quarta, 01 junho 2022 09:06

A certeza da incerteza

Nunca foi tão certo que o incerto é uma evidência para a humanidade!

A economia, a saúde, o emprego, a cultura... Hoje, tudo é o momento presente sem que se conheça o amanhã, por causa, claro, dos acontecimentos dos últimos dois anos.

Em fevereiro de 2020 a pandemia Covid chegou à Europa e em fevereiro de 2022 surge a guerra na Europa, para a qual ninguém sabe prever um fim ou o impacto que terá nas sociedades pelo mundo fora.

A cultura de uma forma geral irá igualmente apresentar novas ideias e formas de expressão? A música englobada na área da cultura tem uma força de comunicação muito importante, como presenciámos na última edição da Eurovisão. Quanto à música consumida como forma de diversão, vai ela também evoluir?

Aproveito esta deixa para puxar para o estilo musical que me é mais próximo, a música eletrónica, que engloba várias influências e géneros: House Music, Techno, Trance, Afro…

Pois bem, aqui a incerteza parece-me ser uma verdadeira certeza, não relativamente à sua existência mas sim à forma como se irá continuar a difundir pelo mundo, o que implica, para quem está diretamente ligado à música eletrónica, uma verdadeira liberdade criativa, que o momento atual exige!

Copiar o que já foi feito não é bom nem nunca foi, porém inspirar-se em algo já feito e fazer melhor é um dos grandes desafios artísticos. Mas criar algo novo... é mesmo só para alguns e esses ficarão para sempre na história da música eletrónica.

Os artistas nas diferentes vertentes da cultura são uma luz de paz e amizade para a sociedade, e eu considero-me realizado por poder partilhar a história e a inspiração de alguns deles, mesmo daqueles que já partiram, como o meu amigo Erick Morillo, para quem nunca houve certezas - "Que continues a ser sempre uma fonte de inspiração, de dedicação, de trabalho e de exigência porque... só talento não chega!".
 
José Manso
Publicado em José Manso
terça, 16 abril 2019 19:39

DJs vs Produtores Musicais

A indústria da música é um mistério para todos os que estão de fora. As portas para entrar são muitas, mas pouco nítidas. Existem vários caminhos a percorrer, mas estão todos intercalados. 

Na música eletrónica um dos primeiros dilemas é por onde começar. Vou ser DJ ou vou ser Produtor Musical? Queremos ser os dois, mas será que essa é a solução para todos?

Um DJ não tem de ser um Produtor e vice-versa, cada um tem um papel dentro da indústria e o caminho a percorrer está diretamente relacionado com o objectivo de cada um.

O DJ é um entertainer, um intérprete das músicas que toca. Os seus talentos passam pela selecção da música, pela presença de palco e pela capacidade de ler a multidão que tem à sua frente. O seu grande desafio é pôr até a pessoa mais tímida, no fundo da plateia, a dançar. Não é um trabalho fácil. Cada espectáculo exige preparação, capacidade de interpretação e uma energia equivalente àquela recebida pelas dezenas, centenas ou milhares de pessoas que têm à frente.

O produtor não precisa de ser um entertainer. O processo de criação de áudio requer outro tipo de competências. É um processo igualmente criativo, mas mais longo e mais solitário. Precisa de existir uma capacidade de apreciar e absorver vários estilos de música e, mesmo assim, criar algo completamente diferente. 

Embora seja comum no meio associar imediatamente o DJing e a Produção Musical à música eletrónica, ambos os profissionais têm um leque de competências que vão muito além deste universo. Um apaixonado pela música eletrónica tem dúvidas por onde começar, porque as vê como complementos, imagina-se como um DJ de festas e festivais que pretende produzir as próprias músicas. 

No entanto, num contexto de formação, é importante que no início do seu percurso sejam guiados, mostrando-lhes as diversas carreiras que podem percorrer, e que cada caminho é infinitamente mais abrangente do que o preconceito inicial. Como em qualquer área de formação e desenvolvimento, é necessário entender que o futuro é incerto e que uma formação sólida numa dada área pode resultar numa carreira promissora por caminhos não previstos. É nestes caminhos alternativos que as duas áreas se separam e cada um deve analisar qual a opção que reúne competências que o possam levar a trajetos profissionais mais promissores e nos quais se sentirá mais realizado.

