunda, 02 maio 2022 22:05

Tudo na mesma

Depois de dois anos de pandemia que forçou a uma paragem da actividade do entretenimento nocturno e eventos, o regresso veio trazer o que já se esperava - ficou tudo na mesma. 

Apesar dos esforços de inúmeras pessoas, onde associações foram criadas com investimento pessoal, numa tentativa de municiar os DJs das ferramentas necessárias para o seu reconhecimento profissional, as dificuldades foram encontradas dentro da própria "comunidade DJ". 

Rapidamente foram esquecidas as "queixas" de falta de apoios sociais, a inexistência de "voz" junto das entidades competentes, o reconhecimento da profissão e o auxílio para todos aqueles que iniciam ou que já exercem mas não têm o conhecimento de situações em que verbas que são suas por direito ficam nas mãos de terceiros.  

A desconfiança natural por parte da maioria dos DJs é justificada com o passado, onde várias associações foram criadas com intuitos poucos claros ou onde visavam o lucro, mas nem com o aparecimento de associações sem fins lucrativos, onde os associados não pagavam quotização, com estatutos claros e onde todos os associados tinham direito de apresentar candidatura aos orgãos sociais, tiveram uma recepção por parte desta comunidade para poderem oferecer o que os DJs tanto "reclamam" mas que pelos vistos não pretendem ter...

Foi uma oportunidade perdida e basta olhar para o modelo Holandês para perceber que há (havia) uma oportunidade única que podia levar à internacionalização do produto português e internamente munir os DJs de ferramentas que permitisse darem passos em frente nas suas carreiras.

Ao invés disso, agências e agentes (como eu) passaram a canalizar os seus esforços para outras áreas dentro da música, eventos e entretenimento e dezenas (para não dizer centenas) de DJs e produtores de música electrónica vão ficar pelo caminho ou com maiores dificuldades, havendo mesmo um decréscimo acentuado na contratação para eventos não especificados onde os DJs tinham o seu espaço e que foi ocupado por outro tipo de artistas e estilos musicais. 

Não há culpados (cada um é livre de fazer o que entender) mas há responsáveis e essa responsabilidade não precisa de ser assumida mas está imputada a quem deixou ficar "tudo na mesma". 
 
Ricardo Silva
Agente Artístico e Empresário
Publicado em Ricardo Silva
segunda, 19 março 2018 19:36

O que fiz para estar onde estou

A música é o que nos faz ser DJs? 

Todos sabemos que hoje a indústria da música eletrónica atravessa um período de mudança - o que é bom para uns e maus para outros. Em todas as formas de arte há tendências, o público segue-as e dependemos do público para "vingar" neste ramo. A música tem um período de consumo muito mais rápido se comparado a anos passados. Não me quero alongar nesta questão, mas há forma de contornar isso? 

A minha carreira de DJ/Produtor começou há 6 anos atrás. Nunca imaginei poder trabalhar com grandes artistas, nem lançar em grandes editoras como Lokosound ou Revealed. Para mim era sem dúvida algo muito distante, sobretudo olhando para o estado do mercado: muito saturado de demasiada informação desnecessária e com escassez de música. Será que se perdeu o que realmente me fez passar horas agarrado ao computador? 

Já tive muitos fracassos, e já ouvi muitos “nãos” e ainda acontece - porque acontece a todos - mas as “derrotas musicais” não se superam com uma foto no Instagram, nem tão pouco com likes. De certo que sobe a auto-estima e que alivia o processo de focagem noutro passo. 

Estou a dar a minha opinião, não quero discordar de ninguém que diz o contrário. Claro que todos nós sabemos que as redes sociais têm um peso enorme na carreira de um artista e que hoje talvez até tenham mais peso do que a própria música. Isso não significa que precisamos de deixar de ser produtores para ser modelos - a música, como já disse, é e sempre será o mais importante. 

"Não digo que as redes sociais devem ser postas de parte, porque eu mesmo não as ponho (precisamos delas para promover o nosso trabalho e dar-nos a conhecer ao público), estou a dizer que a maneira mais fácil de não sermos postos de parte é não por de parte a música." 

 

É importante ter um Manager/Agente? Ou será mais importante ter uma equipa?

Uma das lições mais importantes que aprendi ao longo destes anos em que sigo no ramo da música, é a que temos de ser nós a “bater com a cabeça” para ver o que está mal e com quem não devemos trabalhar. 

Eu trabalhei desde sempre com o Miguel. O Miguel não é agente, nem manager, não tem formação na área: trabalha em restauração. Mas a vantagem de trabalhar com o Miguel é que ele me conhece: as fraquezas, as forças, os dias bons e maus. E o mais importante é que ele acredita tanto no "ZINKO" como eu. Por isso acredito solenemente que a formação de uma equipa forte, com base na credibilidade do projecto e na confiança mútua é um ponto-chave para tudo funcionar.

Hoje em dia sou agenciado, sim, e tenho alguém "do outro lado". Tratamo-nos como equipa, delineamos estratégias e caminhos para chegar onde queremos. Mesmo que não consigamos, amanhã tentamos novamente. 

Quem quer que escolham para a vossa equipa nunca tratem a pessoa como alguém que está a trabalhar para vocês, mas sim que está a trabalhar convosco. A importância de ter um manager ou agente passa a não ter nexo se não se tratarem como equipa. "Nenhum treinador consegue ganhar campeonatos sem jogadores", é uma mensagem simples, mas que para mim faz toda a diferença. Eu sei quem não estaria onde estou agora, talvez até mesmo a escrever um texto de opinião, se não tivesse uma equipa a trabalhar comigo. 


Enviar Promos

A parte mais importante do artista passa obviamente pela música. Podemos cada vez mais potenciar a mesma e fazê-la chegar aos ouvidos de quem queremos. O envio de promos é algo muito importante no momento em que temos uma "nova música", mas é importante termos um método adequado e prático para o fazer.
 
Alguns pontos que tenho notado quando recebo as promos no meu e-mail.
 
1 - Apresentação 
Acho que ninguém gosta de ser abordado sem uma apresentação do que vai ouvir antes - nome, idade, país, breve descrição -, mas não é preciso alongar ao ponto de escrever uma biografia inteira. Artistas como Hardwell, Afrojack, ou Martin Garrix não estão minimamente interessados se vocês têm uma casa à beira-mar, ou se o vosso cão se chama "Rex". Uma breve descrição e o link da música chega perfeitamente. 

2 - Links
Nenhum artista dos que falei há pouco vai fazer download do vosso ficheiro, por isso acho que o mais prático será enviar um link privado de Soundcloud com download activo, ou link de Dropbox. A falta de pré-escuta é um ponto crucial para a música não ser ouvida. Passados 5 ou 6 emails com anexo, o que enviarem será considerado spam,  perdendo-se boas oportunidades de serem ouvidos, porque a vossa música podia estar boa.

3 - Música
Têm de estar certos de que o que estão a enviar é o melhor que conseguem. Nunca sabemos se o artista a quem enviamos a promo vai ouvir ou não. Por isso é óbvio que um ponto que todos devem considerar é que músicas inacabadas, sem mix/master, entre outros problemas, provavelmente não vão ter feedback ou se tiverem não vai ser o que gostariam de ouvir. Isso faz com que nós fiquemos desmotivados.

Processo Criativo / Mixing e Mastering
Neste tópico certamente não há muito para dizer, pois cada um tem o seu formato de trabalho e as suas manias. Não vou falar de nada que quem faz música não saiba, contudo acho importante referir alguns pontos. Não são precisas colunas topo de gama para fazer música. Não é preciso um estúdio de milhares de euros, não é preciso um teclado midi super atual e cheio de controladores, pois a maior parte das minhas músicas foram feitas de fones, teclado do computador sentado na mesa da minha cozinha. 

É tudo uma questão de conforto. Ter um espaço organizado é o ponto, não tem de ser o espaço nem a altura, acho que naquele momento tem de se estar completamente focado no que se está a fazer - esse é o truque -, obviamente que um bom computador e um bom equipamento ajuda, mas não é o mais importante. O mais importante é sim conseguir passar a ideia da cabeça para o software. 