Ainda que um DJ possa estar mais associado à música eletrónica, a festas, clubes ou festivais, e que esse seja o grande sonho de um jovem aluno, o futuro pode reservar-lhe a uma carreira de sucesso na rádio, relegando as festas para complemento esporádico ou apenas hobby. Neste caso, as competências de Produção Musical serão pouco mais do que um saber que não ocupa lugar ou mais uma ocupação de tempos livres.
 
Por outro lado, um produtor musical, poderá escolher ao longo do seu percurso dedicar-se à produção de música para outros, sejam eles DJs ou bandas, etc. O conhecimento técnico e criatividade de um produtor musical pode levá-lo até carreiras ainda mais distantes da sua ideia inicial, fazendo carreira na televisão, cinema, rádio ou até no desenvolvimento de músicas para a indústria dos videojogos. Tudo o que precisa de acompanhamento de música precisa das competências de um produtor musical. 
 
Se já andas com o "bichinho" da música, seja eletrónica ou não, começa por pensar em que contexto é que gostarias de te inserir. Alarga o leque de opções e entende que decisão te pode abrir mais portas com que te identifiques. Esse primeiro passo vai-te ajudar a aproveitar ao máximo o tempo de aprendizagem. 

Se o teu objectivo é entreter uma multidão, então vais querer ser DJ.
Se gostavas de fazer a banda sonora de um filme, vais querer ser produtor musical. 
Se gostavas de fazer criar efeitos sonoros para um jogo de playstation, vais querer ser produtor.
Se gostavas de passar música na rádio, então, se calhar, queres mesmo ser DJ.
E os exemplos continuam.

A verdade é que não estás limitado a um ou outro, podes ser os dois, podes não querer perder a oportunidade de tocar o teu próprio som. As opções são infinitas e nós não podemos escolher por ti. Esperemos que isto tenha ajudado, pelo menos a definir prioridades e a alinhar objectivos.
 
AIMEC
Academia Internacional de Música Eletrónica
Publicado em AIMEC
terça, 06 dezembro 2016 22:35

30 Anos

Num dia de Setembro de 1986, depois de ter participado em alguns eventos na escola que frequentava (a Escola Secundária de Santo André, no Barreiro, distrito de Setúbal) e algumas festas particulares, fui até à Discoteca “Os Franceses” (chamava-se assim porque ficava por baixo de uma Sociedade Recreativa chamada “Os Franceses”) para “prestar provas” e assim poder começar a trabalhar ali como DJ residente.
 
Foi uma tarde de muitos nervos, com o gerente, alguns empregados e amigos a ouvir o meu “set” feito ali, em directo, para depois decidirem se eu iria ou não ficar como segundo DJ da Discoteca. Aquele que fazia as folgas do DJ principal e passava os “slows”, a música mais calma que se passava numa determinada altura da noite (ou tarde) e onde as pessoas dançavam agarradas. Dois “pratos” com “pitch” (com sistema de correia, o que os tornava bastante “variáveis”) uma mesa de mistura de dois canais (sem equalizador por canal) e alguns discos de vinil escolhidos pelo gerente foram os instrumentos usados para esta avaliação.
 
Apesar dos nervos, de não conhecer os discos e de não ter monitores na cabine (“luxo” que só apareceria muitos anos mais tarde...) a “audição” correu bem e fui aceite como DJ residente. Foi uma sensação inesquecível para mim! Todas as horas passadas a ouvir (e a gravar em cassetes) os programas “Discoteca”, “Som Da Frente”, “Todos No Top” na RDP-Rádio Comercial (entre outros) tinham valido a pena... O meu primeiro ordenado: 25 contos por mês para trabalhar quartas, quintas, sextas e sábados à noite e domingos à tarde! Hoje seriam 125 euros...
 
Em 2016 ano passaram 30 anos desde este momento. Desde essa altura muita coisa mudou no papel que o DJ desempenha num Club. Em 1986 um DJ era simplesmente mais um empregado da Discoteca, cuja função era passar a música que funcionasse melhor para o público do momento, fosse Pop, Rock, Reggae, ou outro qualquer estilo desde que não se “esvaziasse a pista”. Os discos eram comprados pelas discotecas e não pelos DJ’s, por isso os gerentes (que muitas vezes acompanhavam os DJ’s nas compras) também tinham uma  desde que fosse dançsmente acompanhavam os DJs , Rock, Reggae, ou outro qualquer estilo, desde que fosse dançuma palavra a dizer sobre o estilo de música. Nos dias de hoje é difícil imaginar uma situação destas, certo? Mas era assim que funcionavam a maior parte dos Clubs...
 