A música não tem tempo para se fazer, eu tenho músicas com dois anos que sofreram alterações durante esse espaço de tempo até ter o produto final com que me sinto satisfeito. A minha faixa “Footprint” em colaboração com o “Tong Apollo” saiu em novembro de 2017, a ideia da música ficou pronta ainda em 2016. Mudámos tudo, 4 drops diferentes até chegarmos ao resultado final. Já a “Guaraná” demorou três dias a ser feita e consegui assiná-la numa das maiores editoras do mundo. O que importa na realidade é a ideia. Claro que uma ideia bem executada só tem a ganhar. 

Tentar fazer algo diferente não é nada fácil, eu sei disso, sei que fazer algo num estilo muito ouvido - Big Room, por exemplo - mas que não soe genérico é complicado. As labels procuram cada vez mais ideias novas, para criar tendências, algo novo, que não se ouve no mercado. É isto que chama a atenção dos A&R´s, a meu ver é tudo uma questão de ideias e alguma sorte. 

Depois existe a segunda parte, talvez das coisas mais importantes, pode parecer que não faz diferença, mas faz: o Mix/Master é algo que vai finalizar a música. Por vezes sem darmos conta é o que falta, aquele pormenor que não sabemos o que é.  Eu pago esse serviço: https://wiredmasters.co.uk/. Não sou profissional da área, ainda estou a aprender e a pouco e pouco é algo que se vai encaixando no ouvido, pois também tem a ver com o gosto de cada um. 

Sei que é um entrave para muita gente, porque são preços que não são acessíveis a todos, e por isso é aconselhável que o investimento seja numa música que valha a pena, porque como disse há pouco faz toda a diferença.

Gostava mesmo muito que este texto ajudasse a malta, isto é só a minha opinião. Não fiz nem mais nem menos que outros artistas, eu trabalho assim e estou a partilhar alguns dos meus métodos com vocês. Todos os erros de que falei acima eu já os cometi. Não me arrependo de forma alguma, serviram para aprender e a acreditar cada vez mais na minha música. Todos os dias trabalho nisto porque acredito. Espero que vocês partilhem este pensamento. Assim será muito mais fácil que nós, amantes de música, tenhamos um maior sucesso e que levemos o nosso país fantástico além-fronteiras pelo que mais gostamos de fazer.
 
Zinko
Publicado em Zinko
segunda, 07 novembro 2016 21:56

Espírito corporativo, existe?

 
O lançamento da APORFEST - Associação Portuguesa Festivais de Música (em setembro de 2015), veio no seguimento do Talkfest - International Music Festivals Forum (com uma primeira edição em 2012), um evento que ao longo de 2-3 dias por ano serve para aglutinar a indústria, torná-la frente-a-frente, fora dos escritórios ou dos nichos e assim torná-la mais humana e corporativa e assim seguidora de todas as outras áreas - marketing, direito, gestão de recursos humanos, psicologia. Daí até à organização de uma associação que representasse todos os setores (e.g. promotores, artistas, investigadores, media, prestadores de serviços, alunos) foi um passo porque ao longo do restante ano eram-nos colocadas dúvidas relacionadas com informação, legislação, fiscalidade, regulamentação ou financiamento entre tantas outras, o que nos obrigou a estar 365 disponíveis.
 
Os fundadores de ambas debateram-se ainda enquanto externos a esta indústria, porque não existe nesta área, a dos festivais de música a nível nacional (que todos falam, todos acham trendy, todos querem testar e dar-se a conhecer, mas que tem um défice de corporativismo) um seguimento normal de qualquer outra área - a partilha, o networking, o debate e o real interesse na evolução, que se consegue muito mais fácil de modo coletivo que individual ou em pequenos grupos (que não são mais que um disfarce)?
 
Orgulha-nos ter sido desbloqueadores deste ponto e colocar as entidades a falar de uma forma mais aberta, mesmo que concorrentes entre si, orgulha-nos ter dado a conhecer talento jovem em redes de contacto que são por si só pequenas e fechadas, assim como tantos outros fatores. Ao contrário de outros países e culturas, estamos a anos luz deste corporativismo sincero (sem invejas e beneficie com a concorrência e não com a falta dela) e que funcione em ligações privadas e públicas numa potenciação da internacionalização por exemplo, bastando ver o que outro evento organizado por nós, os Iberian Festival Awards, que apesar de estar na rede europeia dos Festival Awards, demonstra mais dificuldade em cativar e fomentar a cooperação ibérica entre portas que fora delas. Vemos com positivismo a chegada de novas associações que vão conseguir defender interesses e chegar mais rápido a objetivos que estivessem fora da associação de forma ad-hoc e espartilhada.
 

Existe ainda uma clara vontade de alguns players em quererem deter tudo no seu controlo e a não querer beneficiar daquilo que não comandam (...)

 
Da mesma forma, esta evolução tem sido alavancada por novos, pequenos e médios promotores, continuando a ser ainda difícil por todos num "mesmo barco" em que todos são iguais e todos valem o mesmo. Preocupa-nos o facto de não se ter apoiado eventos como os Portugal Festival Awards, organizado por uma dupla de jovens (que não a nossa que muitos confundiram), a querer premiar e valorizar uma área, sem conseguir rentabilizar a sua ideia, enquanto do outro lado se discutia a seriedade, a isenção dos mesmos, quando estes prémios são depois utilizados (e ainda bem) como forma de comunicação e credibilização de municípios e festivais. Enquanto lá fora, premiar uma área é apenas um "serviço mínimo" que deve existir em qualquer área.
 
Existe ainda uma clara vontade de alguns players em quererem deter tudo no seu controlo e a não querer beneficiar daquilo que não comandam, não se querendo imiscuir com os outros. Há muito caminho a percorrer, venham novas associações (de classes profissionais, de estilos musicais...), venham projetos como o WhyPortugal, venham debates, venha uma regulação e apoio claro a esta área. Mas venha de uma forma justa e realmente isenta como aquela que até aqui temos tentado fazer, sem se fazer contas a quem beneficia e aos lobbies que se quer deter ou não!
 
Ricardo Bramão
Presidente e Fundador APORFEST, Associação Portuguesa de Festivais de Música.
Publicado em Ricardo Bramão
 
É desde o ano 2012, que as crónicas de opinião têm assumido um importante lugar de destaque no Portal 100% DJ, ou não fosse este, um espaço assinado por ilustres figuras do panorama noturno nacional.
 
Não querendo fugir à regra, nem tão pouco defraudar os nossos leitores, este ano voltamos em força no que diz respeito ao sublime painel de cronistas que prontamente aceitaram o nosso convite para as Crónicas deste ano. É um orgulho para nós, e ficamos mesmo com um sorriso de orelha a orelha.
 
A destacar na nossa grelha de 2014 temos o facto de continuarmos com a nossa "mulher-dos-sete-ofícios" - Rita Mendes. Este ano, coube-lhe abrir "as hostes", onde já nos brindou com a sua novíssima crónica, abordando o assunto dos estilos musicais dos DJs. "Qual é o teu estilo, DJ?". Outra renovação que também nos orgulha imenso, é a do Ricardo Silva, rosto da DWM-D World Management. Também o DJ e produtor português Massivedrum, volta a juntar-se este ano ao ilustre painel.
 
Destacamos ainda o regresso de Mariana Couto às lides da escrita de opinião na nossa plataforma e a fusão do DJ Rusty e da dupla FunkYou2 à Agência EUROPA, que, desta feita, disponibilizará a opinião dos seus DJs. Motivos mais que suficientes para acompanhares todos os meses, as crónicas de opinião do Portal 100% DJ, 365 dias ao ritmo da noite.
 
Publicado em 100% DJ
Foram divulgados recentemente os primeiros cancelamentos de eventos musicais devido ao surto de Covid-19, o novo coronavírus proveniente da China. Já foi cancelado o Ultra Music Festival que ia acontecer em Miami nos dias 20, 21 e 22 de Março. O Coachella, um dos maiores Festivais nos USA previsto para os fins de semana de 10 e 17 de Abril também já foi adiado para os fins de semana de 9 e 16 de Outubro. Um dos principais "Clubs" Espanhóis, o Fabrik, perto de Madrid, suspendeu ontem os seus eventos devido à recomendação do Ministério da Saúde Espanhol e da comunidade de Madrid e irá em breve divulgar as novas datas. Madrid é a comunidade autónoma com mais casos confirmados do novo coronavírus, com cerca de 1024 casos confirmados. Vários concertos de artistas conceituados foram cancelados ou adiados, tudo devido a este novo vírus que se tem espalhado um pouco por todo o planeta.