O DJ é neste momento um dos ícones, uma das principais referências dentro da música, nas suas várias vertentes e estilos.

 
Hoje em dia o DJ é o artista principal da discoteca/evento. É por ele, pela música que ele “toca” (a aplicação deste termo a um DJ dará para outra crónica...) que as pessoas ali se deslocam. Ou pelo menos é assim na maioria dos casos. O papel que um DJ tem nos dias de hoje não tem nada a ver com o que tinha nos anos 80/90, o seu protagonismo é (quase) total, tendo-se mesmo tornado uma estrela Pop nos últimos anos. Quando nomes como David Guetta, Carl Cox, Richie Hawtin, (entre muitos outros) enchem estádios/pavilhões com milhares de pessoas e têm os seus próprios dias nos maiores festivais de música em todo o planeta, facturando milhões, é toda uma geração que os segue. Os DJ’s são, sem dúvida, dos artistas mais importantes do século XXI. Os cantores do momento querem gravar com os nomes mais importantes, as bandas querem remixes suas, o seu nome aparecer num tema é (praticamente) garantia de sucesso. O DJ é neste momento um dos ícones, uma das principais referências dentro da música, nas suas várias vertentes e estilos. Um exemplo a seguir por muitos.
 
É por isso normal que muita gente queira seguir este caminho. Todo o mediatismo gerado à volta da figura do DJ leva a que muitas pessoas queiram, naturalmente, fazer o mesmo percurso, tentar chegar “lá acima”. As novas tecnologias e o seu fácil acesso (e o baixo preço do equipamento, quando comparado com os preços dos anos 80/90 e 2000) tornaram muito mais fácil o caminho para os novos talentos. É bastante mais fácil para uma pessoa com talento e determinação, mesmo com poucos recursos económicos, conseguir produzir um tema com muita qualidade que tenha sucesso nas rádios e que projecte o seu nome como Produtor, o que leva (na maior parte dos casos) a um aumento das suas actuações como DJ.
 
O “ser DJ” tornou-se por isso um objectivo de muitos, o que em alguns casos provocou reacções menos positivas de pessoas que criticam a “banalização” do papel do Disc Jockey. É verdade que houve (e continuará a haver enquanto o DJ tiver o protagonismo que tem hoje) muitas pessoas que “apanharam o autocarro” (os ingleses têm uma expressão para isso - “jump on the bandwagon”) do DJ’ying e que se aproveitam (ou aproveitaram) desse fenómeno e “de repente” também são DJ’s. É uma situação normal e que não vai acabar tão cedo. Mas também é verdade que esta “massificação” nos trouxe alguns artistas de muito talento que de outra forma nunca poderiam ter chegado ao grande público.
 
Para mim 2016 foi um ano muito especial. Foi o ano em que cumpri 30 anos totalmente dedicados à música, deixando para trás uma (possível) carreira como arquitecto. Uma data que sinceramente nunca pensei em atingir, até porque quando comecei a minha carreira, os DJ’s com mais de 30 anos de idade (salvo raras excepções) já eram considerados “cotas” ou “desactualizados”. Foi também um ano de balanço, de pensar em tudo o que aconteceu ao longo destes 30 anos, em toda a música que me “passou pelas mãos”, em todas as horas, noites, tardes, dias passados em estúdio ou a actuar em algum das centenas de eventos onde participei. Na mudança radical do papel do DJ ao longo destes 30 anos...
 

Sinto-me um privilegiado por ter acompanhado todo este processo e por ainda hoje, creio eu, fazer parte do lote de artistas que impulsionou e impulsiona a “Dance Scene” em Portugal.

 
Tive a sorte de estar nos princípios do “boom” da música de dança em Portugal, ao lado das primeiras editoras a arriscar editar música electrónica “Made in Portugal” (das quais a Magna Recordings fez parte), nos primeiros eventos com DJ’s convidados vindos do estrangeiro a actuar em solo nacional e mais tarde nos primeiros mega-eventos de música de dança em Portugal. Sinto-me um privilegiado por ter acompanhado todo este processo e por ainda hoje, creio eu, fazer parte do lote de artistas que impulsionou e impulsiona a “Dance Scene” em Portugal.
 
2016 foi sem dúvida um dos melhores anos da minha carreira, recebi alguns prémios (entre os quais o da 100% DJ), participei em muitos eventos que me marcaram bastante, tal como os “Melhores do Ano da Radio Nova Era” (Porto) em Abril, onde recebi o Prémio Carreira (totalmente de surpresa...); no mega evento “Rock In Rio” em Maio em Lisboa, onde actuei ao lado de nomes como Carl Cox, DJ Vibe ou Octave One, todos referência para mim enquanto DJ’s/Produtores. Uma noite inesquecível!
 
Foi por isso com muito prazer que no final de Outubro estive no Salão de Plenos da Câmara Municipal do Barreiro para receber uma homenagem aos meus 30 anos de carreira, das mãos do próprio Presidente da Câmara. Foi uma total surpresa para mim que a Câmara Municipal da minha cidade se tivesse dado ao trabalho de organizar essa cerimónia onde estiveram alguns dos meus amigos mais próximos, a minha família mas também alguns meus ex-colegas da Escola Secundaria, pessoas que eu já não via há décadas! Nunca eu iria imaginar que, 30 anos depois de passar tantas vezes a pé em frente à Camara Municipal a caminho dos “Franceses” para ir trabalhar, iria estar ali no Salão de Plenos a receber uma homenagem pelos meus 30 anos de carreira das mãos do próprio Presidente da Câmara!!
 
A minha mensagem é por isso muito simples: acreditem nos vossos sonhos, por mais difíceis que possam parecer, dediquem-se o mais que puderem à música se esta for mesmo a vossa paixão. Não vão por “modas”, tentem “tocar” aquilo que realmente gostam, se puderem entrem também pelo caminho da produção, criem os vossos próprios temas, porque, se o vosso trabalho tiver mesmo qualidade, mais cedo ou mais tarde a vossa oportunidade vai (mesmo) aparecer... Eu (ainda) acredito nisso!
 
Carlos Manaça
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
quarta, 03 julho 2013 21:18

Summer Sessions

 
Uma crónica de Verão tem sempre muito que se lhe diga. E tem, principalmente, porque como a "Silly Season" costuma ser a patetice pegada em quase todas as áreas, escrever coisas sérias parece-me também pretensioso...
 
Sublinho o quase, porque se houver, no entanto, a viabilidade de algum motivo sério de conversa... talvez essa seja a da área da Música. Sim, é a época áurea do rodopio de internacionais, cá a poisar na terrinha. E cada canto vai ter um. Ou mais.
 
Festivais "à séria", festas "da terrinha" e populares, discotecas da moda e "disco-nights" da aldeia... tudo vai ter os seus Steve Angelos, David Guettas e Axwells da vida , os seus Allessos e Hardweels, Sashas milionários e com quase pornográficos cachets.
 
Eles vão a todas. Desde a grandes certames de qualidade, com outros grandes nomes comerciais lado a lado no cartaz, como se "sujeitam" a locais estranhos em que o dono é um qualquer novo rico  do local que decide "fazer mexer" a terriola e desembolsa 50 mil euros para um destes monstros da house music tocar a seguir ao residente Huguinho, Zézinho ou Luisinho.
 
Por isso é que o meu amor pela música eletrónica se mantém fiel a alguns dos que considero "estrelas" à séria, não porque exigem 100 mil euros por set, mas porque mantém a coerência e o cuidado quanto aos eventos em que se envolvem.
 
Ritchie Hawtin, Plasticman, Marco Carola, Dubfire, Steve Lawler, Loco Dice... são alguns aos quais, sim, tiro o chapéu. Tocam no que considero os melhores Clubes. E há uma real diferença entre Discoteca e Club. As primeiras são para massas, os segundos para amantes de música. E para estes estes senhores não há cá "pão para malucos"... tocam e tocam bem, não há cá buzinadas e loops de 2 minutos. Eles continuam a encantar e são elitistas nos sítios que escolhem para trabalhar e por isso... os sítios também fazem "nome" ligado a eles.
 
A bola de neve é esta: um DJ e um estilo, fazem a onda do espaço e o espaço onde toca, vai criando pouco a pouco a verdadeira credibilidade do DJ.
 
Os nomes que falei também são grandes e não podem sequer ser considerados "alternativos", mas basta não serem "vendidos" e manterem a sua linha musical para os aplaudir de pé. Não vivem do hit do momento, mas sim da carreira consolidada, não arrastam os miúdos de 18 anos mas o público da minha geração, dos 30, os que cresceram com o puro house e com o tecno apurado. Para mim, a base de tudo o resto.
 