Portugal, de momento ainda tem, felizmente, poucos casos confirmados (59, no momento em que escrevo esta crónica) comparativamente com os países que nos são mais próximos. Espanha neste momento já tem 2124 casos confirmados e 49 mortos e França que tem 1700 casos confirmados e 33 mortos. O que leio sobre a maior parte dos falecidos relativamente ao Covid-19 é que são pessoas de avançada idade, com problemas respiratórios crónicos prévios à infecção pelo vírus o que os torna muito frágeis relativamente a novas infecções, especialmente aquelas que atacam as vias respiratórias. Parece que este novo vírus não é muito eficaz em pessoas mais jovens, sãs, e que os seus sintomas nestes casos passam por ser os mesmos de uma vulgar gripe, muito comum nesta altura do ano. 

Justifica-se então o "pânico" que se está a gerar neste momento em Portugal, relativamente à difusão deste novo coronavírus, quando ainda existem tão poucos casos confirmados, comparativamente a outros países?

Na minha opinião há que redobrar os cuidados a ter quando vamos a locais onde se juntam muitas pessoas e sejam potencialmente focos de contágio, tal como os aeroportos. Como vivo em Espanha, passo por vários todos os fins de semana e nas últimas vezes tenho tido alguns cuidados "extra", como lavar as mãos muito bem e varias vezes, especialmente depois de tocar sítios onde muita gente toca, tentar espirrar só em locais onde não estão pessoas próximas e caso isso não seja possível espirrar para o cotovelo, de maneira a conter as partículas que possam conter o Covid-19. Neste momento estou com (mais uma) uma infecção na garganta que me provoca sintomas compatíveis com uma gripe e no fim de semana passado já tive várias pessoas que me olharam de lado no aeroporto e durante o voo por estar com esses sintomas... 

É um facto que este novo coronavírus é bastante mais contagioso do que uma gripe normal, mas os sintomas em geral são leves. São preocupantes os casos de pessoas sem sintomas aparentes que deram positivo no teste do Covid-19 e que o podem ter transmitido sem sequer saber que estavam infectadas. No entanto, todas as notícias que li e ouvi até hoje referem que o grupo de risco e principal afectado por este novo coronavírus é o grupo de pessoas de media idade/idade avançada, com doenças prévias e que as pessoas jovens só têm praticamente os mesmos sintomas de uma gripe sazonal. Está provado que a mortalidade do Covid-19 é superior à de uma gripe normal, mas tal como já referi, a taxa de mortalidade entre os jovens contagiados é muito reduzida.

Acho que é a primeira vez que uma epidemia é acompanhada "ao minuto" à escala global, o que tem provocado alguma desinformação. As redes sociais também estão a ajudar a espalhar algumas informações incorrectas sobre o Covid-19 e estão a provocar aqui em Espanha a corrida aos supermercados, com medo a que se chegue a uma situação de “fecho total” do país, como está a acontecer neste momento com Itália, apesar dos directores das principais marcas já terem vindo a público dizer que não vai haver falta de produtos nas prateleiras.

Apesar de haver poucos casos em Portugal, o Covid-19 já chegou à música electrónica. Na passada sexta 6 de Março houve um evento no Hard Club no Porto onde actuou um DJ que posteriormente deu positivo ao novo coronavírus e está neste momento internado em isolamento no Hospital Pedro Hispano em Matosinhos. Ele próprio veio tranquilizar as pessoas através de um vídeo em que diz que está tudo bem, que está fisicamente bem e que simplesmente tem sintomas de uma gripe "normal" mas tem que estar isolado para não contagiar outras pessoas. Já havia algumas pessoas alarmadas com a notícia desse positivo, mas o certo é que o Covid-19 só se contagia através de contacto físico directo, ou através de partículas em suspensão vindas da pessoa infectada que normalmente se projectam no espaço de um, dois metros no máximo. Às pessoas que estiveram em contacto directo com esse DJ que atuou na pista 2 do Hard Club, a Direcção Geral de Saude aconselha a ligar para os números 220 411 170 ou 220 411 171.