As festas, nesta altura multiplicam-se. Mesmo!! Cada beco tem a sua e parece que o dinheiro cresce, num tempo de crise anunciada, vivida e choramingada  por quase todos - mesmo na noite, onde tantas casas têm fechado portas - para competir com o "vizinho" do lado que trouxe o DJ X ou Y. Por vezes, batalhas ganhas, por vezes perdidas. E a quantos lamentos de produtores, já assisti, quando ao investirem largos milhares "certos de retorno", se tornam menos certos e perdem outras tantas milenas, que inviabilizam os Verões e Invernos seguintes.
 

É Verão, "Silly Season" e a melhor altura de trabalho, com mais mercado para os DJs, com mais público na rua, com mais dinheiro para gastar.

 
Quero chegar ao seguinte: DJ de renome já foi dinheiro certo em caixa, já lá vão os tempos em que se gastava 100 mil para ganhar 300... Mas nessa altura, haviam 4 ou 5 festivais, não 50. Mas nessa altura os DJs conceituados eram 10 no mundo e não 100. Mas os cachets a que chamávamos milionários eram de 10 mil euros e não 100 mil. As apostas hoje em dia já não são tão certeiras, há quem se ria e há quem chore. E depois ainda há os "sets de merda" a que nos submetem por ser o que o povinho que enche as casas quer ouvir…
 
Uff... Volto à carga. É Verão, "silly season" e a melhor altura de trabalho, com mais mercado para os DJs, com mais público na rua, com mais dinheiro para gastar. Mas é também, cada vez mais, nos tempos que correm, altura mais do que obrigatória para fazer triagem. Não ir a "todas" (nem como DJ e muito menos como público) e, a não ser que se vá para "ver as gajas"..., escolher a vibe e a qualidade musical que se procura e aí sim... seguir a "Yelow Brick Road" até... ao bom festival mais próximo!
 
Neo Pop, Refresh e numa onda mais comercial - Azurara... Para mim são os eleitos. Não que seja lei, mas é a minha opinião até porque o Verão é feito de brisas e por aí vão sempre existir os momentos que elegemos como nossos e marcantes, as memórias que farão parte da nossa vida e claro, sempre com a banda sonora perfeita, a que se adequou à hora certa, e com a batida que tinha que ser. 
 
A procura é nossa, a escolha também, a coerência faz parte dessa escolha. E quem ama a Club Scene, sabe do que falo, não sabe?
 
Bom Verão e encontramo-nos por aí? Nas boas e quem sabe, até nas medíocres festas! 
 
Como DJ, RP e Music Blogger... no fundo, terei que "papar" com o bom e com o mau, para poder falar com conhecimento de causa e claro... ganhar o meu. :)
 
Certo?
 
 
Rita Mendes
Publicado em Rita Mendes
sexta, 10 janeiro 2014 21:35

Qual é o teu estilo, DJ?

 
Falemos dos "estilos". Passam os tempos e cada vez se torna mais difícil defini-los, garanto-vos. Pelo menos definir o que é que este ou aquele DJ toca.
 
São raros, raríssimos os que se conseguiram manter fieis às suas ondas originais. Armin Van Buuren no trance, Carl Cox, Richie Hawtin, Adam Beyer, Marco Carola no tecno, Steve Aoki, Afrojack, Chuckie no electro mais acessível, e pronto, à excepção dos incontornáveis de que não falei (e ainda são alguns pelo mundo fora, "graça a Deus!")... por aí... o resto é tudo uma adaptação do que se ouve agora, do que se quer agora, do que faz mexer as pistas, do que as rádios e playlists online veiculam.
 
Acredito que uma das coisas que mais incomoda um DJ, hoje em dia, é por isso, a pergunta: "Então e qual é o teu estilo?" Irrita, porque todos nós temos, obviamente as nossas preferências. Podemos gostar de minimal, progressivo, tecno, puro house... mas obviamente, que se queremos trabalhar nos dias que correm, temos mesmo que nos adaptar e tentar, fazer a melhor "viagem" possível durante as duas ou três horas normais de um set, MISTURANDO, sim, misturando... estilos, sonoridades e fazendo até o que à partida os puristas te ensinam a não fazer... colar a "bota e a perdigota"... uma de house comercial, seguida de uma "electrozada" e a seguir um techouse bem metido.
 
É obra dura de fazer.  E aqui, a diferença de quem o sabe ou não fazer, tem a ver com o bom senso, o bom gosto, a coerência... dentro do que à partida seria incoerente.
 
É mais isso, do que  passar uma horas seguidinhas das batidas certinhas da onda com que nos identificamos. Porque aí, à partida, sabemos que não falhamos (tecnicamente é mais fácil, claro, porque não há o perigo de "picos" e porque estamos fechados e encantados com o que nos enche as medidas como artistas). Mas, a verdade é que... não falhamos para nós, mas para o pessoal que está lá na frente, a não ser que vá já completamente formatado a ouvir o "nosso som" (ui, e é tão bom quando isso acontece), eles querem é diversidade e que a tal viagem os surpreenda, encha as medida, que as músicas lhes sejam familiares na sua maioria. E até os tais "picos" que às vezes não seriam aquilo que para nós faria sentido... é o que se quer.  E a nós... ai ai… e a nós, DJs de casa cheia, resta a magia (que esperamos ser certeira) de conseguir fazê-lo sábia e energeticamente.
 
Falo por mim, que nunca fui adepta do comercial puro e duro e cada vez mais a ele tenho que recorrer. Porque assim as casas o exigem  (ou só tocaria em mini clubes e bares com cachets baixinhos e onde o público seria muito menor em número que nas discotecas e festas mais massificadas por este país fora) e porque mesmo os "grandes", os internacionais, que em tempos produziram sons que nos ficaram no coração e na memória cada vez mais se dedicam a criar tendências comerciais e que os outros seguem pelo mundo fora.
 
"E é assim que é"... o Amor à música eletrónica, como tudo na nossa sociedade, tem que ser readaptado. Pelo menos a forma de o transmitir. E aí volto de novo aos estilos. "Qual é o teu estilo, DJ?"... Acho que a resposta da maioria, se não é, deveria ser: "O que eu toco? Ou o que eu gosto?".
 

Qual é o teu estilo, DJ? Acho que a resposta da maioria, se não é, deveria ser: "O que eu toco? Ou o que eu gosto?"

 
Amigos... o estilo confunde-se com o local, com a carreira, com a imagem que têm de nós, com o party people que temos à frente, com a hora a que tocamos, com o tipo de evento. Eu, por exemplo, toco desde em eventos corporativos às 4 da tarde até ao pico da hora dos "chalalás" todos comerciais que é às 3 da manhã e até de vez em quando faço um ou outro after em que me estico com o tecno e electro menos acessível.
 
Além de tudo isto... é impressionante constatar as "modas" que tão rapidamente entram e saem de cena. Por exemplo, o ano passado o público mais novo, quase que inexplicavelmente (porque não fazia parte da sua cultura musical, foi sim uma moda passageira) exigia quase lado a lado com os temas comerciais do Avicii, Alesso e afins... o dubsetp para embalar uma noite bem bebida. Este ano que passou... foi o Afrobeat. Para todos. Brancos. Pretos. Na cidade. No interior. Mesmo que não tenham qualquer afinidade com a cultura africana... gostam de afrobeat e mais espantoso ainda... de Kizomba e Kuduro.
Pergunto-me o que virá este ano e que... fará esquecer o que ficou para trás e que já foi apagado no iPod, para ganhar mais espaço para músicas novas?...
 
Falemos de "estilos", comecei assim a minha crónica... Ou não. Falemos então da nova filosofia de DJ. Da forma de adaptação à pista. Da vontade que temos que fazer crescer em nós de continuar a pôr o público a dançar. Da arte que considero perfeito de oferecer "uma para nós" e "duas para o público" e da magia que já raramente acontece, mas que não é, obviamente impossível quando a comunhão entre eles e nós - os DJs - acontece e esta máxima passa a ser: "uma para nós", "uma para eles" ou até mesmo "todas para todos".
 
São noites dessas que ficam na nossa história pessoal e independentemente de ondas, estilos ou géneros são noites dessas que mantêm aceso o nosso amor por esta arte.
 
E... que este ano tenha umas quantas dessas. Desejo-o para mim e para vocês. E assim, nos cruzaremos, aí pelas estradas desse país, de clube em clube, com aquele sorriso de satisfação e realização de que tão bem conhecemos o puro feeling, e é cada vez mais raro.
 
Rita Mendes
Publicado em Rita Mendes
segunda, 01 novembro 2021 18:52

«Das duas, três»

Quando tudo parece ter regressado à dita normalidade, as notícias de um eventual regresso aos confinamentos surgem a pesar, mais uma vez, sobre a cultura, mais precisamente sobre o entretenimento, e discotecas, eventos e festivais parecem ser os primeiros da lista.
 