Espero sinceramente que a situação não se agrave em Portugal e que esta epidemia não atinja os números que já atingiu nos países vizinhos. Há que extremar os cuidados, lavar as mãos frequentemente, se possível desinfectá-las várias vezes ao longo do dia. Segundo os médicos, este tipo de coronavírus é bastante sensível ao calor e quando as temperaturas subirem (o que deve acontecer em breve, com a entrada da Primavera) as partículas contaminantes têm uma vida útil bastante mais curta o que vai reduzir muito o número dos contágios.

Eu acabei de ter o primeiro evento adiado devido ao surto de coronavírus. Vamos esperar que esta "pausa" em que o país vai estar nos próximos dias seja a maneira mais eficaz de conter o vírus e que depois destes adiamentos a “dance scene” e a vida em geral em Portugal volte ao seu ritmo normal. É importante termos muito presente que isso também depende de todos nós. Ao tomar as medidas recomendadas pelos serviços de Saúde, sem entrar em "pânico", estamos a contribuir para que este Covid-19 seja controlado o mais rápido possível!
 

Carlos Manaça

DJ e Produtor

www.facebook.com/djcarlosmanaca

 

(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)

Publicado em Carlos Manaça
terça, 16 fevereiro 2021 12:07

Noite AC e DC

Que noite tínhamos Antes do Covid (AC) e que noite teremos Depois do Covid (DC)? O tempo é péssimo para a memória e a maioria já se recusa a lembrar que a noite AC já era uma pálida imagem de outros tempos áureos, como a inesquecível década de 90 que tantas saudades deixou. O privilégio que foi viver esses tempos. 

Contudo não deixo de reconhecer que talvez a noite já não fosse apetecível para mim, para muitos da minha geração e anteriores, mas que preenchesse os requisitos das gerações mais jovens, acredito que a música que nos fere os ouvidos, a nós mais gimbras, faz as delícias de quem hoje salta para a pista aos primeiros acordes de um "Despacito". 

Mas a grande incógnita reside no DC, com as portas das discotecas encerradas há um ano, a fazer no dia 8 de Março, que noite nos espera quando for dada ordem de soltura? Numa entrevista a um histórico da noite do Porto, li que o mesmo dava um prazo de 4 anos até que a noite estivesse maturada para ser consumida, em resposta, nos grupos da noite numa rede social, outros empresários mostravam-se mais otimistas, havendo alguns que acreditam mesmo, que abertas as portas, não haverá distanciamento social que resista. 

A verdade é que nos países onde a noite se iluminou e ganhou vida, as quebras foram significativas DC em comparação com o AC, razão da falta de confiança por parte dos consumidores, da incapacidade financeira e, na minha modéstia mas sábia opinião, a mudança de hábitos. 

Hoje temos uma sociedade com hábitos diferentes, janta-se mais cedo, dorme-se mais cedo e acorda-se mais cedo, mesmo confinados. Os hotéis servem refeições, nos restaurantes as iguarias acompanham-se som de um DJ que convida a bater o pé e os bares servem duchesses e galões de manhã à noite, para recuperar a tesouraria, e no formato 24/7 assume pistas de dança iluminadas por luzes dinâmicas, de qualidade duvidosa, adquiridas nos chineses. 

E quando abrirem as discotecas? Ainda haverão forças para mais uma voltinha no carrossel ou já estaremos esgotados e com as carteiras cansadas? Propus, ao autarca máximo da capital, reciclarmos os horários ou limitarmos a pressão acústica para que, os utentes da noite, não ficassem retidos em espaços de restauração ou em bares onde o nível de DBs deveria dissuadir à dança. 

A ver vamos, desde já, navegamos à vista em embarcações de esperança que tudo volte à normalidade. Igual não será, esperemos que seja melhor. 
A Gerência.
 
Zé Gouveia
Publicado em Zé Gouveia
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