Ou as vacinas demonstram que dão realmente uma proteção elevada para defender os vacinados (e salvaguardar o próprio sistema de saúde), ou seremos obrigados a montar uma operação “Gouveia de Melo, ato 2”. Ou, numa terceira hipótese, encerramos tudo de novo - ou seja: das duas, três!
 
A cultura já foi interditada por motivos políticos (tempos da União Soviética), por motivos religiosos (regime talibã) e agora por motivos sanitários (pandemia da COVID-19).
 
Pois bem, para DJs e produtores de música eletrónica qual é a perspetiva? Para muitos as economias já são escassas, os recursos e as ajudas deixaram de existir - que farão face a uma nova paragem? Terão muitos deles a obrigação de se reinventar ou de mudar de profissão e deixar de fazer o que os apaixona, ou bastará aguardar que se reponham ajudas e esperar que tudo reabra? Mas, na realidade, será que voltarão a ser recordados e amados como em 2019? Será que esta geração de artistas propulsionados pela internet e os seus algoritmos de interação possa tão depressa desaparecer para dar lugar a novas caras? Resumindo: aguardar, mudar de estilo ou, como terceira hipótese, mudar de atividade?
 
E para os profissionais do entretenimento, será que o verão de 2022 vai ser igual aos de 2020 e 2021? Se assim for, interrogo-me sobre o nosso futuro, porque além da questão financeira, fica a sensação de que esta passou a ser uma profissão sem futuro, onde tudo fica remetido a esparsas oportunidades de espetáculos à margem do essencial das nossas vidas. Seremos os empestados que só sobreviverão na marginalidade da lei sanitária em vigor. Das duas, três: esperar que tudo se mantenha como está, candidatar-se a esmola do Estado ou mudar de atividade.
 
É muito importante que os nossos dirigentes entendam que a cultura não pode ser MAIS UMA VEZ encerrada, colocando numa situação desastrosa milhares, milhões, de famílias pelo mundo e decretando o fim de uma atividade essencial para o bem-estar e equilíbrio das nossas sociedades.
 
José Manso
Publicado em José Manso
domingo, 01 julho 2012 23:23

União vs crítica?!

 
Em Portugal, infelizmente, a união não existe, deu lugar à crítica… Basta recuar uns dias e analisar o caso da nossa seleção que participou no EURO 2012. Como a primeira partida não correu da forma esperada, (quase) toda a gente a abandonou e a crítica massiva invadiu todas as redes sociais. Ao invés de a apoiarem incondicionalmente, acreditarem que seria possível fazer mais e melhor, e de alguma forma motivarem os nossos jogadores. O mesmo se passa no mundo dos DJs e Produtores nacionais, e é algo que me entristece...
 
Tudo bem que hoje em dia "toda" a gente quer ser DJ, e em cada 10 novos DJs, 8 fazem parte do leque de "estrelas" de TV ou vítimas de programas da mesma, e esses "desesperados" que começam a perceber que a vida não lhes corre bem então viram para o DJing. Mas ainda sobram 2, e esses 2, podem vir a ser grandes DJs e grandes produtores de música. Mas numa primeira fase, o que é que se julga? O estilo musical…
Hoje em dia há uma grande luta pelo que é considerado "boa" música  - mas a música é ao gosto de cada um e só e apenas cada um pode decidir o que é bom ou mau. Não podemos deixar que os outros decidam por nós! É igual a comprar um carro, vamos comprar um determinado modelo de carro só porque o vizinho gosta dele ou porque nós o queremos assim?
 
Se um DJ passa temas comerciais, já não presta, porque o que é bom é o desconhecido (até ser conhecido - depois passa a ser mau… porque é comercial). Independentemente do estilo preferido de cada um de nós, o que interessa na verdade, é o trabalho duro que cada um investe naquilo que considera ser o seu sonho, objetivo de vida e a forma como o exterioriza para com as pessoas que o vão ver atuar.
 
Continuo também sem perceber porque é que não podemos apoiar a nossa "dance scene" como um todo, como fazem "lá fora"? Porque é que é preciso criticar tudo e todos? Na verdade, criticar é tão mais fácil do que fazer melhor…
 

"Porque é que é preciso criticar tudo e todos? Na verdade, criticar é tão mais fácil do que fazer melhor..."

 
Se, por exemplo, os Holandeses e os Suecos tomaram de assalto a dance scene "mainstream" não foi por acaso! Eles são todos unidos e trabalham em conjunto para atingir um fim em comum - há espaço para toda a gente, eles sabem disso, e vão-se apoiando à medida que vão subindo, independentemente do estilo musical de cada um.
 
Em Portugal o mesmo não acontece porquê? Porque é que a primeira coisa que fazem é criticar destrutivamente e descredibilizar, baseado nas suas preferências musicais?
"Ora, se eu não gosto de David Guetta, porque é que vou apoiar um ‘gajo’ que toca David Guetta?"
 
Se hoje a EDM (Electronic Dance Music) está no estado que está (bom ou mau, depende do ponto de vista) é graças aos artistas "mainstream", mas estes não abriram portas única e exclusivamente para o resto da comunidade de artistas "mainstream", abriram portas para TODOS os artistas que dedicam a sua vida à música de dança - seja ela de que estilo for, porque hoje existem cada vez mais festas de música eletrónica, as rádios passam cada vez mais música eletrónica, existem muitas mais editoras, existe muito mais suporte que pode ser aproveitado - a EDM é algo GLOBAL!

Vá, vamos lá canalizar esta energia negativa e fazer com que o nosso país tenha, pelo menos, o mesmo sucesso no mundo da música (independemente do estilo musical) que tem no mundo do futebol!
 
Daniel Poças
FY2 - The Party Rockers
Publicado em Daniel Poças
domingo, 10 março 2019 19:50

O Mercado DJ em Portugal

Ao contrário do que muitos defendem, acredito que o mercado nacional de música ainda tem muito a ganhar com artistas DJ nacionais. Que Portugal é um País com bastante talento musical já todos sabemos, nomeadamente na música eletrónica. 

O que é que está a mudar? Noto que grande parte dos artistas DJ já faz uma coisa que era impensável pela maioria no passado: Adaptam o estilo de música ao espaço/publico onde irão atuar. Há uns anos era quase um "crime" dizer a um DJ para tocar os géneros X ou Y, porque o "artista" tinha um estilo musical próprio e não se iria adaptar e "trair" o seu género musical ou "estragar" a sua imagem, ao adaptar-se musicalmente. 

Felizmente o tempo veio mudar algumas mentes mais teimosas e fê-los perceber: O que um evento quer é manter o máximo de tempo possível os clientes a divertir-se e satisfeitos. A maioria dos DJs tem de entender: Há eventos específicos onde o seu género musical é "rei" e aí não faz nenhum sentido adaptar ou fugir à essência que o define como artista. O problema é que estes eventos não são, para já, a maioria, e os eventos de massas têm pessoas que gostam de géneros díspares, desde Funk ao Rock...

O que é que esta mudança está a causar? Já podemos ver muitos eventos "Festas Anuais da Região X" a contratar artistas DJ em detrimento das típicas bandas ou artistas de música popular. Reparem, o que os eventos querem é diminuir ao máximo os seus custos, aumentando a satisfação dos participantes. Um DJ cobra 25% do que qualquer banda/artista de música popular, e não tem uma comitiva composta por meia dúzia de pessoas, ou mais. Há 5 anos era quase impensável que as comissões de festas, compostas geralmente por várias pessoas com mais de 40 anos, procurassem contratar DJs e estar a par desse segmento de mercado. Hoje em dia a mentalidade mudou.

Na DO HITS Agency, felizmente, conseguimos antecipar esta tendência. Nos últimos anos criámos conceitos, projetos e aconselhámos artistas parceiros a seguir o caminho que achávamos mais correto. Temos neste momento vários projectos DJ, não só ideais para eventos com um público-alvo específico, mas também variado (Feiras, Festas Regionais, etc.). No final ganha o evento, ganham os artistas DJ e criam-se mais oportunidades para ainda mais artistas DJ singrarem no mercado nacional. 

E por favor não cometam um erro habitual: Não se preocupem com a opinião dos outros "colegas DJ" por adaptarem musicalmente e tocarem géneros trending. Interessa sim o feedback do público e de quem contrata. Lembrem-se, se ninguém vos ouvir, é impossível criarem seguidores ou uma marca. Um DJ pode, ou não, ter uma vertente de produção musical, mas é impossível ser considerado DJ se não atuar ao vivo. 

PS: Gostei muito de assistir a Karetus a passar a música do Toy, ainda no início do verão. Quando há qualidade, até musicas "da moda" se sabe utilizar e adaptar ao seu público-alvo.
 
João Casaleiro
CEO Agência DO HITS
Publicado em João Casaleiro
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